A venda de refrigerantes regionais deve subir neste ano; ainda confinadas em suas regiões de origem , algumas empresas pretendem criar franquias em São Paulo
Em 1886, uma pequena farmácia em Atlanta, nos Estados Unidos, pôs à venda pela primeira vez a Coca-Cola.
A bebida gaseificada, batizada desde então com o nome que carrega até hoje, foi criada por um farmacêutico que andava manipulando fórmulas medicinais para fazer um remédio para dor de cabeça. Da mistura do xarope com água gasosa nasceu o produto de maior potência no setor, hoje presente em mais de 200 países.
No Brasil, também há histórias de refrigerantes regionais centenários para contar. Como a Coca, alguns surgiram de experimentos químicos -em cidades como Juazeiro do Norte e Santa Catarina. Mas exemplares nacionais não repetem a enorme expansão americana -ainda que as empresas brasileiras estejam tentando mudar esse cenário atual.
Mesmo antes de romper as fronteiras, essas bebidas devem ter a venda alavancada neste ano (alta de 5%), segundo a Associação dos Fabricantes de Refrigerantes do Brasil. "O calor e a Copa são fatores que contribuem", diz Fernando Rodrigues de Bairros, presidente da instituição, que lança neste mês a revista "Bebidas do Brasil" e, ainda neste semestre, um livro sobre a história do setor.
Refrescos regionais
Em 1930, chegou ao Brasil um químico italiano especializado em balas. Sua intenção era fazer um refrigerante sabor tutti-frutti. Os experimentos que começaram numa fábrica de doces viraram a Tubaína, marca registrada em 1938 pela Ferraspari, uma empresa de bebidas de Jundiaí (SP) -nome que hoje também se refere ao sabor característico. "Tubaína virou sinônimo de refrigerante popular", diz Paulo Penteado, gerente de vendas. "A bebida é feita com extrato de guaraná e aromas da França."
Restrito a cidades do Sudeste, Penteado diz que o transporte é caro e inviabiliza a venda em outras regiões. "Mas temos um projeto que está engatinhando: venderíamos o concentrado e teríamos franquias em outros Estados, responsáveis pelo engarrafamento." Por enquanto, a bebida pode ser encontrada em locais como o Lá da Venda (r. Harmonia, 161, tel. 0/xx/11/ 3037-7702) e o Mocotó (av. Nossa Senhora do Loreto, 1.100, tel. 0/ xx/11/ 2951-3056).
Da mesma ação se vale a empresa do Mate Couro, que combina ervas nativas de Minas Gerais -mate e chapéu-de-couro.
Depois de atender o Estado de origem, a fábrica disponibilizou a bebida "muito modestamente" no Espírito Santo. Em São Luís, uma franquia recebe o concentrado e o engarrafa.
"Frete para grandes distâncias encarece o produto, que não compete com os locais", diz o diretor Rodrigo Savassi.
Sob o comando da terceira geração dos fundadores, a empresa de 1947 tinha na primeira sociedade um farmacêutico do norte de Minas, que cedeu a receita do refrigerante. "A fórmula foi aprimorada, mas o princípio do produto é mantido até hoje", diz Savassi.
No caso do refrigerante de gengibre típico de Curitiba (conhecido como Gengibirra), quem deu impulso à fórmula foi um imigrante italiano -e anarquista- que, no início do século 20, produzia licor e cerveja. A família usava um processo artesanal e carroças para carregar seus produtos. Segundo conta Nilo Cini, diretor da fábrica, o produto surgiu de um hábito de descendentes italianos produzir a bebida em casa. "Utilizava-se água, gengibre, fermento e açúcar."
Tradicional no Paraná, o refrigerante de gengibre está à venda somente em um restaurante de São Paulo, o Na Cozinha (r. Haddock Lobo, 955, tel.
0/xx/11/3063-5377), que serve outras quatro gasosas regionais. "Mas estamos em fase final de um projeto para direcionar o produto a pontos de conveniência, para que a empresa esteja presente em outros Estados", diz o empresário.
Mais ao sul, em Santa Catarina, o hit é o Laranjinha, com sabor suave de suco de laranja.
Fundada em 1925 por um imigrante alemão, a empresa Max Wilhelm teve o conceito importado da Europa. "Quem toma lembra da infância, é uma peculiaridade da região. Surgiu antes da própria Coca-Cola no Brasil", conta Otavio Greul, da família de donos.
No interior do Ceará, foi instalada a primeira fábrica de refrigerante de caju do Brasil.
Perto dali, em Fortaleza, funciona também a Mais Sabor, que produz uma bebida que segue o mesmo princípio. "Na verdade, Cajuína é um produto regional, um suco de caju translúcido", diz Guilherme Peixoto, superintendente da fábrica.
Também no Nordeste, está concentrada a produção do Guaraná Jesus. Desenvolvido pelo farmacêutico Jesus Norberto Gomes no início do século 20, em São Luís, é cor-de-rosa e tem sabor de cravo e canela. Apesar de estar restrita ao Maranhão e a algumas cidades do Tocantins, a marca foi comprada, em 2001, pela Coca.
Veículo: Folha de São Paulo