Bebidas: Queda no volume foi de apenas 1,6%, mas produtores se preocupam com as opções mais baratas
As vinhas na região da Califórnia estão vazias, com os negociantes de vinho à espera da primavera setentrional e dos brotos que prenunciarão a safra do próximo ano. Mas, enquanto os produtores podam fileiras e mais fileiras, há um ar de palpável sobriedade, como se um denso nevoeiro tivesse encoberto o normalmente exuberante Vale de Napa.
Em 2009, as vendas, em volume, de vinho californiano caíram pela primeira vez em 16 anos, contração que marcou o fim de um dos melhores períodos de crescimento da região. As vendas caíram em 4 milhões de caixas, para 236 milhões, segundo analistas. Embora isso represente um declínio de apenas 1,6% na produção, cujo valor é estimado em US$ 19 bilhões, a queda foi suficiente para preocupar seriamente alguns veteranos na indústria de vinho. "Isso é como uma chave inglesa apertando muitos plantadores de uvas e mercados de produção de vinho e continuará sendo assim", diz Jon Fredrikson, consultor especializado em vinho. Produtores de vinho, distribuidores e a economia local de Califórnia sentiram o impacto.
Os hábitos dos consumidores foram virados de ponta-cabeça pela recessão e, durante os espasmos da crise econômica, muitos tiveram a impressão de que as pessoas simplesmente pararam de beber. "Batemos no muro há um ano", disse Vic Motto, CEO da Global Wine Partners, um banco de investimento especializado em empresas do setor vinicultor. "Alguns produtores tiveram queda de 30% nas vendas."
Além do impacto da recessão, outros fatores agiram para interromper a onda de expansão dos vinhos na Califórnia. "Foi a economia mais difícil, o afastamento em relação ao supérfluo, a combinação de problemas com a colheita e uma mudança marcante no comportamento dos consumidores", diz Benjamin Sharp, presidente da Captûres Wines, uma nova vinicultura, em Sonoma County.
Parte do problema da Califórnia é que seu vinho é muito bom - de alta qualidade, preço alto, o que leva consumidores a comprar produtos mais baratos em tempos de recessão. "Quanto maior o preço do vinho, mais eles tiveram dificuldade", disse Motto.
Os consumidores que antes compravam garrafas da Califórnia, agora têm opções mais baratas de sobra, do Chile [que deve sofrer, agora, com o impacto do terremoto ocorrido na madrugada do sábado], Argentina e Austrália, para citar apenas alguns. "Não se trata de ter que ficar sem" vinhos, disse Fredrikson. "Em vez de gastar US$ 50 por uma garrafa, você pode gastar US$ 10 ou US$ 20."
Essa opção por produtos mais baratos levou a impactos desiguais no de vinhos. Enquanto as lojas de vinho com preços mais altos foram as mais atingidas, muitos dos maiores produtores, que vendem os chamados "vinhos de supermercado", tiveram anos recorde.
Como a maioria dos vinicultores é de capital fechado, não divulga números precisos de vendas. E poucos quiseram discutir os problemas de uma comunidade tão coesa. Houve, entretanto, alguns pontos luminosos. A Captûre Wines, fundada por Sharp, sua esposa Tara e quatro outros sócios, teve sucesso surpreendente em seus primeiros anos de atividade. Ao fazer seu primeiro lançamento no meio da recessão, a empresa foi obrigada a entrar no mercado com preços mais baixos do que teria cobrado em outra situação.
"Todos sofreram o impacto", disse Tara. "Tivemos de nos perguntar várias questões difíceis." A Captûre decidiu vender seu Sauvignon Blanc 2008 por US$ 32, uma pechincha para um vinho fino. Antes da recessão, teria vendido a mesma garrafa por algo entre US$ 75 e US$ 100.
A Captûre teve êxito e conseguiu vender 90% de seu lote, por meio de uma política agressiva de vendas diretas. (Tradução de Sabino Ahumada)
Veículo: Valor Econômico