Ritmo forte no e-commerce

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O mercado de comércio eletrônico brasileiro fechou 2008 com um volume recorde de vendas de R$ 8,2 bilhões, crescimento de 30% sobre o ano anterior, mantendo o ritmo de crescimento anual em dois dígitos que vem desde o início desta década. Os dados são do relatório da consultoria e-bit.

 

O ticket médio do setor também cresceu, chegando a R$ 328, bem acima dos R$ 302 praticados em 2007. Fatores como aumento no número de usuários de internet e de conexões de banda larga no País, combinado com a comodidade para compras e pesquisa de preços, as facilidades de pagamentos oferecidas pelos varejistas e a confiança dos consumidores são apontados por especialistas como os responsáveis pela expansão.

 

Numa análise objetiva do desempenho do setor, percebe-se que os consumidores brasileiros estão comprando mais e, principalmente, adquirindo produtos mais caros na internet. As categorias mais vendidas no ano passado foram livros (17%), saúde e beleza (12%) e informática (11%). O Natal foi a data comemorativa mais lucrativa, movimentando R$ 1,25 bilhão, crescimento de 15% ante 2007, seguido pelo Dia das Mães, que faturou R$ 381 milhões, e Dia dos Pais, com faturamento de R$ 338 milhões.

 

"O setor vem em ascensão há alguns anos, num ritmo de crescimento mais acelerado do que o visto em mercados mais consolidados. Nos Estados Unidos, por exemplo, a expansão foi de apenas 7% em 2008. Um número crescente de brasileiros está comprando pela internet e, quem já o fazia, está aumentando a frequência. Além disso, o nível de satisfação dos consumidores é elevado, na casa dos 85%, o que estimula ainda mais o setor", afirma Gastão Mattos, consultor Movimento Internet Segura (MIS).

 

Apesar do ótimo desempenho do ano passado, o setor não passou incólume aos efeitos da crise financeira, fechando abaixo das expectativas de consultores. Em relatório divulgado em janeiro, a e-bit estimava vendas de R$ 8,8 bilhões, crescimento de 45% sobre 2007. "O setor sentiu um impacto nas vendas no final do ano passado. Observamos uma recuperação no primeiro trimestre de 2009, que está apresentando um volume de vendas cerca de 20% superior aos meses anteriores. Percebemos que o consumidor está mais cauteloso, mas não deixou de comprar. Ele está apenas pesquisando mais", diz Pedro Guasti, diretor-geral da e-bit.

 

Cerca de 46% das pessoas que consomem na internet disseram que estão mais cautelosos depois que a crise estourou, segundo números da pesquisa e-bit.

 

Para 2009, as previsões ainda são animadoras. De acordo com Guasti, independentemente de crise, o setor deve crescer cerca de 25%. "Existe ainda uma demanda reprimida por internet no País. Há cerca de 2,5 mil cidades que não possuem conexão banda larga, por exemplo. Com o crescimento do uso da web entre as classes mais baixas, novos mercados estão se abrindo no setor, o que está atraindo grandes varejistas como Casas Bahia e Wal-Mart. Caso a curva ascendente se confirme, devemos alcançar a marca inédita de R$ 10 bilhões em faturamento", acredita. Mattos é um pouco mais cauteloso. "Ainda não se tem claros os efeitos da crise no setor. Creio que teremos uma noção melhor daqui a alguns meses", diz.

 

Na mesma velocidade em que se expande, o e-commerce brasileiro também se consolida. O setor é hoje praticamente dominado por grandes varejistas. "Uma fatia considerável do faturamento do setor está nas mãos de grandes empresas, como B2W (proprietária dos sites Americanas.com, Submarino, Shoptime, Ingressos.com e B2W Viagens), Ponto Frio e Pão de Açúcar, entre outras. A diversificação de canais de venda é uma questão estratégica atualmente. A partir de um determinado porte, quem não tem operação na web perde vendas. Por isso, Casas Bahia e Wal-Mart decidiram investir na rede recentemente", diz David Reck, sócio-diretor da consultoria Enken, especializada em fornecimento de soluções para mídias digitais.

