Grupo RBS cria e.Brics para explorar mundo digital

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Levou algum tempo, mas Eduardo Sirotsky Melzer não estranha mais quando encontra funcionários deitados no sofá, vendo TV no meio da tarde. Isso seria estranho se fosse na redação de uma das 18 emissoras de TV, 8 jornais ou 24 estações de rádio do grupo RBS, cujo comando o empresário exerce desde julho. Mas Duda, como todos o chamam, já aprendeu que nos corredores da Predicta, uma companhia de software para publicidade na web, isso é tão comum quanto trabalhar de bermuda e varar a noite na frente de um computador. "Flexibilidade é muito importante nesse negócio", afirma.

A Predicta é parte de um dos projetos de transformação mais radicais do grupo desde sua criação, há 55 anos. Há três meses, quando Duda assumiu a presidência executiva, a RBS anunciou um plano de reformulação, com a criação de uma holding e três empresas independentes - uma de mídia (jornais, rádio e TV), outra de educação empresarial e a terceira de negócios digitais. É esse braço, no qual o grupo vê as maiores chances de crescimento nos próximos anos, que toma forma oficialmente hoje, com o anúncio da constituição da empresa e sua marca - a e.Brics Digital.

A companhia reúne todos os investimentos feitos pela RBS até agora na área digital. Em 11 meses, o grupo investiu R$ 300 milhões na compra de participações em 8 companhias, diz Duda. Os movimentos incluem da Predicta aos sites de entretenimento Guia da Semana, ObaOba e Hagah, além das companhias de marketing e publicidade Grupo.Mobi e Hi-Midia. Completam a lista os sites de comércio eletrônico Wine.com.br, de vinhos, e Lets, de moda.

Os investimentos foram feitos com recursos próprios da RBS. O grupo, que registrou uma receita líquida de R$ 1,3 bilhão no ano passado, reforçou o caixa em julho de 2011, com a captação de R$ 300 milhões - um valor idêntico ao investido até agora na carteira da e.Brics - em debêntures não conversíveis em ações.

A expectativa é de mais aportes no curto prazo. "Com os investimentos feitos até agora, completamos de 60% a 70% do portfólio. Os demais 30% a 40% serão fechados em um prazo estimado de seis meses", diz Fabio Bruggioni, executivo-chefe da e.Brics.

O interesse da e.Brics é investir em companhias de três segmentos: mobilidade, mídia digital e comércio eletrônico. Juntas, essas áreas apresentam um mercado potencial de R$ 66 bilhões em 2015.

A definição do nome da empresa exigiu um processo de discussão de aproximadamente três meses, e contou com o trabalho da Asia Branding, agência especializada na criação de marcas do grupo ABC. Ao remeter à ideia de "tijolos virtuais", a proposta é juntar empreendedores, profissionais, investidores e anunciantes sob um único ambiente de cooperação.

Na RBS, já se discutia a possibilidade de a nova empresa não carregar a marca do grupo, criado há 55 anos. "[A decisão] foi muito tranquila. Para tocar um negócio como esse, com características próprias, a independência é fundamental", afirma Duda. Marca e logotipo diferentes não são os únicos exemplos que expressam essa visão. A sede da e.Brics foi fixada em São Paulo, distante da Porto Alegre onde permanecem concentrados a holding e os negócios de mídia. E Bruggioni tem cargo de executivo-chefe, uma indicação do grau de liberdade da nova companhia.

Sob o chapéu da e.Brics, a ideia é manter as marcas e empresas separadas, mas sob uma estratégia única, conduzida por um grupo gerencial experiente. Bruggioni, por exemplo, veio da Telefônica. Ricardo Hudson, principal homem de finanças, é egresso da Schincariol. Andiara Peterle, de novos negócios, conhece bem a trajetória de companhias novatas que lutam para crescer - ela foi a criadora do site feminino Bolsa de Mulher.

"É por isso [para manter uma estratégia e comando únicos] que queremos obter o controle dos negócios ao ingressar em uma empresa", diz Duda. Essa é uma diferença importante em relação aos fundos de participação, que costumam comprar participações minoritárias em empresas, mantendo uma distância maior da administração e com um horizonte de saída definido, por volta de cinco anos no máximo.

"Assumir o controle geralmente traz consigo uma sensação de abafamento para os sócios originais do negócio e não é isso que queremos fazer", afirma Duda. A e.Brics pode ficar com uma participação minoritária se o sócio potencial fizer questão de continuar com a maior parte do negócio. "Para nós não há dogmas", afirma Duda.

O interesse principal da e.Brics é ingressar em empresas jovens, mas que já tenham superado a fase inicial de captação de recursos e desenvolvimento de produtos. Cerca de 90% dos investimentos ficarão concentrados nesse perfil de companhia, afirma Bruggioni. Os 10% restantes caberão a companhias em fases iniciais de desenvolvimento.

O foco da e.Brics é o mercado brasileiro, mas em novembro a companhia planeja abrir um escritório em San Francisco, seguindo a rota da Predicta, que tem negócios em 19 países e também está em vias de se instalar na Califórnia. Para o próximo semestre, já está prevista a realização de um encontro no Vale do Silício, para que empreendedores e investidores brasileiros e americanos possam trocar experiências. Se está em pauta investir em uma empresa americana? "Se fizer sentido trazer o negócio ao Brasil, por que não?", diz Bruggioni.



Veículo: Valor Econômico


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