João Santos Noronha, um dos herdeiros do grupo pernambucano João Santos, investe R$ 60 milhões para criar uma nova fabricante de cervejas para atuar no Nordeste
Nas últimas duas décadas, o pernambucano João Santos Noronha, 41 anos, se preparou para herdar o comando do Grupo João Santos, um conglomerado com tentáculos nos setores de cimento, comunicação, transporte, papel e celulose, cuja receita gira em torno de R$ 2 bilhões.
Foi na empresa que leva o nome do falecido avô que Noronha, graduado em administração, aprendeu tudo o que sabe sobre negócios. Lá, ele galgou diversas posições até assumir o posto de superintendente. Em março deste ano, contudo, Noronha deixou o grupo. A demora na definição do processo sucessório fez com que o empresário partisse para a carreira solo.
Junto com um grupo de investidores, ele resolveu apostar no mercado de cervejas e acaba de desembolsar R$ 60 milhões na criação da Companhia Brasileira de Bebidas Premium (CBBP). Esse dinheiro será destinado para a construção de uma fábrica em Pindoterama (CE), com inauguração prevista para dezembro, e para investimento nas áreas de distribuição e marketing. Quantia idêntica será aplicada na duplicação da fábrica a partir de 2011 o que fará a capacidade total atingir 300 milhões de litros até 2014. O objetivo é produzir cervejas de qualidade superior, vendidas no varejo por mais de R$ 1,80 na versão long neck.
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Noronha rejeita qualquer comparação com microcervejarias, como a paulistana Baden Banden e a carioca Devassa, que tiveram sucesso, mas acabaram absorvidas pela Schincariol. “Em comum com essas marcas, teremos apenas a qualidade e a aposta em produtos premium, com foco nos consumidores do topo da pirâmide”, diz Noronha, presidente da CBBP, com exclusividade à DINHEIRO.
Para dar vida à nova companhia cervejeira, o empresário estudou o mercado durante os últimos três anos. Neste período, ele visitou cervejarias na Europa e nos Estados Unidos, como a renomada Brooklyn Brewery. Também conheceu as rivais brasileiras e ficou impressionado com a paraense Cerpa. “Ela mistura o charme das cervejarias artesanais com uma política comercial agressiva semelhante à das gigantes”, diz.
O empreendedor chega ao setor em um momento de muita efervescência. De acordo com a consultoria Lafis, o faturamento das cervejarias deverá saltar dos R$ 29 bilhões obtidos em 2009 para R$ 39,6 bilhões em 2012 (leia quadro). “As perspectivas são otimistas para o segmento, especialmente no Nordeste”, avalia Julia Perez, analista da Lafis.
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Noronha sabe disso. Tanto que pretende concentrar sua atuação no eixo São Luís (MA) - Recife (PE). “Trata-se de uma área que possui 20 milhões de habitantes e onde existem diversos núcleos de consumidores das classes A e B ávidos por experimentar novos produtos”, aposta Noronha.
Ciente do poder das concorrentes, o sócio da CBBP traça planos modestos para os primeiros anos de operação. A ambição é dominar uma fatia de 5% dos mercados nos quais pretende atuar até 2012. A distribuição será fundamental para o negócio. Para isso, a CBBP está contratando 300 profissionais para os departamentos de marketing e comercial.
Antes mesmo de começar a produção, o empresário está alinhavando acordos para a importação de marcas consagradas da Espanha e da Alemanha. Ele não revela os nomes, mas, no mercado, as apostas recaem sobre San Miguel e Köstritzer, respectivamente. De imediato, a CBBP vai produzir dois tipos de cerveja e distribuir outras quatro bebidas importadas.
Com isso, Noronha espera atingir uma receita de R$ 120 milhões em 2011. O empresário, contudo, não é o único que vê o Nordeste como uma espécie de eldorado. A líder AmBev acaba de anunciar um investimento de R$ 620 milhões na região. Do total, R$ 260 milhões serão gastos para construir uma fábrica em Pernambuco.
O nicho de cervejas premium também aparece em destaque no radar das gigantes. A Femsa acaba de trazer cinco marcas do portfólio global de sua controladora Heineken. A Petrópolis, por sua vez, vai produzir no Brasil a alemã Weltenburger. Apesar de representar apenas 4% do mercado, esse nicho é visto como uma espécie de filé pelos fabricantes.
“A margem de lucro chega a ser seis vezes maior em relação às cervejas convencionais”, explica Douglas Costa, gerente de marketing do Grupo Petrópolis. Na avaliação de Rafael Burquim, analista de consumo da corretora Planner, a aposta das empresas está em sintonia com o desejo dos clientes. “A renda mais elevada anima os consumidores a buscar opções mais sofisticadas. Por conta disso, não seria surpresa se, ao final de 2015, as cervejas premium representarem cerca de 20% das vendas do setor”, diz. E é nisto que Noronha aposta.
Veículo: Revista Isto É Dinheiro