Com histórico empreendedor, fundador do grupo de veículos e transporte de cargas passa o comando ao filho e inicia produção vinícola em município na divisa entre o Rio Grande do Sul e Santa Catarina
A economia brasileira se move por meio de uma frota de 380 mil veículos rebocados - ou carretas, no linguajar estradeiro - conforme a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT). De acordo com avaliação da Randon, de Caxias do Sul (RS), metade dessa frota é fabricada pela empresa.
Os reboques estampam o sobrenome do fundador, Raul Anselmo Randon, neto de imigrantes italianos, que junto ao irmão Hercílio, morto em 1987, iniciou os negócios com uma modesta oficina mecânica para reparo demotores, em 1949.
Passados 40 anos, em 2009, antes de completar 80, Randon passou a presidência para o primogênito, David, cuja responsabilidade é comandar dez empresas, 9,2 mil empregados e faturar R$ 3,5 bilhões ao ano - estimativa do ano passado.
Erra quem apostar que depois de tudo isso Randon planeja parar de trabalhar. "Tenho 50 projetos na gaveta", diz.
O projeto que está iniciando agora é a construção de uma vinícola junto aos parreirais que possui na localidade de Muitos Capões, na divisa do Rio Grande do Sul com Santa Catarina. A área, segundo Randon conta, foi escolhida a dedo por ele: a altitude está acima da média da região serrana gaúcha - condição excepcional para as uvas.
A orientação técnica do projeto será feito pela Miolo, de Bento Gonçalves, parceira de Raul nos últimos sete anos na elaboração e comercialização de um "assemblage" - corte de dois ou mais vinhos de variedades diferentes -, o RAR, premiado no Brasil e no exterior.
"Vamos ampliar a linha do RAR com mais quatro ou cinco vinhos, alguns varietais. Sou fã do Pinot Noir", diz. Segundo ele, não há pressa, a previsão é inaugurar a vinícola daqui a quatro anos. "Quero fazer uma cantina (vinícola) moderna."
Questionado se a produção de espumantes entra nos planos, ele desconversa: "Não digo que não. Quem sabe, daqui a 20 anos meus filhos façam". Antes de ter sua vinícola própria, no final do ano passado, Randon tornou-se um dos sócios da Almadén, de Santana do Livramento (região da Campanha), junto com Miolo e Lovara, ambas de Bento Gonçalves. O grupo tornou-se o maior proprietário de vinhedos próprios do Brasil, com1,1 mil hectares.
Empreendedorismo
Entre as carretas e o vinho, Raul viveu outras fases, a da maçã e a do queijo, alémde uma passagem fugaz pelos javalis. Em sua expedição a onegócio do queijo, passou a produzir, em Vacaria (RS), o Gran Formaggio, tipo grana padano, sob rigorosos critérios italianos. Para se ter umaideia, o tempo de maturação chega a 18 meses. Vacaria tornou-se a primeira cidade fora da Itália a ter permissão para produção do queijo.
Randon também já quis fazer um hospital em Caxias do Sul, porque os que existiam eram precários. "Naquela época (década de 1980) a pessoa entrava com uma doença e morria de outra", argumenta. A iniciativa não foi adiante, mas ele conta que "acordou" a classe médica para a questão e acabou por promover o surgimento de três novos estabelecimentos.
Essa predestinação para os negócios não é de agora. Quando viajava, Randon ficava atento ao seu redor, mesmo parado no hall de um hotel. Descobria coisas para fazermesmo quando serviu ao Exército: aproveitava as horas de folga para fazer facas na ferraria do pai e as vendia.
Recentemente, ofereceramlhe proposta para fazer água mineral. "Está bem", respondeu, mas questionou em seguida: "E a logística? Essa é a parte mais cara." A intenção parou ali.
Randon diz que não quer frear ideias. Admite criar, mas trata o assunto da seguinte maneira: se é algo bom já tem gente fazendo. E aí entra a segunda parte - ou você entra em um negócio maior, ou continua melhorando o que você já tem.
Questionado sobre onde estão as boas oportunidades de investimento, Randon responde com o pedido de uma nova pergunta. "Vamos falar da Randon", diz ele, que hoje acompanha os rumos do grupo do Conselho de Administração.
Veículo: Brasil Econômico