Produção deve começar em 2011, assim que a Anvisa, que já analisa outros pedidos, der o sinal verde
A Coca-Cola Brasilreviu seus planos na área de reciclagem de PET. A empresa pretende assinar um contrato com uma fabricante de resina reciclada no início de 2011 e planeja, até 2014, ter 25% de material reciclado em toda resina utilizada nas embalagens PET de seus produtos no país.
No início deste ano, a Coca-Cola havia anunciado que, já em 2010, colocaria no mercado brasileiro as garrafas de PET reciclado. Mas, segundo informou a empresa, o cronograma teve que ser alterado, pois ainda depende da aprovação da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). "Acreditamos que no início do ano que vem, já teremos o registro", afirmou o diretor de meio ambiente da Coca-Cola Brasil, José Mauro de Moraes.
Até 2008, as leis que vigoravam no Brasil impediam a utilização de materiais reciclados em embalagens alimentícias. Hoje, a Anvisa estabelece metodologias de avaliação dos processos, estabelecimentos e produtos para o setor, podendo habilitar a produção.
Enquanto não havia essa aprovação, a Coca-Cola decidiu lançar, em março, as garrafas produzidas com 30% de matéria-prima proveniente do etanol, as chamadas "plant bottles", anteriormente planejadas para saírem depois das recicladas.
Moraes diz que, para colocar as embalagens com PET reciclado no mercado, agora falta a Anvisa aprovar a garrafa em seu formato final, pois o fornecedor de resina já foi aprovado pelo órgão. Hoje, a única fábrica do país que produz o insumo habilitado para ser utilizado em contato com alimentos e bebidas é a CPR Embalagens, localizada no município de Duque de Caxias (RJ), e a Coca-Cola estima que, no primeiro trimestre do ano que vem, consiga assinar um contrato com a fabricante.
"O PET reciclado, por se tratar de nova tecnologia para a fabricação de embalagens em contato com alimentos, tem obrigatoriedade de registro junto à Anvisa previamente à sua comercialização e sua análise demora um pouco mais que as demais. O processo da Coca-Cola encontra-se em análise técnica", afirmou a agência. Os processos, segundo a Anvisa, são analisados por ordem de protocolo. O órgão não fornece detalhes sobre a evolução das análises.
Para trabalhar com insumos reciclados para suas embalagens, no México, o grupo Coca-Cola optou pela construção de uma fábrica de reciclagem. O investimento, realizado em conjunto com parceiros, tem uma capacidade de 2 mil toneladas de garrafas processadas por mês. Quando questionado se esse modelo de desenvolvimento pode ser importado para o Brasil, o executivo afirma que não vê essa necessidade.
"Não está nos planos construir uma fábrica [de reciclagem] aqui. Para a Coca Cola, é interessante utilizar o parque [industrial] brasileiro. O Brasil já tem esse mercado, não é como no México. O setor de reciclagem aqui é grande e maduro", afirmou Moraes. Há que se ponderar, no entanto, que o segmento habilitado para a área de alimentos ainda é muito pequeno no país.
Somente agora o mercado de produção de resinas PET voltada para embalagens alimentícias começou a atrair investimentos no Brasil. Além da CPR (que não quis comentar sobre suas operações), a Unnafibrasanunciou no início do mês que vai aplicar R$ 20 milhões em uma fábrica desse tipo. Agora, os planos da empresa devem passar pela aprovação da Anvisa.
Do mesmo modo, o consumo do lado da indústria também precisa ganhar força. A utilização de PET reciclada nas embalagens para produtos alimentícios ainda é rara no Brasil. A PepsiCo - fabricante da Pepsi -, tem ações para estimular a reciclagem de PET, mas não usa a garrafa reciclada. "Isso é novo na indústria inteira. Estamos estudando várias ações", afirmou a gerente de sustentabilidade da PepsiCo Brasil, Cláudia Pires, sem comentar as estratégias futuras. Hoje, uma de suas iniciativas é a utilização de displays (espécie de estantes), feitos a partir de PET reciclado, para expor os salgadinhos da marca.
