Bebidas: Brasileiro já não compra apenas no fim do ano e volume em 2010 deve chegar a 13 milhões de litros
Perseguida há anos pelas vinícolas, a gradual redução da sazonalidade do mercado está ajudando a aumentar as vendas de espumantes. De 2005 a 2010, a demanda pelo produto nacional deve praticamente dobrar de 6,7 milhões litros para o volume recorde de 13 milhões; e a concentração do consumo nos dois últimos meses do ano deve cair de 47,9% das vendas totais para 37%.
Os dados do Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin) referem-se à produção do Rio Grande do Sul, que responde por 90% dos espumantes brasileiros. O presidente do conselho deliberativo do Ibravin, Júlio Fante, atribui a melhor distribuição das vendas durante o ano a um longo processo de melhora da qualidade e da divulgação do espumante nacional; ao aumento de renda e à mudança de hábitos dos consumidores. Estes deixaram de associar o produto exclusivamente a comemorações como Ano Novo, formaturas e casamentos.
"O espumante está se tornando mais gastronômico do que festivo", observa o diretor nacional de vendas da Miolo, de Bento Gonçalves, Alexandre Miolo, que também aposta na queda da concentração das vendas para 37% no último bimestre deste ano. Para o enólogo Adolfo Lona, ao longo da década o índice pode baixar para até 30% e na vinícola que leva seu nome, em Garibaldi, os meses de novembro e dezembro devem responder por no máximo 35% em 2010, ante mais de 40% há cinco anos.
Conforme os empresários do setor, o espumante vem ganhando espaço em bares, restaurantes, eventos culturais e empresariais, reuniões informais de amigos e até na praia. Na Salton, a maior fabricante do segmento no país, por exemplo, a participação do quarto trimestre sobre as vendas caiu de 85% para 55% nos últimos cinco anos, calcula o presidente da vinícola, também de Bento Gonçalves, Daniel Salton. "No Rio Grande do Sul já se acompanha até churrasco com espumante", comenta.
Além de estimular a desconcentração do consumo, o setor entende que a melhora da qualidade e a divulgação do produto nacional tem conseguido restringir a participação dos importados a menos de 28% do mercado desde 2007, ao contrário do segmento de vinhos finos, onde a fatia dos estrangeiros passa de 75%.
Segundo o gerente de marketing da cooperativa Garibaldi, Maiquel Vignatti, o espumante brasileiro ganhou "credibilidade" graças à relação custo-benefício mais atrativa. "Na mesma faixa de preço nossos produtos têm ampla vantagem sobre os importados", reforça Miolo.
"O terroir (características de solo e clima de uma região onde são cultivadas uvas viníferas) adequado e a boa imagem tornam o produto nacional menos vulnerável à concorrência dos importados", afirma o diretor comercial da vinícola Perini, de Farroupilha, Franco Perini. Além disso, conforme Lona, o Chile e a Argentina, maiores exportadores de vinhos finos para o Brasil, não têm o mesmo foco e a mesma qualidade quando se trata de espumantes.
A Salton prevê para este ano vendas totais de 6,2 milhões de garrafas de espumantes, o que representa uma alta de 19% sobre 2009 e corresponde, em litros, a 36% de toda a demanda pelo produto nacional no país, prevista pelo Ibravin. Segundo o presidente da empresa, neste ritmo o estoque de moscatel (espumante adocicado elaborado com uvas do tipo moscato) deve acabar em dezembro e a próxima safra estará disponível apenas em março.
Considerando o segmento de vinhos, a vinícola vem operando a 80% da capacidade instalada e vai investir R$ 10 milhões em uma segunda linha de produção, que deve operar até o início de fevereiro. Conforme Daniel Salton, os novos equipamentos vão ampliar a capacidade da empresa em mais 80% e darão folga para uma nova expansão de 20% no volume de vendas de espumantes em 2011.
Na Miolo as vendas devem passar de 2,2 milhões de garrafas neste ano, ante 1,8 milhão em 2009, e a projeção é crescer mais 20% a 22% em 2011, diz o diretor nacional de vendas. De acordo com ele, a empresa não terá problemas de disponibilidade de produto neste fim de ano graças, em parte, à produção de uvas no Vale do São Francisco, onde são feitas duas colheitas por ano, ante uma safra anual no Rio Grande do Sul.
A Garibaldi prevê vendas de 1,5 milhão de garrafas em 2010, com alta de 25% sobre o ano passado, mas vem ocupando plenamente a capacidade instalada de 2 milhões de unidades/ano porque também produz para 32 pequenas vinícolas, explica o gerente de marketing. Conforme Vignatti, a cooperativa também pode acabar com o estoque de moscatel em dezembro e vai investir R$ 300 mil em duas novas autoclaves (equipamentos para a produção de espumante pelo método "charmat") em 2011, capazes de produzir, juntas, mais 150 mil garrafas por ano.
Na Perini, que no início do ano previa uma expansão de 20%, o desempenho de 2010 superou as expectativas e vai fechar com crescimento de 35% sobre o ano passado, para 600 mil garrafas, afirma o diretor comercial. Mesmo assim, conforme Franco Perini, não haverá falta de produto até a próxima safra e a vinícola tem condições de suportar a alta de mais 35% projetada para 2011. A empresa ainda faz espumantes para terceiros num volume próximo à produção com marca própria.
Para as pequenas vinícolas, como a Adolfo Lona, as vendas também estão aquecidas. A empresa vai encerrar 2010 com 60 mil garrafas comercializadas, 22% a mais do que no ano passado, em linha com o nível de crescimento médio registrado nos últimos três anos. De acordo com Lona, a empresa tem produto disponível para suportar a alta da demanda e em 2011 a taxa de expansão deve ser um pouco maior, graças ao aumento da distribuição em São Paulo, maior mercado consumidor do país.
Veículo: Valor Econômico