A anglo-africana SABMiller, segunda maior cervejaria do mundo, deu seu primeiro passo ontem para entrar no Brasil. A empresa fechou a compra da Cervecería Argentina Isenbeck e quer expandir a operação para o Sul do Brasil, Paraguai e Uruguai.
O valor do negócio não foi revelado, mas analistas estimam que a fabricante das cervejas Castle e Miller Genuine Draft teria pago US$ 43 milhões pela empresa, dona das marcas Isenbeck e Warsteiner e com vendas de aproximadamente 600 mil hectolitros no ano passado.
A Cervecería Argentina Isenbeck pertence ao grupo alemão Warsteiner e atua na Argentina desde 1994. No Brasil, seus produtos são vendidos por meio de importadores. A empresa, com ativos que somam US$ 24,7 milhões, tem apenas uma fábrica fora da Alemanhã, na cidade de Zárate, no centro-leste argentino, com capacidade anual de produção de 1,2 milhão de hectolitros. Estima-se que a empresa tenha 4% do mercado de cerveja local, dominado pela Ambev, dona da Quilmes, com 72% das vendas. A holandesa Heineken, segunda colocada, tem cerca de 22% de participação.
Em 2009, os argentinos, que preferem vinho à cerveja, consumiram 17,2 milhões de hectolitros de cerveja. O Brasil, maior consumidor do continente, ficou com 107 milhões de hectolitros em 2009.
O interesse pelo mercado brasileiro ficou claro em setembro, durante uma reunião de Barry Smith, presidente da SABMiller na América Latina, com analistas de mercado na Colômbia. Segundo um dos presentes, Smith disse que a SAB planeja entrar "em breve" no Brasil. "Não estamos questionando se vamos entrar no Brasil, mas quando", disse Smith, conforme reportou uma das consultorias de mercado em relatório enviado a investidores. Essa entrada no país, conforme o relatório, deve acontecer por meio de aquisições.
"A compra da Isenbeck é um pequeno começo. Mas outros negócios devem ser fechados", disse um analista. "O interessante dessa aquisição é que fica claro que o interesse da SABMiller não está em grandes cervejarias, como a Schincariol. Ela poderá adquirir empresas menores, como a Petrópolis ou até mesmo outras de pequeno porte, que atuam em nichos", diz o analista. Uma dessas cervejarias poderia ser a Cervejaria Colorado, de Ribeirão Preto, no interior de São Paulo. A companhia regional não comentou o assunto.
Grupo anglo-africano, o segundo maior fabricante de cerveja do mundo, opera com marcas regionais
O mercado brasileiro de cervejas é um dos que mais crescem no mundo. Somente nos nove primeiros meses do ano, a Ambev, que controla 70% do mercado, teve aumento de 14,1% no volume de cerveja vendido, em relação a igual período do ano passado. A previsão do mercado é de que as vendas totais no Brasil em 2010 devem cerscer pelo menos 10% sobre o ano passado, somando 118 milhões de hectolitros.
Na Argentina, as marcas Isenbeck e Warsteiner continuarão sendo produzidas pela SABMiller, conforme nota oficial da empresa, que afirmou ter negociado um contrato de licenciamento das marcas "de longo prazo" com a empresa alemã. Mas os planos da SABMiller vão bem além dessas duas marcas.
Dona de mais de 200 rótulos de cerveja, a companhia com sede em Londres planeja produzir a marca italiana Peroni e também a Miller Genuine Draft, sua marca mais conhecida.
Presente na América Latina em seis países - Colômbia, Peru, Equador, Panamá, Honduras e em El Salvador, a SABMiller é conhecida por administrar bem marcas regionais, compradas ao longo dos anos. A companhia chegou à região em 2005, quando comprou a cervejaria colombiana Bavaria. Em todos os seis países latino-americanos, a SABMiller tem liderança de mercado. Na Colômbia, por exemplo, a empresa tem 98% do mercado. No Peru, domina 89% das vendas. De suas vendas totais (213 milhões de hectolitros em 2009), a América Latina responde por 21% do volume.
Veículo: Valor Econômico