A Ericsson optou por ir contra a tendência de terceirizar - ao menos parte da produção usual entre fabricantes de equipamentos das áreas eletro-eletrônica e de telecomunicações - e voltou aos tempos de montar praticamente tudo que vende na fábrica de São José dos Campos. A companhia está investindo US$ 5 milhões para dobrar sua produção.
"Estamos colocando desde os componentes nas placas, seguindo todo o processo, até a montagem total. Não é assemblagem (montagem), é produção. Realizamos um sonho", disse o presidente da companhia para Brasil e América Latina, Sergio Quiroga.
A estratégia se adequa ao perfil da companhia em âmbito mundial, que começou a ser implantado em abril, quando a matriz na Suécia dividiu o comando da companhia presente em 127 países por áreas geográficas. O Brasil passou a ser a sede da unidade latino-americana, e a fábrica, que existe desde 1955, tornou-se "prime delivery (o centro de produção) para o Brasil e nove países vizinhos", explicou Quiroga.
O executivo está otimista e diz que independentemente da ousadia asiática no seto, que oferece preços muito baixos, "todos os concorrentes são um desafio, nosso objetivo é ganhar participação de mercado aqui e no mundo."
O que vai impulsionar o mercado, segundo Quiroga, é o "crescimento explosivo" do setor aqui e no exterior, a partir de uma demanda acelerada de serviços de banda larga. Ele avalia que, no Brasil, o momento é favorável, com as operadoras telecomunicações passando por reestruturações que ampliam a capacidade de investimento, além das oportunidades que estão surgindo. É o caso da expectativa em torno da liberação de frequências de 2,5 gigahertz para abrigar a quarta geração da telefonia celular.
"Todas as empresas estão interessadas em participar desse mercado. Fala-se em oportunidades para o Brasil com a Olimpíada e a Copa do Mundo. O brasileiro é exigente e hoje já temos 190 milhões de acessos de telefonia celular. Nos próximos seis a oito meses teremos 200 milhões e o número de conexões vai se multiplicar por dez em dez anos", disse.
Quiroga coloca nessa conta as comunicações entre máquinas por meio da tecnologia celular, serviços variados como segurança, transportes, vendas, além dos sedutores ipods, ebooks e telefones inteligentes. "Hoje, são 5 bilhões de conexões no mundo, trabalhamos com a expectativa de que em 2020 serão 50 bilhões", afirma.
Quiroga embarcou ontem para Londres, onde participará amanhã de seminário sobre países emergentes, promovido pela revista "The Economist". O Brasil será um dos destaques no evento. O executivo brasileiro falará sobre as perspectivas para a área de telecomunicações. O que pretende mostrar é que a partir da explosão de demanda de banda larga, o setor aumentará o perfil de participação no PIB aqui e lá fora.
Quiroga diz que ao assumir, a orientação que recebeu da matriz foi de aumentar a participação latino-americana no bolo total da Ericsson. No ano passado, dos quase US$ 30 bilhões de faturamento, a região respondeu por 10% e a meta é atingir 14% em cinco ou seis anos. O Brasil responde por 40% da receita regional.
Com receita líquida no Brasil de R$ 1,4 bilhão, a Ericsson do Brasil não registrou bons resultados em 2009. Segundo levantamento do Valor , entre mil empresas que atuam no país, a Ericsson registrou lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Lajida) negativo de R$ 116,7 milhões, o 16º pior no ranking geral.
Veículo: Valor Econômico