O ano de 2009 começou "complicado" para Adriano Schincariol, que no fim de 2008 retomou o comando da segunda maior fabricante de cerveja do país. O prejuízo líquido na Schincariol chegou a R$ 127,5 milhões e a crise financeira global colocava um ponto de interrogação no planejamento. Um ano depois, o quadro é bem diferente. O volume de vendas, que inclui sucos, refrigerantes e água, cresceu 11,1% em relação a 2008, o faturamento subiu 12,8%, para R$ 5,1 bilhões, e o lucro ficou em R$ 366,3 milhões, graças ao Nordeste.
A demanda, nesses primeiros meses de 2010, continua tão aquecida que, a exemplo da concorrente e líder do mercado de bebidas AmBev, a Schincariol está importando latas para suprir as suas 14 fábricas, que estão operando, em média, com 70% da capacidade instalada. "Estamos importando do México, dos Estados Unidos e da Argentina", disse Adriano Schincariol ao Valor, que voltou à presidência da empresa em dezembro de 2008, depois de uma gestão de dois anos de Fernando Terni, que havia saído da Nokia.
O consumidor vem aumentando a presença das latinhas no carrinho do supermercado, nos bares e nos restaurantes. Antes do pico de consumo, que foi bem forte neste verão, a lata representava cerca de 30% do volume das vendas. "Hoje é 35%. O mercado mudou", diz Adriano. A Abralatas, que reúne produtores, calcula um déficit de 1,5 bilhão de latas neste ano.
E, apesar do câmbio favorecer a importação, a latinha que vem de fora, que equivale entre 30% e 40% do custo de uma lata de cerveja, pode levar a um aumento de preços nos próximos meses. Adriano vai testar a "elasticidade" do mercado - ou seja, até que ponto o consumidor aceita pagar um preço maior sem desistir do produto. Em 2009, lembrou, o movimento foi o inverso: o preço ficou menor e as margem de lucro também.
A Schincariol conseguiu sair do vermelho em 2009. A operação no Nordeste, onde a empresa lidera o mercado de cervejas, com fatia de 35%, explica a maior parte do lucro de R$ 366,3 milhões. Em São Paulo e no Rio houve prejuízo.
A receita líquida cresceu 12,5%, para R$ 2,6 bilhões. E a geração de caixa (lajida) chegou a R$ 287 milhões, com aumento de 160,9%. O endividamento de curto prazo (um ano) é de R$ 250 milhões e os recursos em caixa, em dezembro, somavam cerca de R$ 280 milhões.
Adriano já havia dito, logo após o Carnaval, que a Schincariol deverá investir R$ 1 bilhão neste ano, sendo 80% desse valor na produção, distribuída nas 14 fábricas, capazes de produzir 4,5 bilhões de litros de cerveja, sucos, refrigerantes e água. "Ainda estamos definindo em quais unidades e em quais produtos", diz. Mas, provavelmente, a cerveja deverá absorver a maior parte da verba. O valor é o dobro do gasto em 2009, "ano de crise, quando fomos mais cautelosos".
Ele calcula que neste ano vai precisar de mais 1 mil funcionários - o quadro atual é de 9,3 mil, menor do que os 10,5 mil registrados em 2008. O mercado de bebidas neste ano, estima Adriano, pode crescer 10%. No cenário mais otimista, 20%. "Se o mercado estourar, em 2011 vamos construir uma nova fábrica".
A empresa, diz Adriano, será mantida "de capital fechado e controle familiar". "Não precisamos da bolsa. Geramos caixa suficiente", diz Fernando Mitri, presidente do conselho de administração da Schincariol, no qual sentam também Adriano, o irmão Alexandre e o primo José Augusto.
Veículo: Valor Econômico