Compensação de cheque transforma papel em bits

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Processo de digitalização reduz custo, mas exige investimento

 

Em uma época na qual é possível fazer compras pelo celular e outros meios eletrônicos, o cheque é frequentemente apontado como símbolo de uma era ultrapassada. A despeito dessa fama, porém, ele está agora no centro de uma nova e importante transição tecnológica.

 

Em vigor no Brasil desde 20 de maio, a compensação de cheques por meio da digitalização da imagem do documento - a chamada truncagem - vem movimentando os investimentos dos bancos e as estratégias de fornecedores de tecnologias para o setor.

 

A mudança que tornou obrigatório o novo padrão foi estabelecida em circular emitida pelo Banco Central em abril. Sob o novo modelo, a imagem dos cheques é capturada por um scanner e enviada com os dados do documento por meio de um arquivo eletrônico, ao longo de todo o trâmite da compensação. Não há mais necessidade de transporte do cheque físico, que fica retido na agência até que seja liquidado na compensação digital. Além dos equipamentos de captura, o processo envolve sistemas que abrangem várias fases, como o processamento, a transmissão e o armazenamento da imagem, além da proteção dos arquivos.

 


Bancos gastam cerca de R$ 300 milhões por ano para fazer transporte físico de cheques, segundo a Febraban
Para Walter Tadeu de Faria, diretor-adjunto de serviços da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), a compensação digital é o embrião de um processo mais abrangente. "A partir desse modelo, os bancos poderão eliminar o trânsito de papel e migrar toda a sua documentação para o ambiente digital".

 

Faria diz o modelo vai reduzir o prazo de compensação para dois dias úteis, no caso de cheques no valor de até R$ 299, e de um dia útil, para cheques superiores a R$ 300. "Isso acontecerá a partir de 30 de junho, quando termina o prazo de adaptação ao sistema". Hoje, dependendo da localidade da agência, o prazo de pode chegar a até 20 dias úteis.

 

A truncagem traz outras vantagens. "O principal benefício é a redução dos custos no processo", diz Edvaldo Vieira, superintendente-executivo de operações do HSBC.

 

Segundo a Febraban, os bancos gastam cerca de R$ 300 milhões por ano para recolher os cheques recebidos nas agências e enviá-los, em malotes, à Compe, a câmara centralizadora de compensação do Banco Central. O órgão responde pela gestão de todas as transações entre bancos envolvendo cheques no valor inferior a R$ 250 mil.

 

Os custos envolvem principalmente segurança e transporte. Em alguns casos, em virtude da distância das agências em relação às 26 câmaras da Compe no país, os cheques são enviados inicialmente para um centro de compensação dos bancos, muitas vezes por meio de aviões e barcos, dependendo da região.

 

Somente em relação ao transporte, a Febraban estima em R$ 100 milhões a redução inicial de custos com a adoção da compensação por imagem. Na busca por essa economia, os bancos vêm investindo em projetos-piloto de truncagem há cerca de dois anos. Grande parte deles, porém, optou inicialmente pelo modelo centralizado da compensação digital, no qual a captura da imagem é feita nos centros de compensação dos bancos em vez de ocorrer nas agências.

 

Esse foi o caminho considerado mais viável por muitos bancos para se adaptar ao prazo da circular, por demandar um investimento mais modesto em tecnologia e infraestrutura. "Por outro lado, ele não elimina os custos, já que o transporte dos cheques até os centros continua a ser físico", diz Andréa Passuello de Freitas, diretora de tecnologia da ATP, fornecedora de tecnologia e serviços bancários.

 

A aposta dos fornecedores está justamente na migração dos bancos para o modelo descentralizado, no qual a captura da imagem passa a ser feita diretamente nas agências e o processo é digitalizado de ponta a ponta, exigindo mais investimentos, em virtude do tamanho da rede bancária.

 

"O próprio mercado vai regular essa procura, pois os bancos que adotarem esse modelo mais depressa terão custos mais competitivos", diz Gian Franco Nercolini, diretor da M2Sys.

 

O Bradesco investiu R$ 72 milhões neste ano para migrar para o padrão descentralizado. Além de sistemas desenvolvidos internamente e adquiridos de fornecedores, o banco comprou 6 mil scanners de captura para equipar sua rede de cerca de 3,6 mil agências, que movimentam diariamente 1,5 milhão de cheques. No Brasil, em média 90 milhões de cheques são emitidos mensalmente, segundo a Febraban.

 

O projeto está em operação em 60% das agências do banco. As demais já contam com a infraestrutura e estarão adaptadas até 30 de junho, diz Laercio Albino Cezar, vice-presidente-executivo do Bradesco. "Priorizamos inicialmente a transição nas agências mais distantes e com prazo médio de compensação mais longo", afirma.

 

Cezar prevê uma redução de custos gerada pelo projeto nesse ano de 40%. Os benefícios esperados, porém, não se resumem a essa economia. Com base no projeto de compensação digital, iniciado em 2008, o Bradesco está desenvolvendo uma nova iniciativa, batizada de gestão de conteúdo. O projeto compreende a captura e a digitalização de outros documentos da instituição para a oferta de novos serviços aos clientes.

 

Essa também é a proposta do HSBC, que apostou no modelo descentralizado desde o início de seu projeto, em 2007. "Os benefícios financeiros que tivemos servem para compensar o investimento realizado", diz Vieira. A expectativa de redução de custos para este ano, com a compensação de cheques, é de 20%.

 

Hoje, o HSBC processa cerca de 12 milhões de cheques por mês e todo o processo é 100% feito a partir de sua rede de agências.

 

Procurado pelo Valor, o Itaú Unibanco não respondeu aos pedidos de entrevista e o Santander não quis comentar o assunto.

 


Veículo: Valor Econômico


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