Na mesma linha, a Ambev, apesar de ter projetos voltados para o reaproveitamento de resíduos sólidos e redução do consumo de PET, também ainda não usa PET reciclado em contato com suas bebidas. Um sinal de que esse cenário pode estar mudando na indústria de alimentos é a afirmação da Anvisa de que, além da Coca-Cola, há outras empresas que pediram aprovação para usar PET reciclado em embalagens alimentícias. O órgão, no entanto, não pode dar detalhes por questões de sigilo.
O setor no Brasil enfrenta ainda o problema da fraca coleta seletiva, com apenas 7% das cidades no país apresentando esse sistema, segundo a Abipet. As quase 400 empresas recicladoras de PET recebem os insumos dos catadores, cooperativas e organizações não-governamentais (ONGs), em um mercado que, apesar ter começado a caminhar para a formalização, ainda apresenta forte presença da informalidade.
No México, falta matéria-prima para fábrica continuar produzindo
Em meio ao cheiro azedo dos produtos químicos, centenas de fardos quadrados formados por garrafas PET prensadas se acumulam no fundo do terreno da fábrica de reciclagem Industria Mexicana de Reciclaje (Imer), na cidade de Toluca, no México.
A fábrica, desde 2005 instalada nos arredores da Cidade do México, custou US$ 25 milhões à Coca-Cola México, à Coca-Cola Femsa (engarrafadora da Coca-Cola) e à Alpla, fornecedora de garrafas PET.
Juntas, as três empresas decidiram construir uma fábrica com capacidade produtiva de 25 mil toneladas ao ano. A ideia era atender a indústria alimentícia.
A produção no local é completamente voltada para o PET reciclado com qualidade de grau alimentício, o que significa que atende às exigências dos órgãos reguladores para ser utilizado em contato com bebidas ou alimentos. Desse modo, os fardos de PET usada se transformam em flocos reciclados - matéria prima utilizada para a fabricação de moldes de garrafa PET.
Esses flocos saem da fábrica em Toluca e seguem para as empresas parceiras da Coca-Cola, que produzirão as garrafas cuja estrutura pode apresentar cerca de 35% de material reciclado.
Toda essa tecnologia é positiva, mas enfrenta uma grande dificuldade: conseguir insumos para a reciclagem. Ou seja, não é fácil encontrar garrafas PET usadas. "Um dos maiores desafios da Imer é a falta de fornecimento constante de matéria-prima. Temos que investir muitos recursos e esforços para que a fábrica não pare por esse motivo", afirma o gerente de operações da fábrica, Juan Manuel Jiménez Román.
Segundo o executivo, as dificuldades encontradas estão concentradas no sistema de coleta de PET do país. No México, o sistema coletor é baseado no mercado informal e há a ausência de uma cultura de seleção e separação de resíduos sólidos.
Em Toluca, são processadas de 1,3 mil a 1,8 mil toneladas de garrafas por mês, sendo que a capacidade mensal da fábrica é de 2 mil toneladas mensais. "Continuamos a nos esforçar para conseguir a quantidade suficiente de insumos para operar em plena capacidade", diz Román, enfatizando que já aconteceu de a fábrica parar por falta de garrafas para reciclar.
O mercado de reciclagem de PET no México é ainda pequeno. Segundo os últimos dados da Associação Brasileira da Indústria do PET (Abipet), enquanto no Japão se realiza a coleta de mais de 77% (dados de 2008) de toda a garrafa PET lançada ao meio ambiente, no México esse percentual ficou em 18% em 2009. No Brasil, um dos líderes na área, mais de 55% das garrafas PET são recicladas, enquanto na Europa, essa participação fica em 48% e na Argentina, 34% (dados de 2008).
Veículo: Valor Econômico