Selo vai atestar a qualidade da aguardente dos alambiques do Estado, principal produtor do País
Aumentar a credibilidade da aguardente paulista é o objetivo da Associação Paulista dos Produtores de Cachaça de Alambique (APPCA), que está em processo de criação de um selo que irá atestar a qualidade da “caninha” produzida no Estado. A iniciativa conta com o apoio do Instituto de Química da USP de São Carlos, que em dezembro realiza o 4º Concurso de Avaliação da Qualidade da Cachaça, entre os dias 2 e 5. O objetivo da seleção é premiar as melhores cachaças, tanto do ponto de vista químico quanto sensorial, além de fornecer ao produtor a posição e aceitação de seu produto dentro do conjunto de aguardentes avaliadas.
A produção nacional de cachaça atinge 1,2 bilhão de litros por ano, e São Paulo é o maior produtor do País por concentrar grandes destilarias da bebida, informa o presidente da APPCA, Reinaldo Annicchino. Segundo ele, promover a aguardente de alambique, produto diferenciado das caninhas destiladas em processos industrializados, é a estratégia para aumentar as exportações e o consumo da cachaça paulista no mercado interno.
Cerca de 10% da aguardente brasileira é obtida por meio da destilação em alambique, processo artesanal que transforma o caldo de cana fermentado em um destilado cristalino, que pode ser comercializado imediatamente após a fabricação ou ser envelhecido em tonel de carvalho, processo que encarece o preço da garrafa e valoriza a bebida apreciada pura.
Conforme Annicchino, o método do alambique é o trunfo para promover o destilado paulista, que atinge nível de qualidade comparável com as boas aguardentes produzidas em outros cantos do País como Minas Gerais, por exemplo. A diferença, segundo ele, é que os produtores mineiros promovem a cachaça há mais tempo, com o uso de ferramentas de marketing e apoio de políticas de promoção da bebida.
Setor
Segundo o Instituto Brasileiro da Cachaça (Ibrac), o setor é formado por 40 mil produtores, com cerca de 4 mil marcas formais e emprega mais de 600 mil pessoas. São Paulo, Pernambuco, Ceará, Minas Gerais e Paraíba são os estados brasileiros de maior destaque na produção. Em São Paulo, a APPCA reúne 15 produtores, responsáveis por fabricar 800 mil litros da bebida em processo de destilação em alambiques espalhados em diversas cidades do Estado, como Catanduva, Serra Negra, Americana, Amparo e Jarinu, entre outras.
Para conseguir o selo de qualidade, os produtores terão de submeter seus destilados a uma análise química que irá levar em conta todos os componentes presentes na bebida. O anúncio do programa e de outras iniciativas deve ocorrer ainda no segundo semestre, em evento no Mercado Municipal de São Paulo.
Garrafa pode custar até R$ 350,00, diz comerciante
Quem entende do assunto e tem paladar apurado — o que é diferente de matar a pinga na golada, se importando apenas com os efeitos farmacológicos do destilado — chega a pagar R$ 350,00 por uma garrafa da bebida na Companhia da Cachaça, casa especializada em caninhas de qualidade. Segundo o gerente Alberto José Rodrigues, o preço varia conforme a destilação, tradição e tempo de envelhecimento. “São fatores muito bem avaliadas pelo público e estudiosos,” conta o gerente da cachaçaria que existe há cinco anos e vende produtos com preço médio de R$ 40,00. Apesar de oferecer cachaça de diversas partes do País, as marcas paulistas também fazem sucesso. Alguns exemplos são: Ouro de Cana, Cachaça Zanoni, Cachaça do Rei e Cachaça Da Diretoria, totalizando 10% de participação das marcas paulistas. “Os clientes se surpreendem com a qualidade da bebida dos alambiques de São Paulo. As boas cachaças paulistas, quando oferecidas para degustação, sempre surpreendem, causando bons comentários e uma boa impressão”, diz o comerciante, que acredita que incentivos do governo e ações conjuntas promovidas por cooperativas e associações são o caminho para promover a cachaça paulista artesanal. (SV/AAN)
Alambique deve iniciar safra no final de julho
A safra 2010 da cana-de-açúcar na Fazenda Santa Cruz, deve começar entre esta semana e o início do mês de agosto. Na propriedade localizada em Capivari, cidade que fica a 56 quilômetros de Campinas, está instalado o alambique onde é produzida a Cachaça do Rei, aguardente obtida a partir de processos artesanais que, segundo o fabricante, resultam em uma cachaça três vezes mais pura que as aguardentes de processo industrializado.
Segundo o engenheiro agrônomo Reinaldo Annicchino, responsável pelo alambique, a fabricação de cachaça utiliza as canas plantadas em um talhão que abrange 1% da propriedade atualmente arrendada para uma usina de açúcar. Diferentemente da pinga, que é talagada de uma só vez, a cachaça permite o reconhecimento de sabores frutados e notas de madeira provenientes do tonel no qual foi envelhecida.
O alambique da Fazenda Santa Cruz tem capacidade para 300 litros de carga por processo, e ao longo de um dia de destilação ocorrem quatro ciclos que totalizam 160 litros de bebida. A produção anual é de 15 mil litros da bebida, mas pode triplicar o volume.
O produto recebe beneficiamento de substituição tributária e chega aos distribuidores e atacadistas a R$ 24,50 a garrafa da envelhecida e R$ 15,48 na versão branca. Annicchino calcula que o preço pago pelo consumidor chega a R$ 40,00 a versão envelhecida e R$ 25,00 a versão branca. O produto foi medalha de ouro em 2004 no Concurso de Avaliação da Qualidade da Cachaça e, no momento, amostras da Cachaça do Rei foram enviadas para os EUA, Alemanha, Portugal e Itália, mercados que estudam a importação do produto paulista.
Veículo: Correio Popular - Campinas/SP