A Ambev, a maior fabricante de cervejas do país, prepara-se para crescer no segmento de bebidas não-alcoólicas: refrigerantes, energéticos, isotônicos e chás. João Castro Neves, que comanda a companhia desde janeiro de 2009, diz que vai aplicar nesses produtos a mesma estratégia implementada para a cerveja: aumentar o número de versões da bebida e de embalagens.
"Construímos nesses dois anos fortalezas que nos permitem ter mais escolhas de 2011 para frente", diz Castro Neves. A Ambev tem pouco menos de 70% do mercado nacional de cervejas e está presente em 1 milhão de pontos de venda. Sua concorrente mais próxima, a Schincariol, tem uma fatia pouco superior a 10% e está em conversas, com grupos estrangeiros como SABMiller, Heineken e Carlsberg, para vender o controle da companhia.
"Temos uma boa posição em cerveja, muito menor em refrigerante, um pouco melhor em água saborizada, melhor em isotônico e não tão interessante em chás. Está cheio de segmentos em bebidas que dá para crescer", diz Castro Neves.
No portfólio da Ambev, de fato, a cerveja domina. São 16 marcas de cerveja, 8 de refrigerante, uma de isotônico, uma de chá e uma de energético.
Neste ano, que começou com desaceleração nas vendas, seguindo o ritmo mais lento do último trimestre de 2010, a Ambev já fez três lançamentos na área de bebidas sem álcool: a garrafa de vidro de 1 litro do Guaraná Antarctica (voltou depois de 19 anos); o energético Fusion (feito de guaranina, a cafeína do guaraná); e o refrigerante Antarctica Citrus (que mistura suco de maçã, laranja e grapefruit).
Em breve, chegará ao mercado o chá Lipton Mate, que Castro Neves, como bom carioca, aposta que será bem consumido no Rio.
"Estamos nos sentindo mais fortalecidos em cerveja e estamos tentando esticar a corda em outros segmentos, de não-alcoólicos e não-carbonatados", afirma Castro Neves. A concorrência, mas fácil para a Ambev em cerveja, vai ser mais dura nesses outros produtos.
A Ambev tem um acordo de distribuição com a PepsiCo, mas é a Coca-Cola que lidera o mercado nacional de refrigerantes. Com a marca Gatorade, a Ambev domina o mercado de isotônicos. Em chás, o concorrente mais forte também é a Coca-Cola, dona da marca Matte Leão. A Lipton, da Ambev, é líder mundial em chás, mas no Brasil a Matte Leão é maior.
Sobre a divisão de cervejas, o carro-chefe da Ambev, Castro Neves informa que o portfólio das marcas premium será ampliado.
"Vamos lançar a Budweiser neste ano e ela será fabricada aqui", diz. A Bud é a principal marca da americana Anheuser-Busch, comprada pela InBev em 2008 e que deu origem à gigante AB InBev, a maior fabricante de cerveja do mundo. Vai ser vendida ao lado de Stela Artois, Original e Bohemia. Desta última já há quatro versões no mercado.
O pulso do consumidor e o governo
O presidente da Ambev, João Castro Neves, está sentindo o pulso do consumidor com redobrada atenção neste ano. "O que me preocupa mais no governo são medidas que possam impactar o consumo", diz o executivo, que está avaliando se começa a construir a 35ª fábrica da companhia ainda neste ano, na região sul do país, ou deixa para 2012.
O investimento previsto para este ano é de R$ 2,5 bilhões, sendo mais da metade para ampliar a produção. Uma nova fábrica, a 34ª, já está sendo construída em Pernambuco e deve ficar pronta em novembro. Mas, dependendo do comportamento das vendas nos próximos meses, "a gente estuda ligar a chave em Pernambuco em 1º de dezembro ou em junho de 2012", diz Castro Neves.
"Mas o pior são as outras. Se não houvesse o aumento dos impostos, gostaríamos de começar uma fábrica no sul. Agora, vamos ver", diz ele, referindo-se ao aumento da tabela de preços de referência para cobrança de impostos federais como IPI, PIS e Cofins. A nova tabela vale para cerveja, refrigerante e água. Nas contas feitas pela Ambev, os preços de referência foram reajustados, em média, em 17%. Além disso, o governo vem adotando medidas para conter a concessão de crédito, o que pode barrar a decisão de investimento de varejistas que compram os produtos da Ambev.
"É provável que [esse aumento de impostos] reflita nos preços e algo no capex", diz Castro Neves, referindo-se a aumento de preço final e redução do investimento previsto para este ano.
Desde o fim de 2010, as vendas de cerveja não ocorrem no mesmo ritmo registrado em 2009 e em boa parte de 2010 - período de bons resultados para a Ambev. "O governo quer desacelerar o crescimento para segurar a inflação. Nosso medo é que caia de um crescimento do PIB de 7,5% para 2% e não 4,5%, como quer o governo", diz Castro Neves.
Veículo: Valor Econômico