A naturalização do espumante na mesa dos brasileiros desenha para as vinícolas um cenário ainda mais otimista para o fim do ano. Isso porque, diferentemente dos outros anos, a responsabilidade pelo aumento do consumo no período não é mais exclusividade dos brindes de dezembro, mas também dos demais meses de calor. Com 60% das vendas concentradas nos três últimos meses do ano, ela é a principal responsável, junto com o suco de uva, pela maior venda do setor, calculado em 10% em 2011. Deverão ser colocados, no total, 12,5 milhões de litros da bebida no comércio do País.
Segundo o Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin), a comercialização de espumantes no Rio Grande do Sul alcançou 11,77 milhões de litros no primeiro semestre de 2011, e esse número deve duplicar com a proximidade das festas de final de ano. A aposta das empresas é no Moscatel e nos frisantes, que servem como porta de entrada para as demais bebidas. Além do aumento da renda da população, o setor atribui o bom momento aos investimentos que agregaram valor e confiança das pessoas em relação ao produto brasileiro. "O consumidor está reconhecendo a qualidade dos nossos produtos, que estão cada vez melhores devido ao investimento constante das empresas em melhorias", afirma o presidente do Conselho Deliberativo do Ibravin, Júlio Fante.
O diretor da cooperativa Aurora, Alem Guerra, avalia que a democratização não se resume a datas específicas. "Os produtos como espumante Moscatel e frisantes têm tendência grande a crescer muito em função do clima do verão brasileiro", acredita. A empresa espera expandir 12% calcada em vinhos finos e espumantes. Conforme ele, com as vendas para o varejo já realizadas, o único esforço das vinícolas agora é investir nos espaços concedidos e em ações no comércio.
Para essa etapa, a Aurora, assim como outras 16 vinícolas, conta com um impulso anual da Feira de Espumantes, Vinhos e Sucos de Uva Aurora. A oitava edição, que acontece de hoje a domingo no pórtico central do Cais Mauá, registrou em 2010 a comercialização de aproximadamente 18 mil garrafas. Além da oportunidade para que as empresas divulguem os produtos para o consumidor, a programação ainda prevê cursos e palestras sobre espumantes e vinhos.
Na Salton, esse período é responsável por 55% do faturamento, com aumento na venda de todos os produtos. A empresa espera o fim de dezembro para confirmar o crescimento de 15% nos espumantes e de 12% da empresa. Como uma das maiores produtoras pelo método champenoise, a vinícola se prepara com antecedência para abastecer o mercado. Conforme o diretor-presidente, Daniel Salton, a venda de espumantes em 2011 vai ultrapassar 7 milhões de litros. Em 2010, a bebida representou 33% do faturamento da empresa e, nesse ano, a previsão é alcance 38%. Conforme o executivo, a Salton deve manter a posição atual de 43% de participação no mercado desse tipo de bebida.
"Entendemos que o brasileiro recém descobriu os espumantes para o consumo no dia a dia, então o potencial ainda é grande", sentencia. Por isso, a vinícola aposta em diversas categorias, sobretudo para atender à migração de uma parcela significativa da população para o novo hábito. De acordo com o diretor-presidente, a faixa de preços entre R$ 15,00 a R$ 17,00 é a que mais atrai os brasileiros, enquanto as elaborações mais tradicionais representam crescimento bem menor.
O presidente da Cooperativa Garibaldi, Oscar Ló, lembra que os espumantes estão ficando cada vez mais simples, mas sem perder a qualidade. "Hoje ficou mais acessível porque com o aumento da produção os custos diminuíram. E a qualidade brasileira é incontestável", avalia. Para ele, os próximos cinco anos ainda são passíveis de crescimento para a bebida, assim como para o setor. A Garibaldi prevê incremento de 18% graças ao aumento de 20% nas vendas relativas ao período de festas e de 15% na produção.
Vendas no setor devem somar 272 milhões de litros
O ano deve fechar com aumento de 10% na venda de vinhos e espumantes, conforme o Ibravin, alcançando 272 milhões de litros comercializadores de janeiro a dezembro de 2011. No ano passado, foram colocados no mercado 246,4 milhões de litros de vinhos e espumantes elaborados no Rio Grande do Sul, responsável por cerca de 90% da produção nacional. Além do cenário favorável, o ano está sendo positivo devido à entrada em vigor do Selo de Controle Fiscal, que obriga as vinícolas, nacionais e estrangeiras, a colocarem um selo nas garrafas comprovando a regularidade fiscal e legal.
O resultado é que as importações de vinhos, que cresceram 27% em 2010, tiveram acréscimo de 2,7% entre janeiro e outubro, com a entrada de 60 milhões de litros de vinhos estrangeiros no País. A partir de janeiro de 2012, todos os estabelecimentos comerciais deverão vender exclusivamente vinhos com o Selo de Controle Fiscal nas garrafas. Júlio Fante comemora o aumento das vendas, mas lamenta que o fato não tenha resolvido o problema de estoques de vinho, que no início de 2012 deve somar 295 milhões de litros, devido à produção recorde da última safra.
Um aspecto positivo é o aumento de 33,4% na comercialização dos vinhos engarrafados em detrimento dos vendidos a granel, que tiveram uma queda de 16,25% de janeiro a outubro deste ano. Isso demonstra, conforme Fante, a qualificação na produção. A venda de vinhos em barris também caiu (89,5%), assim como os vinhos de garrafão, que encolheram 26%. "É bom para o setor, pois gera mão de obra aqui, por necessidade de produção dos insumos."
Veículo: Jornal do Comércio - RS