A Coca-Cola Co. fechou acordo ontem para comprar boa parte de sua maior engarrafadora, seguindo o exemplo de uma transação semelhante em andamento na concorrente PepsiCo Inc., enquanto as duas competem para atender as preferências em mutação do consumidor norte-americano.
Num acordo avaliado em cerca de US$ 12 bilhões, a Coca vai comprar as operações norte-americanas da Coca-Cola Enterprises Inc. Ao mesmo tempo, a CCE vai comprar as engarrafadoras da Coca na Noruega e na Suécia, e talvez mais tarde a participação que a Coca tem em engarrafadoras alemãs, e uni-las a suas operações no Reino Unido, França e outros países europeus, criando uma engarrafadora independente de grande porte no continente.
O acordo representa uma mudança importante na estratégia empregada pela Coca nos Estados Unidos desde 1986, quando a empresa, sediada em Atlanta, desmembrou a CCE e abriu seu capital.
O negócio ocorre também ao mesmo tempo em que a PepsiCo está prestes a concluir a aquisição de suas duas maiores engarrafadoras, o que pressionou a Coca a fazer um acordo semelhante para obter as mesmas vantagens competitivas.
O presidente da Coca, Muhtar Kent, disse ontem a investidores e analistas que o acordo é "uma evolução" da estratégia da empresa para o engarrafamento, em vez de uma reviravolta.
"Forças nos fundamentos da indústria alteraram o cenário do consumo, de clientes e da concorrência", disse ele. "Nosso sistema de franquias não pode ficar estático. Temos de criar a nova geração de oportunidades de obter alto retorno."
O controle de sua maior engarrafadora nos EUA dará flexibilidade à Coca. Ela pode decidir distribuir outros produtos por meio de seu sistema de engarrafamento, que lhe permite enviar itens diretamente aos varejistas. Ou pode usar armazéns para entregar bebidas - um método mais barato e preferível para produtos pequenos demais ou cujo lucro não é suficiente para distribuir a um custo satisfatório por meio do sistema mais caro de "entrega direta à loja".
Isso ajuda a acomodar mudanças mais amplas nos hábitos de consumo das pessoas. Essas mudanças aumentaram a pressão sobre o sistema de engarrafadoras nos EUA, tradicionalmente voltado para a fabricação e venda de refrigerantes, em vez dos tipos de bebidas que estão crescendo mais rapidamente hoje em dia, como café engarrafado ou água aromatizada e vitaminada.
A PepsiCo anunciou em abril que pretendia comprar a Pepsi Bottling Group Inc. e a PepsiAmericas Inc. A Pepsi informou que o acordo de US$ 7,8 bilhões, que deve ser concluído hoje, permitirá que ela controle melhor o desenvolvimento, distribuição e marketing de novos produtos.
Ao controlar suas engarrafadoras, a PepsiCo poderá negociar sozinha com varejistas, em vez de ter de dividir essa tarefa com representantes de engarrafadoras de capital separado do seu. Quando a presidente da PepsiCo, Indra Nooyi, anunciou o negócio, disse que controlar as duas engarrafadoras lhe daria mais flexibilidade para decidir como as bebidas devem ser distribuídas.
"Podemos acelerar o crescimento da receita e nos tornarmos mais ágeis e flexíveis", disse Nooyi na época.
A Coca continua comprometida a canalizar a maior parte de suas vendas mundiais para um sistema de engarrafadoras independentes, disse Kent ontem. A Coca vende atualmente 80% de seu volume mundial por meio das engarrafadoras franqueadas, disse ele. Quando o acordo for concluído, no quarto trimestre, cerca de 72% do volume total ainda será vendido pelos franqueados, disse ele."(As engarrafadoras) ainda são uma parte importante de nosso volume total", disse ele.
Os acionistas da Coca-Cola Enterprises vão trocar cada ação dela por US$ 10 em dinheiro e uma ação da nova CCE focada somente na Europa. A Coca também vai assumir US$ 8,88 bilhões em dívidas e todos os ativos e passivos da América do Norte. A Coca atualmente detém 34% da Coca-Cola Enterprises.
A CCE vai comprar as operações de engarrafamento da Coca na Noruega e Suécia por US$ 822 milhões e, no futuro próximo, 83% da engarrafadora da Coca na Alemanha.
"Apesar de já termos argumentado que a Coca teria de fazer isso em algum momento, achamos que as implicações de curto prazo para a ação são negativas, já que os mercados serão relativamente surpreendidos", disse o analista do J.P. Morgan Chase John Faucher num relatório para investidores.
O acordo também serve para validar a estratégia da PepsiCo.de comprar suas engarrafadoras, disse ele, mas vai tirar algumas das vantagens competitivas da PepsiCo. no curto prazo. A ação da CCE subiu 32,9% ontem, para US$ 25,48, enquanto a da Coca caiu 3,7%, para US$ 53,12, ambas cotações da Bolsa de Nova York.
Veículo: Valor Econômico