Bebida: A capacidade instalada de 157,4 milhões de hectolitros pode crescer até 15%
João Castro Neves, presidente da AmBev (Companhia de Bebidas das Américas), tem muito trabalho para este ano. Em sua lista de tarefas estão: dobrar a produção em pelo menos três fábricas que operam no Brasil, construir uma nova em folha, a ser inaugurada em 2011, e elevar a capacidade em várias outras, com recursos distribuídos em 13 dos 18 Estados onde funcionam 23 fábricas. Para isso, ele tem na manga a previsão do maior investimento em infraestrutura já feito pela companhia em um único ano: R$ 2 bilhões.
"No total, vamos aumentar nossa capacidade de produção em até 15%", disse Castro Neves, ontem, ao Valor. Além da Copa do Mundo da África do Sul (de 11 de junho a 11 de julho), que pode trazer um aumento de vendas de 10% em relação a julho do ano passado, a empresa vem crescendo em ritmo acelerado. "No ano passado tivemos 7% de elevação no primeiro trimestre, depois mais 7% no segundo e 12% no terceiro", diz Castro Neves. Com os resultados do último trimestre, que serão anunciados em março, a AmBev sai de um ano de 2008 em que houve queda de 2,8% no volume vendido no Brasil para uma expansão em torno de 5%. "Isso é um grande salto", afirma o executivo.
No ano passado, até o terceiro trimestre, a AmBev já havia vendido 71,3 milhões de hectolitros de cerveja no mercado brasileiro, com aumento de 7,5% em relação ao período de janeiro a setembro de 2008. O pico do crescimento deu-se em dezembro, quando até os fornecedores tiveram dificuldades em entregar os insumos necessários para a produção. "Isso aconteceu com lata, com vidro, com todos os insumos da cadeia. Foi uma alta [de demanda] inesperada."
Com um mercado tão promissor, só um fator pode jogar areia nos planos de expansão da AmBev: um aumento da carga tributária. "Estamos em negociação. Nossa meta é que não haja aumento", afirmou o presidente. Esse seria o melhor dos cenários para a empresa.
"Mantendo-se os impostos como estão, o investimento, sem contar o gasto com marketing, chega a R$ 2 bilhões e nossa capacidade de produção terá um acréscimo de 10% a 15%", diz Castro Neves. A companhia, que tem hoje 22 mil empregados, contrataria mais 2 mil. "Se contarmos os empregos indiretos, esse crescimento resultaria em mais 10 mil empregos indiretos na cadeia produtiva e outros 10 mil nas obras de expansão", explica o diretor para Assuntos Corporativos, Milton Seligman.
"Vamos duplicar de três a cinco fábricas e construir mais uma, em lugar ainda não definido, para estar pronta em 2011. Além disso, aumentaremos a capacidade instalada nas fábricas de 13 Estados", explicou Castro Neves (ver os Estados no mapa acima).
A expansão prevista para 2010 pode ter desdobramentos, diz o presidente, referindo-se à Copa do Mundo em 2014 e à Olimpíada em 2016 - no Brasil. Pensando nisso, deverá ser criado um grupo paralelo ao já existente "centro de engenharia", que comanda projetos relativos à produção.
E se houver aumento nos impostos? "Nesse caso, voltamos à nossa previsão inicial para 2010 que é de investir de R$ 1,3 bilhão a R$ 1,5 bilhão. No ano passado nosso investimento foi de R$ 1 bilhão, sem incluir a verba de marketing", disse Castro Neves. A geração de caixa da empresa daria conta da maior parte do investimento em qualquer das duas situações. O restante poderá vir do BNDES ou de emissões de debêntures.
Seja em um cenário ou em outro, a AmBev está preparada para uma briga de gigantes com a holandesa Heineken, que no último dia 5 de janeiro comprou as operações de cerveja da Femsa, tanto aqui no Brasil como no México. "Fiquei surpreso. Achei que quem iria vencer a briga e fazer a aquisição seria a SAB", disse ele, sobre a britânica SABMiller, que também estava na corrida pela aquisição da fabricante da cerveja Kaiser.
De qualquer maneira, Castro Neves diz estar empolgado com o novo concorrente. "Será uma briga que vai dar calor. E calor é bom para vender cerveja", brinca ele. "Se eles vierem com força - e de bobos os holandeses não têm nada - isso nos fará sair da zona de conforto", afirma. "Mas não vejo grandes mudanças se eles encararem essa aquisição como um passo final. Ou seja, compraram a Femsa e se manterão com o que têm. Agora, se para a Heineken o negócio foi um passo inicial para uma expansão no mercado brasileiro, com a compra de um dos dois outros concorrentes o panorama muda", diz o presidente da AmBev, referindo-se às cervejarias Schincariol (segunda colocada em vendas, com 11,8% do mercado em dezembro) e Petrópolis, terceiro lugar, com 9,5%.
E a AmBev estaria planejando alguma nova aquisição? Castro Neves responde que o foco são cervejarias de países da América Central, onde a atuação da empresa ainda é pequena. "Na verdade, em muitos países centro-americanos ainda não há a presença de nenhuma das três maiores cervejarias do mundo", diz ele, se referindo à Anheuser-Busch InBev (controladora da AmBev), à Heineken e à SABMiller. "Na Guatemala e na República Dominicana, as maiores cervejarias pertencem à famílias locais". Dos 14 países onde a AmBev atua, quatro (Guatemala, Nicarágua, El Salvador, República Dominicana) são da região.
Outra possibilidade aventada por analistas seria o mexicano Grupo Modelo, fabricante da cerveja Corona e dono de pouco mais de 50% do mercado mexicano. Metade do controle acionário da cervejaria pertencia à Anheuser-Busch. Com a compra desta pela InBev, a outra metade tornou-se alvo de aquisições. A AB InBev teria interesse, mas está endividada. A AmBev tem baixo endividamento e nenhuma presença no México. Castro Neves não comenta. "Qualquer comentário sobre aquisições no México é especulação."
A América Latina teve comportamento oposto ao do mercado brasileiro. "O ano passado foi ruim por conta da crise na maioria deles. Tivemos fortes retrações, mas devemos publicar um resultado quase que empatando com o de 2008. Mas estamos otimistas de que em 2010 todos esses mercados irão se recuperar". A única exceção pode ser a Venezuela, cuja operação traz prejuízo à AmBev. O governo do presidente Hugo Chávez "não faz restrições diretas à AmBev", diz Castro Neves. Mas as importações estão cada vez mais restritas, o que atrapalha a produção.
De volta ao Brasil, Castro Neves diz que as chuvas que caem sobre a cidade de São Paulo, desde meados de dezembro, prejudicam as vendas. "Não tivemos queda, mas crescemos menos do que o previsto", disse. Mas o aguaceiro paulistano não diminui a empolgação em relação ao mercado brasileiro, que deve passar a produzir também a cerveja americana Budweiser, provavelmente neste ano.
Veículo: Valor Econômico