Na América Latina, BuscaPé se prepara para duelo de titãs

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Há muitas maneiras de se defender de um gigante. Na mitologia, Ulisses, aprisionado pelo ciclope Polifemo, cega-o com um tronco de oliveira em chamas e foge amarrando-se sob o ventre de uma ovelha do gigante que ele liberta pela manhã de sua caverna para pastar. Escritos religiosos relatam o pequeno David, ungido por Deus, derrubando com uma pedrada o gigante Golias na batalha entre filisteus e o povo de Israel.

No concorrido mercado da internet, não há 'pedra' ou 'tronco' capaz de derrubar um oponente gigante. Mas, em alguns casos, uma 'unção' permite que companhias menores se fortaleçam a ponto de competir com grandes multinacionais. O BuscaPé, empresa brasileira que nasceu como um site de comparação de produtos e preços, recebeu aportes do grupo sul-africano Naspers nos últimos anos para se tornar o maior grupo voltado para o comércio eletrônico da América Latina e capaz de fazer frente às recentes investidas do Google nesse setor.

O Google tem empreendido esforços para expandir sua participação no comércio eletrônico. No Brasil, lançou em outubro o Google Shopping, um serviço de comparação de produtos e preços, que no mundo atraiu 200 mil empresas. E deve trazer ao país o seu serviço de pagamento on-line Google Wallet, o site de buscas para passagens aéreas Flight Search e o serviço de busca e reserva de hotéis Google Hostel Finder.

A compra do site pelo Naspers, em 2009, ajudou a impulsionar a estratégia agressiva de internacionalização

Globalmente, a companhia comprou quatro empresas só neste ano para incrementar os serviços de comércio eletrônico - Ita Software, Like.com, Dealmap e Zagat. E tem a seu favor a atração do seu site de buscas, que no Brasil recebeu visitas de 46,7 milhões do total de 49,6 milhões de internautas que acessaram a internet em setembro, de acordo com dados da consultoria ComScore.

"Vimos um forte aumento da competitividade nos mercados de comércio eletrônico em 2011. E com a intenção de gigantes globais de entrar de maneira mais contundente, participantes de menor porte têm investido em estratégias de fortalecimento via aquisições e busca de capitais", diz Fernando Belfort, analista sênior da consultoria Frost & Sullivan.

O BuscaPé adotou uma estratégia semelhante para se manter como a maior empresa do setor na América Latina. Nos últimos dois anos, a companhia adquiriu 12 empresas e avalia novos negócios na área de comércio eletrônico. Quando em 2009 o Naspers adquiriu 91% de participação no BuscaPé, por US$ 342 milhões, a companhia tinha sob seu comando o site homônimo de comparação de preços, o BondFaro, o Pista Certa, o Corta Contas, a consultoria de comércio eletrônico e-bit, Confiômetro, o Pagamento Digital e a FControl.

Em dois anos, adquiriu participações na eBehavior, Navegg, SaveMe, Pagos Online, DineroMail, Urbanizo, Meu Carrinho, HotMart e Anuncie Lá e Resolva.me.

Nesse intervalo, elevou o número de lojas virtuais cadastradas de 450 mil para 600 mil. A média de audiência passou de 50 milhões para 62 milhões de usuários por mês. "Ao menos um terço do comércio eletrônico brasileiro passa por alguma empresa do grupo. E a meta é oferecer serviços para todas as fases do ciclo de compras na internet", diz Guilherme Stocco, vice-presidente de desenvolvimento de negócios do BuscaPé.

"A compra do Buscapé pelo Naspers foi um forte impulsionador para a empresa traçar uma agressiva estratégia de internacionalização", diz Belfort, da Frost & Sullivan.

Do total de empresas que o BuscaPé administra atualmente, aquelas que serão internacionalizadas são a Lomadee, a Navegg e a SaveMe. De acordo com Stocco, essas companhias estão estruturando joint ventures para iniciar as operações na Argentina, no Chile, no México e na Colômbia. "A meta é montar escritórios nesses países e administrar as operações na América Latina a partir deles", diz Stocco.

Entre as empresas controladas pelo BuscaPé que já possuem atuação internacional estão o site de revenda Que Barato, que foi lançado em 2007 e está presente em 27 países de língua espanhola; o Pagos Online, com forte presença na Colômbia; e a DineroMail, na Argentina.

De acordo com levantamento da ComScore, os sites do BuscaPé tiveram 23,2 milhões de usuários únicos, representando 46,8% do público total que acessou a web no Brasil em setembro. Comparado com os dados de comércio eletrônico, a penetração da companhia é maior. Conforme pesquisa da camara-e.net, 27,4 milhões de consumidores fizeram pelo menos uma compra em lojas virtuais - 5,2 milhões de internautas a mais do que o total de pessoas que acessaram os sites do BuscaPé.

É difícil avaliar se a estratégia do BuscaPé será bem sucedida em termos financeiros, pois a companhia não divulga seu balanço. Se forem levadas em consideração a audiência e as aquisições recentes, pode-se dizer que a 'unção' do Naspers permitirá ao BuscaPé travar uma boa disputa com o gigante Google no mercado latino-americano.


Veículo: Valor Econômico


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