 

Com esse panorama, há espaço para as pequenas e médias empresas? "O setor é realmente dominado por grandes empresas, mas, até por conta do ambiente democrático que é a internet, também há espaço para pequenos e médios empreendedores. Eles podem competir em igual condição em buscadores e comparadores de preço e se destacar no mercado. Além disso, os softwares e plataformas de e-commerce estão cada vez mais acessíveis", acredita Guasti.

 

Guilherme Ribenboim, diretor geral do Yahoo! Brasil e América Latina, corrobora as palavras de Guasti. "Há muitos empresários que montam pequenos sites e lucram bastante. O Mercado Livre, com sua infinidade de vendedores, é um bom exemplo", diz. Já Gastão Mattos ressalta que lucrar com vendas eletrônicas não é uma tarefa simples. "O bolo vem crescendo rapidamente e todo mundo pode se beneficiar. Ao mesmo tempo, não é fácil empreender no setor, até porque o brasileiro prefere comprar em grandes varejistas. Investir em publicidade, principalmente na internet, é fundamental", afirma.

 

Criação. Para o pequeno empreendedor, o caminho mais recomendável é realmente apostar na terceirização de plataformas de e-commerce e softwares. "Paga-se uma espécie de matrícula inicial junto ao fornecedor, que pode chegar a R$ 1 mil. A partir daí, o custo mensal com a operação pode variar entre R$ 200 e R$ 1 mil. Tenho clientes com faturamento mensal na casa dos R$ 500 mil que não compraram uma plataforma de e-commerce até hoje. O caminho mais fácil é terceirizar, até porque a maior parte dos investimentos devem ser alocados em publicidade. Caso algo dê errado, as perdas não são grandes", diz David Reck.

 

Segundo o consultor, o empreendedor também deve se cercar de cuidados em relação à logística. "Os Correios são a única operadora que atende todo o Brasil. Em compensação, pode entrar em greve. Por isso, a escolha da melhor solução de logística é importante. O empresário também deve ficar atento às devoluções, pois, por lei, o dinheiro precisa ser devolvido em até sete dias úteis", afirma.

 

A Liga Retro, que vende réplicas de camisas de times e seleções de todo o mundo, foi criada em 2006 com a internet como seu único canal de vendas. O sucesso foi tão grande que a empresa abriu uma loja de rua um ano e meio depois. Segundo Marcelo Roisman, diretor de Marketing da Liga Retro, 2008 foi num ano positivo. "Vendemos camisas para todo o Brasil. Em 2008, acompanhamos o ritmo de crescimento do mercado, com um faturamento cerca de 30% superior a 2007. Para 2009, pretendemos abrir mais pontos-de-venda, talvez usando o modelo de franquias", diz.

 

O executivo atribui o sucesso do Liga Retro aos lançamentos de camisas e ao investimento constante em publicidade. "No início eram apenas 20 modelos. Hoje, temos 100 opções. Além disso, investimos permanentemente em publicidade, especialmente na internet", diz. Roisman revela que a empresa também segue a trilha da contenção de custos desde a criação da marca. Hoje, colhe os frutos. "Mantemos toda operação de e-commerce terceirizada até hoje. Além de ser mais barato, permite-nos investir mais em nossos projetos e em publicidade", revela.

 

Criada em outubro de 2005, a Mania Virtual, especializada em vendas de produtos de informática, eletroeletrônicos, telefonia, livros, CDs e DVDs, entre outros, também aposta na internet desde a fundação. Segundo Rodrigo Bandeira, gerente de Marketing, a empresa não cogita abrir uma loja física. "Mantemos um crescimento em vendas constante há alguns anos. A combinação de e-commerce e televendas está dando muito certo. Não há por que mudar. Ano passado, por exemplo, o faturamento subiu 35%", revela.

 

Para Bandeira, 2009 tem tudo para ser positivo. "A ideia é manter o mesmo patamar de crescimento, independentemente de crise. Houve uma ligeira queda no final do ano passado, mas já observo uma recuperação. Ao mesmo tempo, noto os clientes mais prudentes, fazendo as compras com menor número de parcelas", diz. Segundo o executivo, mão-de-obra e publicidade são os maiores custos da Mania Virtual. "Contamos hoje com 60 funcionários, sendo praticamente 30 na central de teleatendimento. Ao mesmo tempo, investimos constantemente em publicidade, principalmente em buscadores e portais, para reforçar a marca", afirma.

 


Veículo: Jornal do Commercio - RJ


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