Consumidor reage e vendas de vinho nacional deve crescer de 6% a 10%

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Bebidas: Mercado encolheu até setembro, mas a partir de outubro a demanda se mostra forte


  
Depois de um início de ano cauteloso, marcado pelas incertezas sobre os estragos que poderiam ser causados pela crise econômica, as vinícolas brasileiras encerram 2009 com um desempenho acima do projetado. Enquanto os espumantes nacionais mantêm a trajetória de crescimento das vendas e o domínio do mercado interno, os vinhos finos finalmente chegam ao fim do ano recuperando algum espaço na demanda doméstica em relação aos importados, algo que não acontecia desde 2005.

 

"Fomos vencedores em 2009", afirma Daniel Salton, presidente da vinícola Salton. Até setembro a venda de vinhos nacionais e importados vinha caindo 4,1% ante igual período de 2008, para 49,7 milhões de litros, mas em outubro, quando o varejo começa a fazer as compras de fim de ano, o mercado reagiu e acumula 58,3 milhões de litros nos primeiros dez meses, segundo o Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin). Isso significa um empate em relação a 2008.

 

As vendas de vinhos finos do Rio Grande do Sul (que responde por 90% da produção nacional) cresceram 6,6% nos dez primeiros meses, para 14,7 milhões de litros. Ao mesmo tempo, os importados recuaram 2%, para 43,6 milhões de litros, e a fatia do vinho nacional sobre as vendas totais cresceu 1,5 ponto, para 25,2%.

 

No caso dos espumantes, o produto brasileiro, que desde 2007 detém mais de 70% do mercado, aumentou um pouco mais a sua presença: de 71,1% nos dez primeiros meses de 2008, para 75% neste ano. De janeiro a outubro, a venda do espumante nacional avançou 14,6%, para 6,5 milhões de litros, enquanto o importado caiu 6%, para 2,2 milhões de litros, e o mercado total cresceu 8,7%.

 

Para o ano, o diretor-executivo do Ibravin, Carlos Paviani, prevê expansão de 6% a 10% nas vendas de vinhos nacionais sobre os 17 milhões de litros de 2008. Nos espumantes, a expectativa é de um crescimento superior ao acumulado até outubro em relação aos 9,5 milhões de litros registrados em 2008, graças ao clima mais confiante dos consumidores.

 

Para 2010, o presidente da União Brasileira de Vitivinicultura (Uvibra), Henrique Benedetti, projeta uma nova alta de 10% a 15%, "ou mais", nos espumantes e de 5% a 10% na comercialização dos vinhos brasileiros - que poderão ganhar um pouco mais de espaço em uma demanda total que ainda deve manter-se estável. Segundo Benedetti, os vinhos nacionais ainda têm muito espaço a recuperar. Em 2003 eles representavam quase 50% do mercado e a capacidade instalada das indústrias chega a 40 milhões de litros anuais.

 

Para executivos do setor, a recuperação do vinho nacional, apesar da queda gradual do dólar ao longo do ano, deve-se a fatores que vão desde o aumento dos investimentos na qualidade dos produtos até reforço nas ações de marketing e propaganda. A decisão do governo federal de impor, desde setembro, o regime de licenças não automáticas para importações da Argentina, segundo maior fornecedor do Brasil no setor, também ajudou.

 

"Os importados deixaram de ser novidade e os nacionais estão despertando mais a curiosidade dos consumidores", diz o enólogo argentino Adolfo Lona, radicado no Brasil desde 1973 e dono da cantina que leva seu nome. O presidente-executivo da Miolo, uma das maiores empresas do setor no país, Marcelo Toledo, entende que muitos consumidores ainda têm "preconceito" contra o vinho nacional, mas já começam a se dar conta da "péssima qualidade" dos importados de baixo preço.

 

Conforme Toledo, neste ano a Miolo vai aumentar as vendas de vinhos finos em 25% (sobre uma base não revelada de 2008) e de espumantes em 35%, neste caso para 2 milhões de garrafas (ou 1,5 milhão de litros). "O ano de 2009 foi excepcional apesar da crise econômica no primeiro momento". E, segundo ele, o objetivo é manter o ritmo de expansão em 2010.

 

Os planos da Miolo incluem uma "declaração de guerra aos vinhos importados de baixa qualidade", com degustações às cegas e abordagens de consumidores nos pontos de venda, propaganda em veículos de massa e pela internet, explica Toledo. Neste verão, a empresa também vai vender 250 mil garrafinhas de 250 mililitros de espumantes em praias do Rio Grande do Sul e Santa Catarina.

 

O presidente da Salton prevê para este ano uma alta de 5% nas vendas de vinhos finos, para 2 milhões de litros, puxada pelos varietais tintos, que tiveram o consumo beneficiado pelo inverno mais rigoroso no Sul e no Sudeste do país. Maior produtora de espumantes do país, a vinícola também estima aumento de 20% no segmento em 2009, sobre os 3,6 milhões de litros vendidos em 2008.

 

Segundo Daniel Salton, em 2010 os índices de expansão não devem ser diferentes. A Salton planeja aumentar em 25% as verbas de propaganda e marketing, para R$ 5 milhões, vai investir cerca de R$ 10 milhões na instalação de uma segunda linha de envase em Bento Gonçalves e também pretende implantar um centro de distribuição em Recife (PE) para atender à demanda do Nordeste, ainda pouco explorado pela empresa.

 

O fenômeno é o mesmo nas pequenas vinícolas. Na Adolfo Lona, especializada em espumantes, as vendas vão crescer 25% neste ano sobre 2008, para 60 mil garrafas, revela o enólogo Adolfo Lona. A empresa, que está investindo na sofisticação da marca com o recente lançamento de uma edição limitada de um "nature rose" (sem adição de açúcar) vendido a até R$ 92 a unidade, prevê ainda vendas de 70 mil garrafas em 2010 e de 100 mil até 2012, afirma o empresário.

 

Mais forte em vinhos, a Dal Pizzol vai aumentar as vendas em 16% neste ano, para quase 170 mil garrafas. Para os espumantes, a projeção de alta chega a 33%, para 80 mil garrafas, diz o enólogo Dirceu Scottá. Segundo ele, a vinícola investiu R$ 150 mil em novos tanques de aço inoxidável para fermentação e estocagem, mas a produção em 2010 vai depender da oferta de uvas viníferas, já que ainda não se sabe exatamente os efeitos dos temporais que atingiram as plantações gaúchas em outubro e novembro. A colheita começa no fim de janeiro.
 

 

Veículo: Valor Econômico


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