O avanço da tecnologia digital na sociedade impõe novos desafios ao mercado da comunicação. Entre os principais deles estão a conquista dos consumidores do futuro e a formação de um modelo de negócios que permita ampliar receitas. A questão estratégica para os jornais, por exemplo, é reforçar e destacar aqueles que são seus principais ativos: a confiabilidade e a credibilidade, afirma à Gazeta Mercantil o americano David Sanderson, um dos sócios e principal executivo da área de mídia e entretenimento da Bain & Company, consultoria internacional que atua, entre outros setores, na área de comunicação. "Com tantas informações disponíveis na internet, o usuário vai eleger quais serão suas fontes", diz. Sanderson possui experiência na análise de negócios relacionados a conteúdo (filmes, TV, videogames) e plataformas de distribuição de mídias.
Gazeta Mercantil - Como o senhor analisa o processo de digitalização das mídias convencionais?
Muito se fala a respeito das mídias digitais e das diferenças em relação às mídias tradicionais. Mas na prática não existe diferença, pois grande parte da mídia tradicional já é digitalizada. O que acontece é que as diversas plataformas de mídia existentes no mercado estão em diferentes estágios de digitalização. O jornal, por exemplo. Pode até parecer estranho falar assim, mas o jornal já se mostra bem adiantado e adaptado ao novo contexto.
Gazeta Mercantil - De que forma?
A internet é um meio eficaz para o público obter informação em tempo real. Percebendo essa transformação, os jornais mais do que depressa passaram a deixar seu conteúdo disponível na internet, inicialmente de forma fechada. Mas o mercado mudou, e os jornais passaram a abrir o conteúdo na rede para cativar os usuários.
Gazeta Mercantil - Como fica a captação de receita pelos jornais?
No caso da internet, a resposta é simples:.pela publicidade. Não adianta o jornal querer cobrar pelo conteúdo. Hoje, o usuário possui inúmeras ferramentas para chegar à informação.
Gazeta Mercantil - A verba obtida com publicidade será suficiente?
Aí é que está a transformação no modelo do negócio. A questão estratégica é impulsionar os principais ativos de um jornal: confiabilidade e credibilidade. Com tantas informações disponíveis na internet, o usuário vai eleger quais serão suas fontes. Os jornais devem trabalhar para se fixarem como a fonte para esses usuários.
Gazeta Mercantil - Mas essa já é uma premissa hoje. Qual a diferença?
Sim, já é, mas de forma ainda pouco explorada.
Gazeta Mercantil - Os jornais vão acabar?
Não. Sempre existirão leitores. Além disso, os países em desenvolvimento, como o Brasil, dão um novo período de impulso aos jornais.
Gazeta Mercantil - Qual o lugar da TV em meio a todas essas transformações?
Acredito que a TV, depois dos jornais, seja o meio mais impactado pela digitalização, embora sua transformação seja mais lenta. Isso porque o conteúdo da TV é muito pesado, o que implica em uma barreira tecnológica para a distribuição de vídeos pela internet. Hoje, se 2% da população dos Estados Unidos estivessem assistindo à TV via internet, a capacidade da rede se esgotaria e seria um colapso. Além disso, a legislação, no que diz respeito a direitos autorais, não está clara.
Gazeta Mercantil - O que muda na TV?
Além da barreira tecnológica, há uma segunda barreira para a digitalização da TV: esse meio se adaptou mais rapidamente às necessidades do consumidor, oferecendo mais canais, conveniência e também qualidade de imagem com a TV digital. Por esses motivos ela continua muito atrativa para os consumidores. As projeções feitas pelos estudos mostram que as pessoas vão assistir ainda mais TV. E, atualmente, a forma mais eficiente de distribuir um conteúdo via vídeo é a TV.
Gazeta Mercantil - Qual sua avaliação sobre a TV digital?
A TV digital oferece alta qualidade de imagem e mais conteúdo, mas muito do que foi prometido ficou na teoria. Na prática ainda não se percebe a interatividade e a portabilidade prometidas.
Gazeta Mercantil - Inclusive nos EUA, onde a TV digital está presente há mais tempo que no Brasil?
Sim. Nos EUA o que se utiliza da TV digital é a previsão do tempo, condições do trânsito. Toda essa interatividade possui um custo. Até quanto o consumidor está disposto a pagar para ter a interatividade na TV?
Gazeta Mercantil - O rádio será muito afetado pela digitalização?
O rádio não foi impactado pela digitalização. Isso se deve ao fato de ele não ser muito valorizado, o que é uma pena, pois tem um papel fundamental regionalmente. Nos EUA há as rádios via satélite, que ainda não existem no Brasil.
Gazeta Mercantil - Como funciona esse sistema?
É igual à TV paga. O assinante escolhe o pacote. Há de tudo e para todos os gostos. O assinante consegue sintonizar a emissora em qualquer lugar do país, sempre pelo mesmo número no dial. Como atualmente as pessoas passam muito tempo no trânsito nas grandes metrópoles, trata-se de uma boa oportunidade para as empresas anunciantes atingirem em cheio seu público-alvo.
Veículo: Gazeta Mercantil