Rico também bebe cachaça

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Assim como aconteceu com a vodca, o destilado de cana-de-açúcar busca a sofisticação dos aromas para fugir da pecha de popular e conquista públicos mais sofisticados

 

Dono de um bar, em Salvador, na década de 1990, o empresário baiano Carlos Oliveira tinha 250 rótulos de cachaça em suas prateleiras. Apesar do sucesso da cachaçaria, ele ficava incomodado com as caretas que muitos clientes faziam ao ingerir a bebida. “Queria acabar com a ideia de que a bebida rasga a garganta. Então criei uma pinga com mel e limão”, diz ele. Hoje radicado em Bragança Paulista (SP) e dono da Busca Vida, cachaça aromatizada com os dois ingredientes, Oliveira diz que conseguiu alcançar seu objetivo e sorri quando uma mulher pede uma dose da sua criação – sem careta.

 

Essa cena se repete em bares e baladas descoladas de São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte, entre outras capitais brasileiras. “Já existem até outras marcas com a mesma vocação”, afirma o empresário. “Fico feliz de ter iniciado esse mercado.” Na carona do produto do baiano surgiram as cachaças Santa Dose, pernambucana, e B, mineira, a última a ser lançada, em março. Cansados das opções de drinques com vodca, energético e uísque, os cinco sócios da 14c Investimentos de Bebidas lançaram a Santa Dose. Produzida em Pernambuco pela destilaria Carvalheira, a bebida tem 17,5% de teor alcoólico. Bem menor que os quase 48%  a que pode chegar uma típica pinga de cana-de-açúcar.

 

Com a percepção de que tinham na mão um produto mais sofisticado do que a velha e boa cachaça de boteco, antes de colocá-lo no mercado, há dois anos, seus donos resolveram testá-lo em bares do Itaim Bibi, bairro de classe alta da capital paulista. “A aceitação foi grande”, diz Bruno Siqueira, sócio e CEO da 14c Investimentos de Bebidas. “Principalmente entre as mulheres.” A percepção virou certeza e o negócio se consolidou. Em julho de 2010, a cachaça passou a ser distribuída pela mineira Globalbev e chegou a bares e boates do Recife, de Brasília, Cuiabá, Belo Horizonte e Rio de Janeiro.

 

“A parceria nos rendeu um crescimento de 1.000%”, afirma Siqueira. Segundo ele, são vendidas cerca de dez mil garrafas de Santa Dose por mês. Agora a empresa foca seu interesse nos apreciadores do Exterior. “Este ano já enviamos um contêiner para Espanha, Portugal e Alemanha”, diz o CEO da 14c.  Compartilhando da mesma ideia de que apreciar bebidas de baixo teor alcoólico pode agradar a um público mais exigente, Nelsinho Piquet, ex-piloto de Fórmula 1 e atualmente competindo na Nascar Truck Series, transformou-se em empresário e lançou, em parceria com os amigos Eduardo Jorge e Hendrik Wolff, a aguardente B (lê-se bee, abelha, em inglês). “Nunca fui fã de bebida forte. Até quando bebo champanhe, prefiro misturá-lo a suco de pêssego”, diz o filho do tricampeão Nelson Piquet.

 

“A cachaça com mel e limão é perfeita, pois o gosto característico da bebida fica camuflado.” Segundo seus idealizadores, a B nasceu preparada para o mercado internacional. É produzida em um alambique localizado em Minas Gerais (o nome da cidade é guardado a sete chaves pelos sócios), considerada a “terra das cachaças”, e envasada em garrafas da francesa Saverglass, a mesma fornecedora da vodca Grey Goose, também da França. “A B foi pensada para competir com as vodcas premium”, diz Eduardo Jorge. Essa tendência gastronômica repete o que aconteceu com a vodca, antes uma bebida popular e apreciada pelos trabalhadores russos e poloneses.

 

Assim como sua prima europeia, que se suavizou e se sofisticou ao tomar emprestado os sabores cítricos e de frutas do bosque, a cachaça buscou parceria na mistura bem brasileira “mel & limão”. De acordo com Leandro Batista, especialista em cachaças do Restaurante e Cachaçaria Mocotó, de São Paulo, esse tipo de bebida é a porta de entrada para os destilados originais. “É uma característica do paladar brasileiro interessar-se por bebidas mais adocicadas”, afirma ele. “Apreciar as pingas flavorizadas é uma forma de as pessoas começarem a se interessar pelas demais cachaças”, diz Batista, que corrobora com a ideia de que o destilado misturado ajuda a suavizar a imagem de “bebida forte” do produto.

 

Veículo: Revista Isto É Dinheiro


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