O açúcar responde por pouco mais de um quarto do custo do refrigerante, ou 26%. É a matéria-prima mais cara na sua produção. Pesa mais do que a embalagem, que gira em torno de 20% do custo, e do que o aroma, que dá sabor ao produto e representa 8% do total. Agora, uma nova substância chamada Sweetgem, que funciona como reforçador do sabor do açúcar e pertence à multinacional suíça Firmenich, promete reduzir em até 30% o volume de açúcar consumido pela indústria de refrigerante.
A partir do Sweetgem, uma emulsão, o fabricante coloca só um pouco de açúcar na receita para obter o mesmo sabor do produto convencional. O percentual surpreende porque, até hoje, segundo a Associação Brasileira da Indústria de Refrigerantes (Abir), o uso de reforçadores do sabor doce ("sugar enhancers", em inglês) atinge no máximo 20% de redução de açúcar, sem que o "perfil sensorial da bebida" - ou seja, o seu paladar e consistência -, seja afetado. Uma redução de 30% é considerada "agressiva" por especialistas.
Segundo apurou o Valor, a Firmenich negocia com a Coca-Cola a adoção da substância em nível global. As empresas não atenderam a reportagem até o fechamento desta edição. No Brasil, a filial da Firmenich ainda está em processo de registro da marca Sweetgem no Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI). Mas, antes disso, a mineira Força Ingredientes, fabricante de insumos para a indústria alimentícia e um dos distribuidores da Firmenich no país, já está oferecendo o Sweetgem para fabricantes de bebidas de menor porte (no país, a Firmenich tem exclusividade na negociação com Ambev, Schincariol e Coca-Cola).
"Vamos introduzir outros ingredientes à substância da Firmenich, como estabilizantes e corantes, para oferecer uma solução sob medida à indústria de refrigerantes", diz o diretor da Força Ingredientes, Jairo Pimenta. A empresa, que tem fábrica em Belo Horizonte, está investindo R$ 3,5 milhões na construção de uma nova unidade industrial na Zona Franca de Manaus, que irá substituir a partir de junho a unidade mineira. "Em Manaus, onde já estão instalados outros fornecedores da indústria de bebidas, seremos mais competitivos por conta de incentivos fiscais federais e estaduais", diz Pimenta.
A Força negocia a venda do reforçador do sabor do açúcar para a goiana Imperial, fabricante da marca Pitchula, popular no Centro-Oeste e Norte do país. "Estamos aguardando um lote da substância para fazer, em abril, um teste piloto no nosso refrigerante", diz o diretor industrial da Imperial, Roneidson Brandão. "Ficamos bastante impressionados com o produto", diz Brandão. Em 2011, a Imperial faturou R$ 250 milhões e tem o guaraná como carro-chefe.
A Força Ingredientes também está oferecendo a nova substância à paulista Dolly, entre outras fabricantes regionais. A chegada do Sweetgem ao país acontece em meio à discussão do projeto de lei 196/2007, de autoria do senador Jayme Campos (DEM/MT), que determina que rótulos de refrigerantes especifiquem o teor calórico e apresentem frase de advertência quanto aos riscos da obesidade infantil. A Abir é contra a medida.
Entre os principais clientes da Força estão Vilma Alimentos, Seven Boys, Itambé e Mabel. A empresa fatura cerca de R$ 50 milhões ao ano e, segundo Pimenta, quer reforçar a sua divisão de serviços. "Para fabricar um único aroma são necessários mais de 60 ingredientes", diz. "A indústria de alimentos não tem condições de gerenciar isso e oferecemos esse serviço". A empresa vai investir mais R$ 1 milhão para montar dois novos centros de distribuição, em Recife (PE) e Sorocaba (SP) este ano. Em 2013, a empresa pretende instalar uma linha de produção para o redutor de sódio (25% de redução).
Veículo: Valor Econômico