Dentre as bandeiras que se integraram recentemente às grandes redes de credenciamento, Redecard e Cielo, o que há em comum é que são marcas estabelecidas entre as classes menos favorecidas da população, segmento que a nova bandeira elo, do Bradesco com o Banco do Brasil, promete disputar. É o mesmo nicho trabalhado pela já grande Hipercard, do Itaú Unibanco.
Como trunfo para competir com gigantes, as marcas regionais apresentam uma política mais flexível de aprovação de crédito e de parcerias com os estabelecimentos comerciais no desenho de cartões "private label" (com a marca do lojista) ou de cartões benefício.
Coincidentemente, no 1º de julho, data que marcou a abertura oficial do mercado de cartões, a Sorocred ganhou aval do Banco Central (BC) para transformar a administradora de cartões numa financeira. Com uma prateleira mais completa, vai poder agregar à oferta de "private label" e plásticos embandeirados linhas como o crédito consignado e o financiamento de veículos. O intuito é continuar chegando ao contingente não bancarizado, os estratos das classes "C-" e "D" da população, em que se especializou nos seus 30 anos de atuação. A ideia é, primeiro, incrementar a operação nos Estados onde já tem alguma presença, como Paraná, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Rio de Janeiro e Minas Gerais, além do Distrito Federal.
A emissão, tal como é feita hoje, caberá aos lojistas parceiros e, na abordagem, não há exigência de renda mínima. Muitas vezes, os ganhos mensais, sobretudo de trabalhadores informais, se limitam a R$ 150, R$ 200, conta Nilton Ferreira da Silva, presidente da Sorocred. "Os bancos até dividem parte da classe C conosco, mas entram com um 'score' (pontuação de risco de crédito) mais travado." Conforme exemplifica, enquanto algumas instituições aprovam cerca de 30% das propostas, a Sorocred tem um índice entre 40% e 70%, dependendo da região.
A paranaense Coopercred pretende costurar parcerias com associações comerciais, sindicatos e empresas para apresentar não só o "private label", como também os cartões de refeição, alimentação e multibenefícios, conta o diretor Pedro Pereira. Para tanto, está reestruturando a área comercial, agregando mais 30 profissionais ao quadro atual de 90 pessoas, para avançar em cidades do Sul, Sudeste e Centro-Oeste. "Existem praças jamais procuradas pelas grandes bandeiras e nós temos flexibilidade de taxas, vamos entrar com produtos mais baratos." Conforme exemplifica, numa parceria recentemente fechada em Pato Branco, a comissão do "voucher" alimentação será metade da cobrada por outras bandeiras, que mordem uma fatia de 6% a 7% por transação.
Antes de fechar com a Redecard, a Coopercred chegou a procurar Cielo e GetNet, mas as conversações não evoluíram. A primeira não teria se interessado pelo porte da bandeira, mantendo o foco estratégico nos grandes negócios, enquanto a GetNet estava às voltas com o Santander para costurar a parceria no ramo de adquirência. Segundo Pereira, a lógica por trás do acordo com uma grande rede está nos custos. "Os investimentos para usar os nossos próprios equipamentos de captura são muito elevados e a negociação com o lojista também não é simples, ele não quer colocar mais um POS no balcão."
Agora quem bate às portas de Cielo e Redecard é o Banestes, com a Banescard. Criada há dois anos, a marca conta com uma base de cerca de 800 mil cartões, que acumulam a função débito e crédito e são aceitos em mais de 21,5 mil estabelecimentos. Mais do que ser uma bandeira nacional, a ideia é que a aceitação seja amplificada, conta o presidente do banco, Roberto Penedo. "Não temos a ambição de emitir em localidades onde não temos agência, mas queremos garantir o mercado dentro do Estado." O modelo que está propondo é manter a própria rede no Espírito Santo e usar o terceiro fora dali. No segundo semestre, a intenção é também começar a converter a base para cartões com chip e incluir um programa de fidelidade, iniciativas que podem ampliar a base ativa, hoje restrita a 300 mil plásticos.
Veículo: Valor Econômico