O mercado premium das loiras cresce, desperta o interesse de empresas e aproxima o público de produtos artesanais. Em alguns casos, roubando o espaço do vinho
Nos anos 90, o vinho alemão branco suave Liebfraumilch era a sensação. A garrafa azul e o nome difícil de pronunciar davam à bebida uma aura de exclusividade que fez do vinho um dos mais vendidos na época. Seu sucesso foi um marco, não pela qualidade da bebida, mas porque abriu as portas para o mercado de importados.
Agora um fenômeno parecido está ocorrendo com a cerveja. Após anos de mesmice, com um número restrito de rótulos ofertados e propagandas apelativas, ao que parece, o mercado está mudando. Assim como aconteceu com os vinhos, a procura por cervejas de melhor qualidade está aumentando, e diversas empresas começaram a apostar nesse nicho.
Quando se fala do mercado de cerveja em geral, os números são astronômicos: no ano passado o País consumiu 10,9 bilhões de litros de cerveja e o faturamento ficou na faixa dos R$ 31 milhões, de acordo com dados do Sindicato Nacional da indústria da Cerveja (Sindicerv). Estima-se que o mercado premium tenha sido responsável por 5% desse total.
A questão é que os empresários estão otimistas. “Há países da Europa em que o mercado de cerveja premium representa de 15% a 20% do mercado. Temos muito o que crescer”, aponta Pedro Earp, diretor das marcas premium da AmBev, dona de rótulos como Bohemia, Original e Stella Artois.
E, para esse crescimento, não faltam novos serviços que aparecem para atender à demanda de um público cada vez mais exigente. A Mr. Beer, uma rede de quiosques que comercializa cervejas premium, é prova disso.
Fundada há menos de um ano pelos jovens empresários Rodolfo Vieira Alves Jr. e Fabiano Augusto Wohlers, de 28 e 32 anos, respectivamente, já conta com oito unidades em shopping centers no Estado de São Paulo – são três na capital – e está em expansão.
Tudo começou quando Alves e Wohlers, dois executivos do mercado financeiro, perceberam que seu hobby preferido era explorar cervejarias para descobrir novos sabores. Não demorou até que surgisse a ideia de criar um negócio que reunisse diversos rótulos entre raridades e produtos premium em um mesmo local.
“O mundo das cervejas premium é tão rico quanto o do vinho”, conta Alves, que recentemente largou o emprego para cuidar da expansão da Mr. Beer. Já são mais de 100 rótulos oferecidos, entre nacionais artesanais e importadas, com destaque para a cultuada belga Deus (R$ 200) e a escocesa Ola Dubh (R$ 79), maturada em barris de 40 anos.
Outra companhia que nasceu da expectativa de aumento do mercado é a Bierboxx. Trata-se de uma empresa online que vende cervejas premium variadas. Seu diferencial: entregar cervejas geladas em casa (ainda disponível apenas para Rio e São Paulo).
O site entrou no ar no final de fevereiro e desde então já viu o tíquete médio dobrar de R$ 100 para R$ 200. “Estamos sentindo que o mercado cresce muito e rapidamente”, diz Marcela Miranda, uma das sócias do empreendimento.
Os planos da empresa incluem a abertura de um empório para palestras e degustações na cidade de São Paulo. É dela a exclusividade da venda online da cerveja criada pela banda Sepultura (R$ 9), além de oferecer belgas feitas em monastérios, chamadas trapistas.
Até as grandes cervejarias perceberam que investir em marcas premium é um bom negócio. O Grupo Schincariol, por exemplo, somente nos últimos dois anos, adquiriu três microcervejarias: a Baden Baden, de Campos do Jordão, no interior de São Paulo; a carioca Devassa e a Eisenbahn, de Blumenau, em Santa Catarina.
“Trata-se de uma política do grupo ter cervejas para todos os tipos de público”, conta Luiz Taya, diretor de marketing do Grupo Schincariol. “Não existe uma briga da cerveja com o vinho. Cada um tem seu lugar”, diz Edu Passarelli, um dos maiores especialistas em cerveja do Brasil. As premium, porém, nunca estiveram tão em alta.
Veículo: Revista Isto É Dinheiro