Obesidade não é só culpa da Coca-Cola, diz seu líder

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Os americanos estão bebendo menos refrigerante e o prefeito de Nova York, Michael Bloomberg, propôs recentemente que se limite o tamanho dos copos da bebida para combater a obesidade. Mas a Coca-Cola Co. continua cheia de gás sobre suas perspectivas. As ações da gigante mundial de bebidas atingiram sua maior cotação desde os anos 90 à medida que o faturamento e o lucro crescem.

A Coca-Cola investiu pesadamente nos aquecidos mercados emergentes como China e Brasil, com marcas avaliadas em US$ 15 bilhões que incluem Sprite, Minute Maid, Powerade e a tradicional Coca-Cola. A empresa também vem cortando custos e roubando participação de mercado da concorrente PepsiCo. Inc. nos Estados Unidos.

Tudo isso tornou o presidente da empresa sediada em Atlanta, Muhtar Kent, um nome popular entre investidores. Mas Kent, que assumiu o comando em 2008 com o objetivo de dobrar a receita e o volume de vendas da empresa sediada até 2020, ainda tem muito trabalho pela frente. Não é fácil dobrar em dez anos o que se levou cem para construir, principalmente em face das incertezas na Europa e da ameaça de novos impostos sobre refrigerantes nos EUA e em outros lugares.

Kent, de 59 anos, conversou com o The Wall Street Journal sobre obesidade, o consumidor americano e os planos da empresa para o seu caixa recheado. A entrevista aconteceu poucos dias antes de Nova York propor limites para o tamanho dos refrigerantes, proposta a que a Coca se opõe radicalmente. A seguir, trechos editados.

WSJ: Com que frequência o sr. olha o preço da ação da Coca-Cola?

Muhtar Kent: Eu não olho todo dia, posso lhe garantir. Recebo um relatório do meu pessoal [de relações com investidores] uma vez por semana e isso é provavelmente mais que suficiente. Você tem que focar e simplificar.

WSJ: O que o sr. acredita que vai acontecer com a economia dos EUA?

Kent: Comparando com 12 meses atrás, acho que os ânimos estão um pouco melhores. Uma coisa que torna os EUA diferentes de todos os outros mercados desenvolvidos é que a demografia está a seu favor. O país tem a população mais jovem do Ocidente, um espírito empreendedor diversificado. E, é claro, nossas leis trabalhistas são mais flexíveis que as da Europa e do Japão.

WSJ: Há uma preocupação e um debate crescentes sobre a obesidade. Qual o tamanho dessa ameaça para a Coca-Cola e o setor de bebidas?

Kent: Isso é um problema social importante e complexo para o qual temos que buscar juntos uma solução. Por isso estamos trabalhando com governos, empresas e a sociedade civil para termos programas de estilo de vida ativo até 2015 em todos os países em que operamos.

Nós passamos de uma empresa de uma única bebida e uma única marca para uma agora com mais de 500 marcas e 3.000 produtos. Oitocentos dos produtos que introduzimos nos últimos quatro ou cinco anos são de zero caloria ou baixa caloria. Então é, creio eu, incorreto e injusto colocar a culpa num único ingrediente, num único produto, numa única categoria de alimento.

WSJ: Como o sr. descreveria a Europa hoje?

Kent: O sul da Europa é o que está em maior dificuldade, da Península Ibérica até a Grécia. Eu acho que será um longo caminho para sair da crise, pelo menos três anos até vermos algum resultado. Acho que a Europa Central e a do Leste estão começando a mostrar sinais de recuperação. A Alemanha vem sendo como que um pilar de estabilidade. O Reino Unido, a Escandinávia e a França estão como que no meio. Então, eu diria que é provavelmente uma história de quatro capítulos.

WSJ: A Coca tem reservas de caixa de US$ 13 bilhões. O que o sr. planeja fazer com todo esse dinheiro?

Kent: Nosso "capex" [gastos com capital] precisa crescer. Em segundo, temos os dividendos. Em terceiro, recomprar ações. E, finalmente, se sobrar alguma coisa e se houver algum ativo em que podemos gastar, aquisições complementares.

WSJ: Quanto tempo o sr. passa em Atlanta?

Kent: Cerca de 10 a 12 dias por mês. Eu vou ao mercado pelo menos uma vez por semana onde quer que eu esteja. E toda vez que eu vou ao mercado eu aprendo alguma coisa.

Se você não está conectado ao ponto em que os dólares mudam de mão e você não entende a dinâmica de como um dólar ou dois dólares mudam de mão, você realmente não pode querer entender a dinâmica do nosso negócio. Quando eu entrei na companhia, em 1978, passei algum tempo nos caminhões por sete meses e meio.

WSJ: O sr. tem um plano de crescimento para a empresa até 2020. O sr. pretende permanecer no comando até lá?

Kent: Enquanto eu estiver me divertindo, minha saúde estiver boa e eu estiver dando bons retornos aos nossos acionistas, e, tão importante quanto, eu estiver sorrindo, que é importante em tudo que você faz, eu vou continuar.



Veículo: Valor Econômico


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