O brinde da Salton

Leia em 4min 10s

Há dez anos, a vinícola estava fadada a produzir bebidas de baixa qualidade. Hoje, prestes a completar 100 anos, lidera a venda de espumantes

 


O céu segue nublado na Serra Gaúcha e a previsão meteorológica aponta para longos períodos de chuva. Os produtores de vinhos sabem que, se o tempo continuar assim, a safra pode ser prejudicada. Sentado em sua mesa, no escritório da sede da vinícola Salton, em Bento Gonçalves, Daniel Salton, o presidente da empresa, mantém a calma. Muitos não entendem a sua reação, mas há motivos de sobra para esse seu comportamento. A vinícola fechou o mês de novembro com um faturamento de R$ 40 milhões, o melhor resultado mensal de sua história e R$ 12 milhões a mais do que no mesmo período de 2008. Além disso, bateu a meta de R$ 200 milhões estipulada para 2009 e fechará o ano com receitas de R$ 220 milhões. Mais: permanece, desde 2004, líder do mercado nacional de espumantes, com 40% de participação. "Ainda há muito espaço para ser conquistado. Aos poucos, o brasileiro está descobrindo a bebida nacional", diz Salton. Os motivos de celebração não param por aí. Prestes a completar 100 anos, a Salton vai investir mais de R$ 7 milhões em uma nova linha de produção, que aumentará sua capacidade de cerca de 15 mil caixas de vinhos por dia para 30 mil caixas. Além disso, deve lançar três novos rótulos, que se juntarão ao seu portfólio de 45 vinhos, com preços que variam entre R$ 4 e R$ 70.

 

Doce espuma

 

Em 2009, foram produzidos seis milhões de garrafas de espumantes, um milhão de unidades a mais do que em 2008

 

Outras novidades incluem a reestruturação do departamento de exportação, que corresponde a menos de 5% do negócio da Salton. "Exportamos para dez países, mas pretendemos alcançar novos mercados", diz Salton. Até hoje, a concentração no mercado nacional teve seus benefícios. "As vendas de importados caíram e isso auxiliou os vinhos brasileiros. Foi um ano sem crise", aponta Salton. De fato, o crescimento de 15% da Salton em comparação com 2008 reflete a situação do mercado nacional de vinhos. De acordo com o Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin), as vendas do setor cresceram 12,7% de janeiro a outubro de 2009. No caso dos espumantes, esse índice sobe para 14,6%. Por isso, mesmo diante das previsões de chuva, Salton mantém a serenidade. Em 1998, a empresa apostou suas fichas na produção de espumantes quando o setor dava de ombros para esse tipo de vinho. O resultado, como uma boa safra, é colhido hoje. Só neste ano, a Salton produziu 6 milhões de garrafas, um milhão a mais do que em 2008. "O brasileiro aceita muito bem o espumante nacional. E a Salton ganha ao fazer um forte trabalho de relacionamento nos pontos de venda, o que torna seu vinho um dos mais lembrados", explica Julio Moreira, diretor da consultoria de marcas Top Brands. A concorrência, porém, prefere separar o joio do trigo. "Nós apostamos no segmento premium", diz Sergio Degese, diretor-geral da Moët Hennessy no Brasil. "É como comparar um Renault Clio com uma Mercedes-Benz ou uma mala Samsonite com uma Louis Vuitton. Cada um tem seu trabalho, mas são mercados diferentes. A maior parte das vendas da concorrência é de produtos de baixo preço", explica.

 


Apesar de estar à frente nesse nicho de mercado, a Salton ainda sofre com a perda de uma disputa acirrada. Trata-se da venda da vinícola Almadén, pelo conglomerado de bebidas Pernod Ricard, para uma de suas maiores concorrentes, a Miolo. Com a aquisição, a Salton não precisaria mais depender de outros produtores de uva, já que a Almadén tinha um dos maiores vinhedos da América Latina. "Seria interessante ter comprado a Almadén", lamenta Salton. Outra perda inestimável para a empresa foi o falecimento de seu antigo presidente, Ângelo Salton. Ele, que ficou por 28 anos na direção da vinícola, morreu em fevereiro deste ano, de infarto, aos 56 anos. Daniel, seu primo, e que começou na empresa na mesma época em que Ângelo, passou de diretor comercial à função de presidente. Juntos, eles tiraram a empresa da dependência do Conhaque Presidente que, há 30 anos, era responsável por 95% do faturamento e investiram na produção de vinhos. Hoje o conhaque é responsável por 35% do faturamento, ao lado do espumante, que possui 33%. Os vinhos vêm atrás, com 22%. "A Salton está bem estruturada e tem uma linha diversificada com rótulos muito bons. Tem tudo para continuar a crescer", explica Arthur Azevedo, diretor da Associação Brasileira de Sommeliers. O céu está azul para a Salton.

 


Veículo: Revista Isto É Dinheiro


Veja também

Coca-Cola do planalto

A DIA Comunicação será a responsável pela homenagem da Coca- Cola ao aniversário da c...

Veja mais
No Brasil, é a segunda preferida da Colorado

Para quem torce o nariz para cerveja de mandioca, a Cervejaria Colorado, de Ribeirão Preto (SP), tem uma not&iacu...

Veja mais
SAB usa mandioca para baratear cerveja na África

Até Bruno de Castro ter recebido algumas boas notícias recentemente, sua vida não vinha sendo nada ...

Veja mais
Coca Light deixará de ser vendida

A Coca-Cola Light deverá sair do mercado. Essa versão do refrigerante mudará de nome para Coca-Cola...

Veja mais
Suco de laranja inicia 2010 em alta em Nova York

Após registrarem fortes quedas nos dois últimos pregões de 2009, as cotações do suco ...

Veja mais
Rússia impõe preço mínimo e vodca sobe

Na Rússia, a vodca agora tem preço mínimo estabelecido pelo governo. A decisão faz parte de ...

Veja mais
Esquina dos garrafões

Depois de uma rápida reforma, quem imaginou que uma esquina movimentada do Itaim, em São Paulo, fosse dar ...

Veja mais
Nova estrela

Lançado no final do ano passado, o espumante Moscatel, da Salton, com sabor ligeiramente adocicado, está t...

Veja mais
Brahma briga pelo NE com versão Fresh

Intenção da Ambev é ganhar participação da Nova Schin,que lidera o mercado na regi&at...

Veja mais