O preço do chá atingiu ontem o maior nível em dois anos e meio, depois que as colheitas fracas em alguns dos produtores mundiais mais importantes afetaram o fornecimento. Clima seco, poucas chuvas e geadas afetaram a produção no Quênia, o maior exportador mundial de chá preto do mundo. Uma temporada ruim de monções, por sua vez, reduziu as perspectivas de produção em Índia e Sri Lanka, dois outros grandes exportadores.
A cotação no atacado do chá preto de melhor qualidade - conhecido como "broken pekoe 1", ou BP1 - aumentou 41% desde o começo do ano, ultrapassando no mês passado a marca de US$ 4 o quilo, nível registrado apenas uma vez antes, no fim de 2009, quando os preços chegaram a US$ 5,45.
A valorização dos preços será sentida em todo o mundo, desde os apreciadores dos chás doces no Cairo até os amantes dos chás leitosos em Londres, passando pelos consumidores do chá gelado em Los Angeles. Os países mais pobres, como Afeganistão e Paquistão, provavelmente sentirão mais, uma vez que as margens dos comerciantes são menores do que no mundo ocidental.
Entretanto, Kaison Chang, secretário do grupo intergovernamental para o chá da FAO, braço das Nações Unidas para agricultura e alimentação, disse que os varejistas não conseguirão repassar todo o aumento. "Algum impacto deverá haver no âmbito do varejo, mas a competição entre todas as bebidas no varejo é muito intensa", disse. Ao contrário do café, o chá não é negociado nos mercados futuros, e sim através de acordos físicos em leilões semanais realizados em Mombasa, no Quênia.
Analistas acreditam que os preços poderão subir ainda mais este ano. A produção de chá do Quênia foi de 158 mil toneladas nos primeiro seis meses do ano, 11,3% menos que no mesmo período de 2011, segundo estimativas locais. Na Índia e no Sri Lanka, as produções deverão cair de 5% a 10% em 2012 na comparação com o ano passado, segundo Chang.
"Há sinais de que o preço vai subir muito", disse ele. As quedas na produção darão suporte aos preços num patamar de aproximadamente US$ 4,50 o quilo, acrescentou. Segundo operadores, os maiores importadores de chá - Rússia, Reino Unido, Paquistão e Oriente Médio - formaram estoques nos últimos meses, o que poderá provocar uma queda de preços no curto prazo, na medida em que a demanda diminuir.
Em seu mais recente relatório sobre o mercado, a Van Rees, empresa holandesa que comercializa chá, disse acreditar que os preços "farão uma pausa, para decolar novamente no inverno". Mas a demanda vem crescendo rapidamente na Índia e na China, que são grandes exportadores do produto.
Veículo: Valor Econômico