Grenache: Vinhos produzidos com essa variedade, sozinha ou compondo "blends", começam a despontar no país.
Vários pontos foram discutidos sobre a uva grenache no simpósio realizado no início do mês e que foi tema das duas últimas colunas aqui no Valor. Um deles dizia respeito às tantas virtudes dessa casta, mas que são desconhecidas por boa parte dos consumidores mundo afora. A primeira é a capacidade de se compor com outras variedades, dando caráter e equilíbrio ao vinho. É o caso, por exemplo, dos châteauneuf du pape, tintos onde tem presença marcante, contribuindo para dar textura, volume e grau alcoólico, e que é secundada pela syrah, que acrescenta cor e sensação de fruta, e por mourvèdre, que confere estrutura (a "coluna vertebral"). Essa composição, aliás, é muito utilizada em outras regiões e países, sendo comumente identificada pela sigla "GSM" no rótulo.
Há muitas versões de "blends" interessantes com a grenache, que variam em função do terroir e tradições do local onde é cultivada, como no Priorato e zonas vizinhas, tais quais Montsant e Tarragona, na Catalunha, que se valem da cariñena para aportar acidez e frescor. A facilidade em ter afinidade com outras variedades de uva não significa que a grenache não possa brilhar sozinha. Na própria França, seguindo os passos do Château Rayas, já se percebe alguns rótulos indo nessa direção, o mesmo ocorrendo na Austrália, que tem parreiras antigas, centenárias mesmo.
Os australianos, na verdade, têm vários vinhos de prestígio elaborados em sua totalidade com essas vinhas antigas e que expressam todo o potencial da casta. Entre eles, vale destacar os produzidos pela Clarendon Hills, uma vinícola de ponta situada em McLaren Vale, cerca de 40 quilômetros ao sul da cidade de Adelaide, a partir de vinhedos implantados em Blewitt Springs, zona considerada "grand cru" de grenache. Alguns desses vinhos estão chegando finalmente ao Brasil - não entendo porque demorou tanto para alguém se interessar em importar - através de uma nova importadora, a Vinissimo - www.vinissimo.com.br . Vale a pena ir atrás, tanto do Hickinbotham Grenache 2007 (R$300,00), do vinhedo do mesmo nome, quanto do Romas 2007 (R$515,00), elaborado a partir da melhor parcela de parreiras plantadas em 1925.
Veículo: Valor Econômico