Como a Kirin quer pôr ordem na Schin

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Numa teleconferência para analistas de mercado na semana passada, João Castro Neves, presidente da Ambev, foi provocado a dizer como enxerga a concorrência entre as cervejas no País este ano. "Agora temos não apenas a Heineken como empresa aberta, listada em Bolsa. Mas também a Kirin, que divulgou recentemente suas diretrizes de crescimento no Brasil, com uma previsão de aumento de 3% em seu volume este ano", disse o executivo.


As metas da Kirin para a Schincariol, comprada pela empresa japonesa no ano passado, não chamaram a atenção apenas do presidente da Ambev. "Parece que agora eles querem arrumar a casa", disse outro concorrente, que preferiu não se identificar.


Em um documento publicado em fevereiro, a Kirin enumera os problemas que encontrou ao assumir a companhia, antes controlada pela família Schincariol. "Os resultados de 2011 ficaram abaixo do previsto", disse Senji Miyake, presidente da Kirin Holdings, no documento.


A companhia, segundo Miyake, ficou quase estagnada. "Embora o mercado de cerveja tenha crescido em volume 3,4% e o de bebidas não alcoólicas 7,9%, houve uma evolução de apenas 2% nas vendas da empresa", diz o documento da Kirin, comentado por Miyake.


O crescimento abaixo da média do mercado está relacionado, aponta o documento, com o fato de a intenção da família de vender o negócio ter se tornado pública em fevereiro do ano passado.
Por quase seis meses, até o início de agosto, quando foi fechado o negócio com a Kirin, a Schincariol ficou em compasso de espera. "Até mesmo material de venda, como cadeira e guarda-sol, eles pararam de fornecer. No Nordeste, houve distribuidor querendo até mudar de bandeira e passar para outra cervejaria", disse um concorrente.


Depois de anunciada a compra de parte da companhia, estendeu-se uma batalha jurídica que só terminou em novembro, quando a multinacional comprou o restante do controle acionário, assumindo 100% da cervejaria. Ou seja, antes de oficializado o negócio, a Schin ficou parada por mais três meses. Nem mesmo o reajuste de preços, conforme a Kirin, foi suficiente para melhorar o desempenho da empresa. "Os reajustes refletiram a inflação e a alta de impostos, mas não cobriram os custos com matérias-primas", diz o documento.


Além dos prejuízos da estagnação do resultado, a Schin, na visão de sua nova dona, também tem problemas relacionados à marca. A Nova Schin, que é forte no Nordeste, não consegue ganhar mercado no restante do País.


Para resolver essa discrepância, a Kirin pretende mudar o foco dos investimentos em ações promocionais e de propaganda, hoje considerados altos e de pouco efeito."Eles realmente não esperavam tantos problemas de governança", afirma um executivo do setor.


A empresa não entra em detalhes, mas conforme o documento, será espartana em relação ao marketing. "Vamos otimizar os gastos e ficar em linha com a realidade do mercado." Nova Schin e Devassa serão as apostas em termos de marca.


A japonesa também quer diminuir o número de produtos fabricados, apostar em itens de maior valor agregado e corrigir a política de preços. Estão previstos investimento s no parque fabril, em equipamentos e - principalmente - na racionalização de compra de insumos.


 
Sob o comando do novo presidente, Gino Di Domenico (ex-diretor de operações, na presidência da cervejaria desde fevereiro), a Kirin formou uma equipe de gestão de casos de risco, "altamente preparada para lidar com questões relativas a impostos, problemas legais e ambientais".


 Os planos, segundo Miyake, são fazer a Schin entrar nos trilhos o quanto antes para gerar, ainda este ano, alta nos volumes de cerveja de 3% (prevê-se evolução do mercado de 2,8%). As vendas líquidas, segundo ele, deverão chegar a R$ 3,3 bilhões - 12% a mais em relação ao resultado de 2011, de R$ 2,9 bilhões.

  
É um plano ambicioso, segundo analistas. Mas é um desafio para o qual a empresa japonesa parece estar preparada - a Kirin, desde 2007, já investiu US$ 12,9 bilhões em aquisições fora do Japão. Após a compra da Schin, por US$ 3,95 bilhões, a dívida da empresa ultrapassou US$ 12 bilhões. Com as vendas no mercado japonês em queda, a aposta no exterior, que já responde por um quinto do faturamento, é a única alternativa da Kirin. Na visão do comando de Tóquio, a Schin não tem outra saída senão entrar na linha.
 

 

Veículo: O Estado de S.Paulo


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