Para cumprir a nova legislação, as indústrias de lâmpadas investirão na montagem de um sistema de coleta e reciclagem, centralizado por uma instituição gerenciadora. O modelo foi protocolado no Ministério do Meio Ambiente e apresentado como proposta de acordo setorial. "O objetivo é dar destino final ambientalmente adequado, iniciando a logística reversa desde o recebimento das lâmpadas após o fim da vida útil até o envio para reaproveitamento dos materiais descontaminados em outros ciclos produtivos", explica Isac Roizenblatt, diretor técnico da Associação Brasileira da Indústria de Iluminação (Abilux).
Estima-se que no país sejam consumidas por ano 200 milhões de lâmpadas contendo mercúrio, parte importada pela GE, Philips, Osram e Silvania, associadas da Abilux. O produto é também vendido no mercado interno por importadoras de menor porte, também alvo do acordo setorial exigido pela legislação para a reciclagem após o uso. Atualmente, quase a totalidade das lâmpadas fora de uso é descartada em aterros sem tratamento prévio, contaminando solo e água com metais pesados. Apenas 8% dos municípios brasileiros possuem áreas com licença para depósito de lixo tóxico, incluindo lâmpadas, segundo dados da empresa Tramppo, de São Paulo, que desenvolveu tecnologia para o reaproveitamento do resíduo.
"Para definir o modelo da logística reversa, os fabricantes recorreram a uma consultoria internacional especializada, que obteve sucesso nos sistemas para recuperação de lâmpadas na região da Comunidade Europeia", afirma Roizenblatt. Igual trabalho está sendo desenvolvido em países como China, Rússia, África do Sul, Turquia, Malásia e México.
O plano brasileiro considera a criação de uma gestora de resíduos, sem fins lucrativos e independente, responsável pelo processo de conexão com 8 mil pontos de coleta e transbordo e com os transportadores e empresas recicladoras contratadas. A matéria-prima reciclada extraída das lâmpadas (plásticos, metais, vidros) será negociada com indústrias de diferentes segmentos, como de cerâmica e alumínio. A central gerenciadora cuidará da comunicação e dos relatórios com informações a serem entregues ao poder público, conforme a lei.
Não há previsão sobre o investimento necessário para a instalação do sistema, mantido com recursos dos fabricantes inicialmente em cidades com mais de um milhão de habitantes. O esquema funcionará nos moldes da logística empregada há alguns anos para a coleta e reciclagem de embalagens de agrotóxicos no país. "A operação precisará ser economicamente sustentável", afirma Isac Roizenblatt, diretor técnico da Abilux.
"Os pontos de coleta terão contêineres e caixas para a recepção do material, com localização que considera distâncias máximas e densidade populacional a partir de uma equação capaz de equilibrar custos operacionais e facilidade para os consumidores", diz o executivo. O plano é expandir a coleta até cobrir, após cinco anos, todo o território nacional, mas. O sucesso "dependerá de todos os atores, desde o varejo até o consumidor e os órgãos públicos", afirma. (S.A.)
Veículo: Valor Econômico