Quando se pensa no uso da tecnologia, as imagens que vêm à mente geralmente estão associadas a mercados maduros, como os Estados Unidos, a Europa e o Japão. Dificilmente alguém se lembraria da América Latina. Um cenário traçado pela consultoria Gartner mostra, no entanto, que em relação ao uso da tecnologia da informação (TI) nos negócios, as empresas da região não só têm acelerado seus investimentos, como estão fazendo um uso mais racional dos recursos tecnológicos.
Neste ano, enquanto os orçamentos de TI das empresas têm aumento projetado de 3,3%, na América Latina a previsão é de que os gastos aumentarão 5,37%. No Brasil, o número é ainda maior: 11,05%, bem acima do de outras grandes economias regionais, como o México, onde os investimentos vão crescer 4,41%, de acordo com as estimativas.
"De maneira geral, a América Latina está investindo mais em TI do que o resto do mundo", diz Donald Feinberg, vice-presidente de pesquisa do Gartner e principal organizador da XII Conferência sobre o Futuro da Tecnologia, que será promovida dos dias 16 a 18, em São Paulo.
No Brasil, uma série de fatores - com forte influência do câmbio - tem ajudado a impulsionar os investimentos em TI. "As companhias brasileiras estão procurando oportunidades de fusões e aquisições, enquanto lá fora isso não acontece na mesma proporção porque não há dinheiro disponível", diz Feinberg. À medida que a consolidação prossegue e as empresas ficam maiores, cresce a necessidade de melhorar a infra-estrutura tecnológica, com efeito direto nas compras de TI. O processo de internacionalização, que se intensificou entre os grupos brasileiros, tem sido outro fator preponderante, afirma o analista do Gartner.
Mas é o só o volume de dinheiro que chama a atenção. As empresas latino-americanas também têm demonstrado uma maneira particular de empregar a tecnologia da informação. A lista de prioridades dos diretores de TI não varia muito em relação ao que se vê no resto do mundo, mas esses profissionais vêm se mostrando mais cuidadosos em relação ao tempo certo para adotar as inovações. "A América Latina tem adotado tecnologias mais maduras para cortar custos e tornar os negócios mais flexíveis", afirma Feinberg.
A virtualização, por exemplo, que permite a criação de computadores virtuais dentro de máquinas reais, tornou-se uma espécie de vedete e aparece em terceiro lugar na relação de prioridades dos diretores de TI em âmbito global. Na América Latina, ela só ocupa o oitavo lugar. A razão? A tecnologia ainda está em fase inicial e os executivos latino-americanos, ao que parece, preferem esperar um pouco mais antes de aplicá-la em massa.
Já as ferramentas de colaboração - que facilitam o trabalho em grupo e, por isso, têm sido muito valorizadas pelos especialistas -, ocupam o número cinco na lista latino-americana, à frente do oitavo lugar na relação global. "Isso é surpreendente", diz Feinberg. "Não acredito que o resto do mundo já tenha feito os investimentos na área e, por isso, não esteja mais preocupado. Eles não fizeram [o trabalho]."
No primeiro lugar, em ambas as listas, aparece a categoria do software analítico, que ajuda as empresas a tomarem decisões com base na análise de seus bancos de dados.
No Brasil, os setores que tradicionalmente mais investem em TI continuam a puxar o movimento. As companhias brasileiras do setor financeiro estão à frente no cenário mundial e as operadoras de telecomunicações também têm mantido um ritmo forte, parecido com o de suas similares no exterior. Em manufatura, o país aparece atrás em relação à média global, embora existam exceções como a Embraer, observa Feinberg. Um setor que tem feito uso cada vez mais intenso dos recursos tecnológicos no Brasil é o das companhias de varejo. As redes varejistas, em particular as que estão voltadas para o público de menor poder aquisitivo, sabem que tem de ser hábeis para reduzir os custos e aumentar a rentabilidade, afirma o especialista do Gartner.
Veículo: Valor Econômico