O maior evento mundial da Oracle, o Oracle Open World, realizado anualmente em São Francisco (EUA), acontece a despeito da crise financeira que se abate sobre os Estados Unidos. A empresa de US$ 22,4 bilhões ao ano, criada em 1977 e que emprega 84 mil pessoas, está há cinco anos consecutivos garantindo 25% de lucro por ação em bolsa e bateu nos 28% no último trimestre, resultado divulgado semana passada, em paralelo aos 46% de margem operacional.
Otimista, o presidente mundial da empresa Charles Phillips, iniciou o evento anunciando o lançamento de uma nova família de softwares voltada à colaboração empresarial "construída do zero", capaz, segundo ele, de curar o mundo corporativo da "doença da fragmentação". Batizada de Beehive, ou Colméia em português, esse servidor colaborativo integra e-mail, correio de voz, mensagens instantâneas, salas de bate-papos (muito usadas nas empresas por técnicos que trabalham em projetos comuns, mas operam a partir de locais diferentes), conferências, calendários, blogs, tags, portais e murais eletrônicos, compartilhamento de documento e outros instrumentos de edição e divulgação de conteúdo. Seu objetivo é facilitar a comunicação com segurança nas empresas e acrescentar instrumentos de colaboração eletrônica aos processos de negócios.
O produto, a exemplo de toda a linha de produtos Oracle, é aberto e adota uma arquitetura baseada em padrões do mercado, o que permite sua integração com outras soluções da concorrência. Entre as vantagens alegadas pela Oracle está o fato de a Colméia permitir às empresas auditar toda a comunicação feita internamente por meio eletrônico, facilitando aplicação das novas regras de governança corporativa ao dia-a-dia empresarial. O preço da licença chega nos Estados Unidos a US$ 120 por usuário e o produto também pode ser adquirido na forma de serviço sob demanda, ou alugado a partir de um data center da Oracle e administrado remotamente, livrando o usuário das dores de cabeça de instalação e manutenção do software em casa.
Em sua apresentação, Phillips referiu-se a uma carteira de 3 mil produtos oferecidos pela Oracle ao mercado, após a temporada de 50 aquisições em 44 meses. E os 20 mil desenvolvedores que desenham soluções em seus laboratórios, consumindo orçamento de US$ 3 bilhões anuais. "Com esse orçamento de pesquisa e desenvolvimento, não há mais espaço para empresas que não sejam globais competirem na nossa arena", avalia Luiz Meisler, vice-presidente da empresa para o mercado da América Latina.
Segundo o executivo brasileiro, as aquisições foram responsáveis por transformar a estrutura de receitas da Oracle, reduzindo de 70% para 40% de participação das soluções advindas de bancos de dados. Os demais 60% são hoje formados por receitas de aplicativos de negócio e de produtos de middleware – uma camada intermediária de programação que permite costurar vários aplicativos, de forma que operem integrados, ainda que usem originalmente plataformas diferentes, com segurança. "Com o Beehive seremos líderes pois os custos serão reduzidos drasticamente", diz Meisler, referindo-se ao fato de uma empresa gastar de 15% a 20% do seu orçamento comprando aplicações e até 80% para costurá-las entre si, de forma que trabalhem harmoniosamente.
Indagado sobre o rápido crescimento da SAP no mercado brasileiro, de 47% só no semestre passado, Meisler afirmou que os números do principal concorrente em aplicativos de negócios não metem medo: "os nossos são muito melhores", afirmou sem no entanto revelá-los. "Há três anos, no segmento de aplicativos de negócios, a SAP era cinco vezes maior que a Oracle globalmente. Hoje, nosso faturamento no segmento é apenas 30% menor do que o deles. No mercado norte-americano, por exemplo, já os passamos". De acordo com Meisler, a Oracle ultrapassará a SAP neste ano fiscal (que encerra em maio de 2009) ou, no mais tardar, em maio de 2010. "Estamos vendo o carro deles ali na frente e o pegaremos na terceira curva", brincou.
O segredo do bom desempenho, afirmou, está na tecnologia da Oracle que permite soluções abertas, completas (pois abrangem também banco de dados e middleware) e integradas. De acordo com o gestor dos negócios Oracle na América Latina, o Brasil é o mercado mais importante na região, com 45% de participação nas receitas, seguido por México, Colômbia e Argentina.
Quanto aos impactos da crise financeira na região, Meisler os imagina inicialmente limitados ao setor financeiro internacional com negócios nesses países, a exemplo do México. "Mas isso não deve se estender aos países nos quais há uma forte presença do setor financeiro de capital nacional, como é o caso do Brasil".
O executivo prevê que a Oracle terá bons resultados na região. "Nossos produtos são uma oportunidade para cortar custos e ganhar maior eficiência", disse. O executivo conta que a América Latina tem sido nos últimos anos a primeira ou a segunda região mundial em crescimento de receitas das vendas Oracle, disputando com a América do Norte; o bloco formado por Europa, Oriente Médio e África; e o bloco do Japão e Ásia do Pacífico. "Isso se deve, principalmente, à estabilidade econômica recentemente conquistada", argumenta. Segundo ele, os mercados mais promissores hoje na região são a agroindústria no Brasil; o mercado financeiro, no Chile; e o setor de manufatura, no México.
A estratégia regional tem sido a de contar com uma rede de parceiros de serviços para vender e implementar soluções. Hoje, os cerca de 1,3 mil prestadores de serviços respondem por 50% do faturamento da Oracle na região. Em paralelo, a empresa ainda oferece soluções verticalizadas, especializadas por setores da economia. Entre as quais, aplicativos para o setor financeiro, varejista, engenharia e construção civil. No Brasil, entre os clientes que já adquiriram esses aplicativos de negócios estão o Pão de Açúcar e a Odebrecht.
Veículo: Gazeta Mercantil