Guarda-roupa digital

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Comprar camisas, calças e calçados pela web virou moda no Brasil e deve gerar negócios de R$ 1,6 bilhão neste ano, atraindo grandes varejistas para o comércio eletrônico

 

A estudante Isadora Campos, 17 anos, queria uma bota nova para este inverno, mas não estava satisfeita com as opções encontradas. Cansada de bater perna em lojas da rua Oscar Freire e no Shopping Iguatemi, templos de consumo de luxo em São Paulo, ela decidiu procurar na internet – o último lugar onde uma adolescente de classe alta sonharia em fazer compras de vestuário. Ao acessar o Dafiti, site especializado em calçados e acessórios de grifes, assustou-se com a grande variedade de produtos. Eram mais de seis mil modelos, quase quatro mil deles femininos. “Como encontrar o que quero com tantas opções? Será que vão me servir?”, pensou Isadora.

 

Os filtros para auxiliar na pesquisa dos produtos, como cor e tamanho, foram fundamentais para encontrar a bota de couro marrom, sem salto e com cano de 16 cm dobrável. O frete grátis, o prazo de 30 dias para troca e a possibilidade de receber seu dinheiro de volta caso não gostasse do produto, foram vantagens decisivas para ela fechar o negócio. Clicou, gastou R$ 270 e ficou esperando o mister postman com sua encomenda. “Adorei”, resume a garota.


 
A experiência de Isadora ilustra bem uma tendência que ganha força no Brasil: a venda de roupas, calçados e acessórios pela web. O setor nem sequer aparecia entre os 20 mais relevantes do comércio eletrônico brasileiro até 2009. No ano passado, no entanto, deu um salto e passou a figurar na sexta colocação, representando cerca de 5% do e-commerce nacional, que faturou R$ 14,8 bilhões em vendas de bens de consumo, em 2010, segundo a consultoria e.bit. Assim, apenas a comercialização desse tipo de produto movimentou cerca de R$ 750 milhões no ano passado.
 


Como esse segmento vem dobrando de tamanho nos últimos anos, a expectativa é de que, ao final de 2011, represente em torno de 8% do varejo eletrônico no País, ou R$ 1,6 bilhão em receitas. Os dados mostram o potencial desse setor no Brasil e explicam por que muitas empresas ingressaram nessa área. Entre elas estão nomes como Renner, Marisa, Dafiti, Centauro, Passarela, Camisetaria e Carmin. Há, ainda, a Netshoes, especializada na venda de materiais esportivos pela rede, cujo faturamento estimado, em 2010, supera os R$ 300 milhões.
 
 

Os clubes de compras online, como Privalia e Brandsclub, também se mostram importantes canais para a expansão das vendas. “O comércio eletrônico está aprendendo a vender roupas para seus consumidores”, diz Alexandre Umberti, diretor de marketing e produtos da e.bit. De acordo com uma pesquisa do Instituto de Estudos e Marketing Industrial, dos 23 milhões de brasileiros que compram pela web, só 1,5 milhão adquiriram itens de moda. No entanto, entre os que já compraram roupas online, 96% ficaram satisfeitos com a experiência.
 


Esse índice é superior ao registrado pelo e.bit para todo varejo eletrônico, que é de 86%. Atentas a esse cenário, as varejistas americanas Macy's e Blomingdale seguiram a Gap e passaram a entregar no Brasil na semana passada. Se hoje vender roupas pela rede é um negócio em franca expansão, há até pouco tempo a realidade era outra. Ao trabalhar no Submarino, entre 2000 e 2007, o executivo André Shinohara participou da abertura de 30 lojas. Apenas duas não deram o retorno esperado: a de produtos para animais domésticos e a de roupas.
 
 

A principal explicação para o fracasso era a falta de hábito do brasileiro em comprar produtos desse tipo à distância. Outro obstáculo era a falta de padronização dos tamanhos. Quando convidado a comandar a operação do site de clube de compras espanhol Privalia, no Brasil, em 2009, Shinohara reagiu com ceticismo. “O brasileiro não compra roupa pela rede”, afirmou. Mas a empresa tinha uma carta na manga. A Privalia iria vender camisas e outras peças, com descontos de até 70%. A mágica estava em oferecer coleções antigas, tornando o site uma espécie de outlet virtual.
 


A iniciativa deu certo e a expectativa é de que, neste ano, o faturamento supere R$ 250 milhões, o que colocará o País como o maior mercado da Privalia, que atua na Itália e no México, além da Espanha. A oferta de artigos de vestuário em sites de clubes de compras foi importante para as vendas deslancharem no Brasil. “Foi um divisor de águas”, afirma Clóvis Ferratoni, professor de moda do Senac. Isso porque, como muitas marcas tinham receio de investir em lojas online, os clubes de compra se mostraram perfeitos para fazer os estoques girarem.
 

 

Veículo: Revista Isto É Dinheiro


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