Pequenas cervejarias avançam no Sul do país

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Mais conhecido como principal produtor de vinhos finos do Brasil, o Rio Grande do Sul assiste agora a uma rápida expansão das cervejas especiais. Apesar dos preços mais elevados, que podem chegar a R$ 20 por uma garrafa de 600 mililitros nos supermercados, o produto caiu no gosto do consumidor, o volume fabricado e o número de microcervejarias gaúchas em operação mais que triplicaram nos últimos cinco anos, mas os empresários ainda consideram "nebuloso" o futuro do segmento.

Com produções entre 5 mil e 10 mil litros por mês na maior parte dos casos, as empresas têm dificuldades para crescer com uma carga tributária federal e estadual que chega a 60% do faturamento bruto, diz o diretor executivo da Associação Gaúcha das Pequenas e Microcervejarias (AGPM), Jorge Gitzler. O percentual é o mesmo incidente sobre as grandes indústrias, mas as pequenas não têm escala para diluir o custo nem acesso a programas de incentivo fiscal, afirma.

Conforme o executivo, as microcervejarias também arcam com gastos de distribuição e aquisição de matérias-primas e insumos proporcionalmente mais altos devido à escala menor. Experiências de compras conjuntas começam a aparecer e o "aluguel" de capacidade instalada de fábricas em operação também é uma alternativa para quem entra no mercado, mas o setor ainda está em formação e pouco maduro para parcerias mais estruturadas ou mesmo fusões, entendem alguns cervejeiros como Herbert Schumacher, dono da cervejaria Abadessa.

Mesmo assim, com um portfólio variado e de boa qualidade, com cervejas que incluem desde as pilsen e weizen (de trigo), mais leves, até os tipos ale, dunkel e porter, mais encorpados, as 35 microcervejarias filiadas à AGPM produzem em média 300 mil litros por mês, calcula Gitzler. "Há cinco anos eram dez empresas e a produção ficava entre 50 mil e 100 mil litros por mês", lembra. Mas a oferta poderia ser maior, porque neste período "seis a oito" empresas saíram do mercado, segundo o executivo.

Com 38 anos e formado em arquitetura, Micael Eckert via, quando criança, o avô fazer cerveja em casa na cidade de Estrela, de colonização predominantemente alemã. No fim dos anos 90 ele próprio começou a produzir a bebida e em 2004 lançou em Porto Alegre a marca Coruja, hoje uma das mais consolidadas no segmento no Rio Grande do Sul. Na época ele alugava capacidade em uma pequena cervejaria no município de Teutônia e produzia 200 a 300 litros por mês.

Hoje o volume chega a 15 mil litros por mês, produzidos na fábrica da Saint Bier, do sócio Abrahão Paes Filho, em Forquilinha (SC). As vendas alcançam o Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo e Rio de Janeiro e Eckert vê boas perspectivas de crescimento. "Espero que a cerveja especial tenha o mesmo reconhecimento do vinho como produto de qualidade", diz o empresário, que já teve que se juntar a outras três empresas para fechar a encomenda de um lote mínimo de 1 milhão de unidades exigido por um fabricante de tampinhas.

A história da Abadessa começou em 2002, também em Porto Alegre, três anos depois que Schumacher voltou de Munique, onde viveu durante 13 anos, cursou ciência política, política internacional e aprendeu a fazer cerveja. "A avalanche de microcervejarias é uma resposta à necessidade do consumidor que não quer ficar preso às grandes indústrias", diz o empresário.

Schumacher também estreou alugando capacidade instalada. "Comecei com um cliente e 20 garrafas de um litro importadas da Alemanha", lembra. Em 2006 a empresa implantou a fábrica própria, no município de Pareci Novo, onde já investiu R$ 1 milhão com dinheiro próprio e financiamentos. A capacidade instalada é de 18 mil litros por mês e, no ano passado, a Abadessa produziu 87 mil litros, mas para 2012 a previsão é alcançar até 120 mil litros. O empresário já consegue viver do negócio, mas diz que o dinheiro não é o mais importante. "A satisfação é fazer uma boa cerveja e ser reconhecido por isto", afirma.

"Por enquanto só nos divertimos e pagamos as contas", acrescenta Francisco Stürmer, sócio da cervejaria Barley, no município de Capela de Santana. Ele começou a produzir cerveja por hobby em 1992 e dez anos depois criou a empresa, que hoje produz em média de 10 mil a 15 mil litros por mês, vendidos num raio máximo de 300 quilômetros. Dono também de uma fábrica de artefatos de couro, o empresário acredita que se a carga tributária cair o setor vinga. "Aí se espalha pelo interior", acredita.

As estimativas sobre a participação das cervejas especiais (ou "superpremium", como também são chamadas) sobre o mercado total de cerveja no país, de quase 13 bilhões de litros por ano, variam de 0,1% a 0,5% e o segmento sonha com uma fatia de 6% a 7%, semelhante ao que ocorre nos Estados Unidos. "Há muito espaço para crescer, mas é importante manter as pequenas cervejarias em operação para preservar a diversidade, a qualidade e o charme do produto", afirma Schumacher.

Um dos temores do segmento é que as pequenas despertem a cobiça das grandes indústrias e comecem a ser incorporadas como aconteceu com a Eisenbahn, a Baden Baden e a Devassa, adquiridas pela Schincariol em 2007 e 2008. O consultor da CervBrasil, que reúne as quatro maiores fabricantes do país (Ambev, Petrópolis, Schincariol e Heineken), Adalberto Viviani, porém, discorda. Segundo ele, as líderes de mercado já têm marcas consolidadas que podem ser usadas em linhas de cervejas especiais. "Não vale a pena comprar várias marcas menores", afirma.

Mas a luta contra a carga fiscal segue como a principal bandeira dos microcervejeiros gaúchos. A AGPM já pediu ao governo do Estado a redução do ICMS (de 25%) sobre as cervejas especiais, mas o assunto "não está na pauta" e "não há previsão para discussão sobre o assunto", diz a Secretaria da Fazenda gaúcha. Conforme Gitzler, a associação defende um mecanismo semelhante ao adotado em 2009 por Santa Catarina, que reduziu o imposto pela metade com a concessão de crédito presumido de 13% para as cervejarias locais com produção de até 3 milhões de litros por ano.


Veículo: Valor Econômico


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