Suco premium de uva ganha espaço

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Há pouco mais de cinco anos, o apelo ao consumo saudável fez explodir a procura pelo suco de uva natural e integral, elaborado sem adição de água, açúcar, nem conservantes. Depois veio a onda dos produtos orgânicos, feitos com matéria-prima cultivada sem agrotóxicos. Agora chegou a vez dos sucos "varietais", preparados com apenas um tipo de uva.

 

Na maior parte dos casos os sucos varietais são feitos com uvas comuns, conhecidas como "de mesa". A diferença é que, ao contrário dos produtos tradicionais, preparados com uma mistura de variedades da fruta, eles são feitos com apenas um tipo de uva, como bordô, isabel, concord (tintas) ou niágara (branca), e adquirem características e "personalidade" próprias. Com isso, começam a cair no gosto dos consumidores mais exigentes.

 

A nova tendência, que ganhou força há pouco mais de um ano, anima empresas e cooperativas de todos os tamanhos, como a Econatura, a vinícola Perini e a Coopeg. Elas produzem sucos varietais com uvas comuns, enquanto a Casa Valduga usa as variedades viníferas moscatel e cabernet sauvignon. Os preços, em geral, são de 30% a 40% maiores do que os sucos produzidos com "cortes" (mais de uma variedade) de uvas.

 

Ainda não há estatísticas específicas sobre o consumo de sucos varietais. Eles estão incluídos nos números do Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin) sobre as vendas de sucos naturais e integrais, que cresceram cinco vezes de 2005 a 2010, para 31,9 milhões de litros, e só no ano passado tiveram expansão de 25%. Nos seis primeiros meses de 2011, a alta foi de 36,8% sobre igual período de 2010, para 18,6 milhões de litros.

 

Segundo o sócio-diretor da Econatura, de Garibaldi, Luiz Postingher, a busca pelos produtos varietais revela um "refinamento" do consumidor que antes bebia sucos naturais e orgânicos. Em 1998, quando foi fundada, a empresa produziu 10 mil garrafas. Depois passou para uma média de 300 mil garrafas de 870 mililitros por ano de 2000 a 2009 e em 2011 deu um salto para 500 mil unidades, vendidas no varejo entre R$ 12 a R$ 15.

 

A Econatura produz somente sucos varietais naturais e orgânicos da marca "Uva Só", todos eles com apenas um tipo de uva. "O isabel é o mais doce de todos. O bordô é o mais tinto e encorpado e o concord, o menos doce", conta o empresário. De acordo com ele, a empresa tem parreirais próprios em uma área de 1,2 hectare, mas a maior parte da matéria-prima é adquirida de 40 famílias de agricultores ecológicos da região.

 

As vendas da Econatura concentram-se em redes especializadas de produtos orgânicos. Cerca de 60% da produção vai para São Paulo e Rio de Janeiro e o restante divide-se entre a região Sul e Estados como Bahia e Minas Gerais, além de Brasília. Neste ano a empresa nomeou um representante em Fortaleza para ampliar a presença no Nordeste, mas a ideia é manter a produção nos patamares atuais, afirma Postingher.

 

A Perini, de Farroupilha, produziu neste ano 4 milhões de litros de suco varietal natural de uva bordô, vendido em garrafas de 300 e 500 mililitros, e planeja chegar a 1 milhão de litros em três anos, com uma alta de 150%, revelou o gerente comercial Franco Perini. No mesmo período, a produção total de suco da vinícola deve crescer 45%, para 6,5 milhões de litros.

 

Conforme o executivo, o produto varietal tem apelo diferenciado para os clientes mais exigentes, mas ocupa um nicho pequeno porque a maior parte dos consumidores ainda confunde os diversos tipos de sucos disponíveis no mercado. Para enfrentar esse limitador, a Perini vai identificar a característica do produto nos rótulos dos próximos lotes, adianta o gerente.

 

A vinícola também vende o suco varietal em lojas especializadas, mas os principais canais de venda ainda são os bares, restaurantes e hotéis. "É a chamada via gastronômica, onde os consumidores se dispõem a pagar um pouco mais caro", comenta Perini. A garrafa de 300 mililitros, por exemplo, é vendida na ponta por cerca de R$ 6, ou 40% a mais do que os produtos comuns.

 

Em Garibaldi, a pequena cooperativa de agricultores ecológicos Coopeg começou a elaborar sucos varietais orgânicos em 2001, mas foi a partir de 2010 que o consumidor passou a dar "mais valor" para o produto, diz a presidente Salete Arruda. Toda a produção do ano passado, de 80 mil garrafas de 870 mililitros, foi vendida até agosto e em 2011 o volume aumentou para 184 mil garrafas de sucos bordô, isabel, concord, niágara branco e niágara rose.

 

"Conseguimos aumentar a produção porque passamos a absorver toda a safra dos 32 associados", explica Salete. A cooperativa concentra as vendas na região Sul e em São Paulo e os principais canais são as feiras ecológicas, o telefone e o e-mail. "Muitos consumidores que antes compravam produtos orgânicos agora querem sucos ainda mais diferenciados", afirma.

 


Veículo: Valor Econômico


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