Heineken compra a Femsa, dona da Kaiser, por US$ 7,6 bilhões

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Cervejaria mexicana era disputada também pela SABMiller; negócio é mais um passo na consolidação global do setor

 

O grande xadrez da consolidação do mercado mundial de cerveja teve ontem um novo lance. A holandesa Heineken, terceira maior cervejaria do mundo, anunciou a compra da cervejaria mexicana Femsa, que controla no Brasil a Kaiser. O negócio, fechado totalmente via troca de ações, chega a US$ 7,6 bilhões, incluindo as dívidas da Femsa, que chegam a US$ 2,1 bilhões. Além disso, pelo acordo, os controladores da Femsa passam a deter cerca de 20% do capital da Heineken. A compra, porém, ainda não é suficiente para a Heineken assumir o segundo lugar entre as maiores cervejarias, atualmente com a britânica SABMiller (a maior é a belgo-brasileira AB InBev).

 

O acordo deve fortalecer a presença da fabricante holandesa na América Latina e seu portfólio de marcas internacionais, ao mesmo tempo em que protegerá sua posição no mercado de importação americano. O executivo-chefe da Heineken, Jean-François van Boxmeer, destacou que a compra "oferece oportunidades para a aceleração das vendas nos mercados em rápido crescimento do Brasil e do México" e que o porcentual da geração de proveniente de mercados emergentes vai subir de 32% para 40%. A cervejaria holandesa estima ainda que as sinergias de custo anuais chegarão a 150 milhões e espera concluir a transação no segundo trimestre deste ano.

 

A maior parte dos executivos de bancos e de analistas do setor que acompanhavam o processo de venda da Femsa previa que a SABMiller levaria a empresa. A SABMiller, no entanto, deixou a disputa em dezembro, segundo o Wall Street Journal. De acordo com a agência Reuters, que cita fontes próximas a operação, foi a situação da subsidiária brasileira que levou a SAB a desistir do negócio - por causa da participação de mercado pequena e do alto endividamento. A SABMiller não comentou a informação.

 

Para analistas, de qualquer forma, a Heineken precisava da Femsa mais do que a SABMiller, porque a holandesa tem uma presença muito menor em mercados emergentes importantes. Além disso, nos EUA, o maior mercado de cerveja do mundo em lucros, a Heineken tornou-se mais dependente das cervejas mexicanas que importa da Femsa, já que sua própria marca enfrenta dificuldades.

 

"O acordo da Heineken com a Femsa é excelente", disse o analista Kris Kippers, da Petercamm. "A Heineken tornou-se mais presente nos emergentes, não aumentou seu endividamento e protege suas importações nos EUA, que são cruciais para suas operações no país."

 

No comunicado anunciando a compra, a Heineken destacou que o acordo dá ao grupo "a oportunidade de construir valor no Brasil, o segundo mercado mais lucrativo em cerveja do mundo". O portfólio da Femsa no País inclui Kaiser, Summer Draft, Bavaria, Xingu e Sol.

 

Na avaliação dos diretores da Femsa, que classificaram a Heineken como a cervejaria "mais internacionalizada", a transação é complementar aos negócios das duas companhias, porque a integração possibilitará acesso a mercados emergentes antes não acessados pela Heineken e aos mercados desenvolvidos, que a Femsa não conseguia atingir.

 

Segundo o presidente da Femsa, José Antonio Fernández Carbajal, após o forte movimento de consolidação verificado em 2008, marcado pela fusão entre a belgo-brasileira InBev e a americana Anheuser-Busch, a Femsa começou a analisar alternativas para se manter competitiva. "Analisamos as oportunidades e consideramos que poderíamos expandir nossa estratégia e gerar valor aos nossos acionistas com a Heineken."

 

Heineken pode ser saída para Kaiser

 

Marca, que já teve três donos em 28 anos, começou a perder participação de mercado após a criação da AmBev

 

Até cair no portfólio da holandesa Heineken, a cervejaria Kaiser - criada pelo empresário mineiro Luiz Otávio Possas Gonçalves em 1982 - passou por vários donos e enfrentou inúmeras oscilações de participação de mercado.

 

Com preço atraente, a marca ganhou adeptos e, em 2002, chegou a deter 15% de participação nas vendas de cerveja no País. Mas, com a fusão das concorrentes Brahma e Antarctica, que criou a AmBev em 1999, o cenário mudou.

 

A AmBev começou a mostrar sua força. Nem mesmo usando as divertidas campanhas publicitárias com o baixinho da Kaiser, protagonizadas pelo ator José Valien, a companhia resistiu à acentuada perda de mercado.

 

Sem condições de expandir sua atuação, a saída para a Kaiser foi a busca por um sócio. Surgiram no disputado jogo cervejeiro nacional os canadenses da companhia de bebidas Molson. A investida não deu certo e, em 2006, novos donos se candidataram à compra. Desta vez foram os mexicanos da Femsa, um dos maiores engarrafadores de Coca-Cola no mundo.

 

Desde o começo, a holandesa Heineken tinha 17% do capital da Femsa Cerveja Brasil. Ontem, com uma troca de ações no México, a operação da cervejaria Femsa no mundo, que inclui o Brasil, passou para as mãos da Heineken.

 

A atração pelo mercado consumidor brasileiro se justifica. O Brasil é o quatro mercado global, com 10 bilhões de litros consumidos por ano, logo atrás dos chineses, americanos e alemães. Com a crise financeira global, que derrubou as vendas nos países maduros, os países emergentes ficaram ainda mais tentadores.

 

"Os holandeses já participavam do dia a dia da Femsa no Brasil e aposto que existe uma estratégia de médio prazo para dar um salto de expansão no País", avalia o consultor e mestre cervejeiro Matthias Reinold. "Eles vem testando a aceitação do mercado com inovações e embalagens. Lançaram o barrilete de cinco litros que foi um sucesso e fez a AmBev correr atrás. Depois, trouxeram para cá a garrafa de 600 ml de cerveja, que só vendiam na Holanda. São demonstrações de quem conhece e vai disputar o mercado para valer."

 

Presente em mais de 100 países, a Heineken tem sido mais agressiva na sua operação global. O próprio presidente do Conselho de Administração da Femsa, José Antonio Fernández Carbajal, reconhece isso. Disse ontem em conferência com analistas que a companhia deverá ter como foco a inovação no mercado brasileiro. "Eles saberão como inovar lá (no Brasil). Eles não devem entrar em guerra de preço ou algo parecido; devem estar direcionados para geração de valor", disse Carbajal.

 

Aquisição

 

Com 7,2% de participação no mercado em novembro, últimos dados disponíveis da consultoria Nielsen, a Femsa possui, além da Kaiser, as marcas Summer Draft, Bavaria, Xingu e Sol.

 

A pequena participação já é motivo para especulações sobre a possível compra de uma das concorrentes no seu patamar para poder enfrentar a AmBev, que detém a liderança com 70% de participação do mercado cervejeiro. Para analistas, tanto a Cervejaria Schincariol (11,6% de mercado) quanto a Petrópolis (9,6%)podem ser abordadas. Nenhuma delas quis comentar a possibilidade. "Seria uma forma rápida de crescer num mercado promissor", diz o analista Renato Prado, da Corretora Fator. "Mas eles também podem crescer com investimentos em marketing e distribuição. Mesmo assim, acredito que, num primeiro momento, nada deve mudar para a AmBev".

 


Veículo: O Estado de S.Paulo


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