TV digital: Adesão da maioria dos países da região ao sistema japonês ISDB-T desperta atenção de empresários
Com a adesão de todos os países da América do Sul ao sistema japonês ISDB-T de televisão digital, à exceção da Colômbia e do Uruguai, empresários brasileiros já começam a buscar negócios na região. O objetivo é aproveitar que os mercados vizinhos ainda estão "verdes" e ocupar espaços antes da chegada de outros fornecedores. Uma missão empresarial visitou a Argentina, nesta semana, na primeira rodada de negócios organizada pelo governo brasileiro com potenciais parceiros e clientes.
"Foi uma aproximação para as pessoas se conhecerem", afirmou o embaixador do Brasil na Argentina, Ênio Cordeiro. O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) fez parte da missão e está disposto a financiar as exportações de serviços. "As parcerias também se fazem com apoio financeiro", completou Cordeiro.Uma das empresas é a Screen Service do Brasil, de capital italiano, que montou uma pequena fábrica em Pouso Alegre (MG). A empresa produz equipamentos de transmissão e já tem faturamento anual superior a R$ 35 milhões. Fornece a canais privados e públicos, como a TV Câmara e a TV Justiça. "Um dos nossos maiores clientes é a EBC (Empresa Brasileira de Comunicação)", comentou o diretor da Screen, Alberto Morello, referindo-se à ex-Radiobrás.
Em 2007, a companhia italiana escolheu o Brasil para ter sua única fábrica fora do país de origem. Esperava atender essencialmente ao mercado brasileiro e, com a escolha dos países vizinhos pelo padrão japonês, viu suas perspectivas de negócios aumentarem. "Isso prova que fizemos o investimento correto."
O diretor do departamento de tecnologias inovadoras do Ministério do Desenvolvimento, João Batista Lanari, ressaltou que o sistema ISDB-T já foi ou está sendo adotado em países que formam um mercado de "550 milhões de consumidores". Segundo ele, o governo brasileiro firmou acordos de cooperação industrial e tecnológica, na área de TV digital, com os demais países sul-americanos. "Estamos tentando materializar as expectativas de parcerias", disse Lanari, que buscará percorrer os mercados da região com missões brasileiras. "Queremos fazer pelo menos uma por trimestre, mas dependemos de recursos."
Um dos principais focos de promoção comercial são as empresas de software, como a Ei! TV, de Campinas (SP). Ela surgiu em 2005 e desenvolve aplicativos que facilitam ações de interatividade. "Tivemos um crescimento muito rápido e faturamos R$ 7 milhões no ano passado", afirmou o diretor comercial, Rodrigo Cascão Araújo. A empresa vendeu 500 mil licenças de software para a aplicação em "set top boxes", as caixinhas que convertem sinais analógicos em digitais, de fabricação argentina. Também já vendeu ao Peru e tem representante no Chile.
Por estar em plena implementação, a Argentina é o principal alvo imediato. O governo está distribuindo gratuitamente 1,2 milhão de conversores digitais para beneficiários de programas sociais e aposentados que recebem salário mínimo. A distribuição começou às vésperas da Copa do Mundo, que marcou o início das transmissões digitais pela TV pública. Analistas políticos e parlamentares da oposição acusam o governo de ter objetivos meramente eleitorais.
Empresários brasileiros avaliam, porém, que a Argentina ainda não tem fornecedores próprios. Para o presidente da HXD, Salustiano Fagundes, que desenvolve aplicações interativas baseadas no middleware [software que integra diferentes programas] brasileiro Ginga, incorporado ao sistema ISDB-T na América do Sul, as emissoras argentinos estão atrasadas em relação às brasileiras. "No Brasil, as emissoras já vinham trabalhando em conteúdo digital mesmo antes de 2007, quando começou a TV digital no país", disse Fagundes.
A TQTVD fornece software de interatividade para aparelhos de TV digital da LG e da Sony no Brasil. O gerente-sênior da empresa, Márcio Moreira, também buscava fechar parcerias nos mercados vizinhos. Recentemente, a empresa foi incorporada pelo grupo Totvs.
Veículo: Valor Econômico