O comércio será impactado de duas maneiras diferentes quando o Plano Nacional de Resíduos Sólidos entrar em vigor no País. O primeiro ponto é a definição sobre como a logística reversa será empregada de forma efetiva dentro dos grandes varejistas, redes que terão de prover soluções para arrecadar embalagens e produtos descartados depois de usados e dar a destinação correta aos mesmos. O segundo ponto é elaborar políticas efetivas de conscientização da população e dos consumidores quanto à necessidade do reúso desses itens, que poderão ser transformados em novos produtos e, assim, poupar recursos naturais.
Essas são algumas das questões em debate nos seis segmentos prioritários do PNRS. Discussões essas que resultarão em acordos setoriais envolvendo indústria, comércio, consumidores e os governos federal, estaduais e municipais, conta José Goldemberg, presidente do Conselho de Sustentabilidade da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (Fecomercio-SP).
A entidade participa dos grupos setoriais que nesta fase do PNRS constroem as bases dos acordos que serão seguidos pelas empresas. É neste momento que estão sendo pensadas as medidas para adequação das empresas à nova legislação. Entre as preocupações do varejo é a contribuição da população, sem o que será difícil implementar o plano. Além do mais, itens como pilhas, lâmpadas e baterias de celular, se não destinados corretamente, representam perigo de danos ao meio ambiente.
Mas, do mesmo jeito que prejudicam o meio ambiente, as baterias de celulares velhos são rentáveis aos que vão empreender no segmento de reciclagem, afirma o especialista da entidade em entrevista ao DCI. "Celular é vendido como água no País e o que muitos não sabem é que os chips existentes nas baterias contém ouro em sua composição", diz Goldemberg. Segundo ele, players que vendem celular foram os primeiros a se organizar para não sofrer quando o Plano de Resíduos Sólidos for uma realidade no Brasil.
As redes varejistas que vendem produtos de linha branca -como geladeiras, fogões, máquinas de lavar roupa e demais itens- serão as mais afetadas, pois terão que investir alto na logística para a retirada do produto ou até mesmo na criação de pontos de coleta. "Enquanto o varejo se prepara para se adequar, algo que será gradativo, com certeza as redes terão taxas embutidas em seus produtos para suprir os gastos com a demanda da logística reversa", diz.
O consumidor final será afetado, seja qual for a compra que ele efetue, pois, além de ter que ajudar no retorno desses itens, os produtos chegarão às prateleiras com preços mais altos que os atuais, prevê Goldemberg. "As empresas não vão conseguir evitar o repasse ao consumidor", explica o especialista. Ele ressalva: "Nossa experiência com logística reversa ainda é muito pequena, temos que ter cautela com esse assunto".
O presidente da Fecomercio, quando questionado sobre as redes varejistas do setor de supermercados, disse que há muito tempo empresas desse setor já promovem ações, mas elas ainda são pequenas; ao longo de dois anos devem ser mais efetivas. "Não adianta vir com obrigações, as redes têm que se preparar melhor. Acredito que em dois anos será possível perceber uma melhora, mas ainda levará muito tempo para que todos consigam se adequar a essa nova realidade." Ele acrescenta: "Se não houver cautela, todos serão pegos de surpresa", finaliza.
Veículo: DCI