Pelo segundo trimestre consecutivo, as vendas de refrigerantes no Brasil decepcionam. A base de comparação, em 2010, mostrava vendas fortes, mas outros fatores explicam a desaceleração: aumentos de preço na casa dos 10% por conta da nova alíquota do IPI e do maior custo de insumos; inverno mais intenso no Sudeste; e a inflação de alimentos que deixou o bolso do consumidor menor.
Nos cinco primeiros meses do ano as vendas chegaram a cair 1,9%, segundo dados da Nielsen. O volume de vendas caiu de 5,472 bilhões de litros, de janeiro a maior de 2010, para 5,367 bilhões de litros. Graças aos preços mais altos, o faturamento cresceu. Passou de R$ 11,127 bilhões para R$ 11,779 bilhões, com alta de 5,86%.
Na Coca-Cola Brasil, que lidera o mercado de refrigerantes, o volume de vendas cresceu só 1% no segundo trimestre (terminado em 30 de junho), enquanto no ano passado havia crescido 13%.
Na Femsa, a maior engarrafadora da Coca-Cola no mundo, os volumes cresceram só 2% no Brasil e na Argentina. No mesmo período de 2010, a alta havia sido de 8,7%. A PepsiCo divulga seus resultados só em 11 de agosto, com a Ambev.
Conforme a Associação Brasileira das Indústrias de Refrigerantes e de Bebidas Não Alcoólicas (Abir), a produção de refrigerantes neste ano, até junho, ficou em 8,57 bilhões de litros, com pequena alta de 1,4%. No primeiro semestre de 2010, o aumento foi de 9,6%, para 8,45 bilhões.
"Houve um efeito estatístico, já que as vendas de 2010 foram as melhores dos últimos dez anos, já que tivemos um inverno quente e a Copa do Mundo impulsionando as vendas", diz Herculano Anghinetti, presidente da Abir, que calcula aumento de vendas de 5,8% em 2010. "Mas é inegável que a alta de preços por conta do imposto mais alto atrapalhou as vendas", disse.
"Houve um reajuste médio de 10% nos preços neste ano", diz Fernando Rodrigues de Bairros, presidente da Associação dos Fabricantes de Refrigerantes do Brasil (Afrebras). Devido ao mau desempenho no semestre, ele reviu para baixo sua projeção para o crescimento de 2011, de 7% para 5%.
O aumento de preço dos refrigerantes teve, basicamente, quatro causas distintas. A mais evidente foi a correção das alíquotas do IPI, que permaneciam inalteradas desde 2008. A mudança entrou em vigor no dia 4 de abril.
Além dela, houve a pressão de custos das commodities. Além do açúcar, a resina PET, para as garrafas, subiu quase 20%, segundo Auri Marçon, presidente da Associação Brasileira da Indústria do PET (Abipet). "O PET é um poliéster, usado tanto para fabricação de garrafas como pela indústria têxtil, para produção de tecidos. Quando a demanda no setor têxtil cresce, o PET para garrafa fica mais caro", diz Marçon. Foi o que aconteceu. Com colheitas ruins nas maiores regiões produtoras do mundo, o algodão mais que dobrou de preço entre julho de 2010 e março deste ano. Por isso, a indústria têxtil preferiu fibras sintéticas, como o poliéster.
"Há um pique de inflação que come o dinheiro que antes sobrava no bolso do consumidor das classes C, D e E, dinheiro esse que era usado para comprar refrigerante", diz Marco Simões, vice-presidente de comunicação e sustentabilidade na Coca-Cola Brasil.
"A base da pirâmide é a fatia do mercado que representa oportunidade de crescimento. Nessa faixa, qualquer pequena mudança que afete o bolso do consumidor é significativa", diz Simões.
Somando-se a tudo isso, há o frio. Na região Sul e Sudeste, durante maio e junho, várias vezes foram registradas temperaturas abaixo da média - o que não aconteceu em 2010, segundo a meteorologista Cassia Beu, da Somar Meteorologia.
Para o segundo semestre, a indústria se mantém otimista. Além das festas e do 13º salário, que sempre ajudam nas vendas, a previsão é de um verão com temperaturas em torno da média climatológica na maior parte do Brasil, segundo o Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos (Cptec).
Veículo: Valor Econômico