De olho na lei da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS, lei 3.205, de 2010), os mais variados setores do comércio iniciam a corrida para lidar com o aumento da demanda da logística reversa prevista para os próximos anos. Para sair na frente, empresas como as de telefonia Oi e TIM, e a supermercadista Cooperativa de Consumo (Coop), além de gigantes do varejo como o Carrefour e o Pão de Açúcar (GPA) já iniciaram ações que, até 2015, deverão ser norma em todo território brasileiro.
Segundo João Sanzovo, diretor de Sustentabilidade da Associação Paulista de Supermercados (Apas), o primeiro passo já consolidado nas redes de supermercados no País foi acabar com o uso de sacolas plásticas no setor. "A maior movimentação foi a conscientização dos consumidores para deixar de utilizar sacolas de plástico e promover a cultura do descarte correto", diz o especialista. Segundo ele, o Brasil está 20 anos atrasado quando o assunto é a inserção, no comércio, da logística reversa - o retorno de embalagens e produtos descartados à origem, ou seja, à indústria. "A proposta ficou mais de dez anos no Congresso Nacional, estamos muito atrás em relação a outros países", completa.
Para que o Plano Nacional de Resíduos Sólidos seja eficaz, de acordo com Sanzovo, será necessária uma ação coletiva de todas as cadeias produtivas. "Todas as cadeias produtivas do País deverão trabalhar em conjunto para dar a destinação correta a todos os resíduos, desde a produção no campo até o comércio, passando pela indústria", enfatiza. A operacionalização da logística reversa está sendo discutida nos seis segmentos por onde o PNRS vai começar: indústria, comércio e consumidores de eletroeletrônicos, pilhas e baterias, lâmpadas, embalagens, óleos lubrificantes e pneus para definir a responsabilidade de cada um na destinação correta dos resíduos.
Supermercados
Ainda sem planos específicos para lidar com o setor, a Coop já trabalha em um esquema de logística reversa. De acordo com a diretora de Marketing da cooperativa, Claudia Montini, o grupo já vem trabalhando em associação de outras organizações para recolher materiais descartados pelos consumidores. "Atualmente, todas as nossas estações têm parcerias com as cooperativas da região. Além disso, temos parceria com o Instituto Triângulo para coleta de óleo de cozinha", diz.
Montini explica ainda que as ações ficaram mais reforçadas há três anos. "Temos a iniciativa de coleta seletiva com mais força desde 2009, com a ampliação do número de estações de reciclagem disponibilizadas em nossas unidades. As estações estão instaladas nas dependências da Coop com a finalidade de receber material reciclável de cooperados, colaboradores e toda a comunidade", finaliza.
Dentro do ramo do comércio de eletrônicos, a operadora de telefonia Oi já se organiza para lidar com o assunto. De acordo com Alvimar Camacam, gerente de Governança e Sustentabilidade da Oi, a empresa já está em discussão com outras operadoras do setor. "Em relação à Resolução SMA - 11, de 9 de fevereiro de 2012, a Oi informa que, em conjunto com as demais operadoras do SMP [Sistema Móvel Pessoal], está trabalhando em uma proposta setorial que visa a atender a resolução da Secretaria de Meio Ambiente de São Paulo", explica.
E enquanto a decisão conjunta não sai, a empresa também corre por fora e oferece ao consumidor opções para lidar com o descarte de materiais eletrônicos. "A empresa conta hoje com uma série de pontos de coleta de baterias e aparelhos celulares. A coleta é feita em parceria com empresa de logística reversa especializada que encaminha o material recolhido às recicladoras homologadas pelos órgãos ambientais, uma vez que a Resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) determina que as revendas se responsabilizem pelos pontos de coleta, e os fabricantes, pelo descarte ambientalmente correto dos equipamentos", diz.
A TIM também se posicionou positivamente. De acordo com a nota oficial da empresa, o grupo já faz ações de coleta de pilhas, baterias e celulares antigos através do programa "Recarregue o Planeta" e do "Papa Pilhas". "Atualmente, a empresa disponibiliza, em suas lojas e prédios administrativos, urnas especiais para o recolhimento de baterias, aparelhos celulares, cabos USB, carregadores e pilhas."
Conforme números da operadora, em 2011 esses programas recolheram 16,49 toneladas de lixo eletrônico. "Esse material é decomposto e transformado em matérias-primas para outros processos produtivos ou usado para gerar energia para o processo de decomposição", afirma.
Para a professora e pesquisadora de Desenvolvimento Sustentável da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Janaína Montes Claros, o setor de telefonia pode ser o mais rentável. "As operadoras de celulares perceberam que este filão do negócio pode ser muito rentável, por isso essa movimentação maior", disse ela.
Veículo: DCI