A SABB Coca-Cola, joint venture formada pela multinacional e fabricantes de bebidas no Brasil, recebeu ontem no Paraná a primeira certificação de uma fábrica do país por padrões sustentáveis de construção. A unidade, responsável pela produção de chás da marca Matte Leão, foi concebida de acordo com os critérios de racionalização de recursos do Leed (Liderança em Energia e Design Ambiental, na sigla em inglês), o principal selo internacional de sustentabilidade para o mercado imobiliário. Foram investidos R$ 4,6 milhões.
Inaugurada em novembro de, 2008, a fábrica que fechou 2011 com 13 milhões de litros de chás produzidos, é um marco não só para a SABB Coca-Cola - esta é a primeira unidade fabril do grupo com certificação Leed na América Latina -, mas também para o segmento de bebidas nacional. Até ontem, apenas edifícios comerciais e de saúde detinham tal status no país. "A partir de agora, as novas fábricas do Sistema Coca-Cola Brasil serão construídas dentro dos modernos conceitos sustentáveis do Leed", disse o diretor de Relações Institucionais e Jurídicas da Coca-Cola, Mauro Ribeiro, durante o anúncio oficial da certificação em Fazenda Rio Grande, região metropolitana de Curitiba.
Segundo a empresa, estão em andamento 22 estudos de viabilidade técnica para a adaptação das fábricas existentes aos parâmetros necessários para a certificação. A joint venture tem 46 unidades no país. "Daremos prioridade àquelas que abastecerão as cidades-sede da Copa de 2014", disse Ribeiro.
Duas fábricas em estágios mais avançado no processo de certificação deverão necessitar de aportes de R$ 3 milhões a R$ 5 milhões para as adaptações - a de sucos, localizada em Linhares (ES), e a de chás líquidos, em Fernandes Pinheiro (PR), diz o gerente de sustentabilidade da SABB Coca-Cola, Fabiano Rangel. O valor total a ser investido no "retrofit" de todas as unidades, porém, ainda não é aberto. "Cada caso é um caso e demandará adaptações diferentes".
Conferido pelo braço brasileiro da ONG Green Building Council, o selo Leed atesta a implementação de ações sustentáveis desde o projeto arquitetônico até a gestão da obra. Prevê, por exemplo, escolhas conscientes em relação ao tipo de material utilizado na construção. A minimização dos impactos à comunidade do entorno também deve ser uma preocupação, assim como tecnologias e medidas de eficiência energética, a aquisição de ao menos 10% dos materiais de obra com conteúdo reciclado, disponibilização de área permeável 25% maior que a exigida pela lei.
A planta de produção de chás secos da Matte Leão foi erguida em um terreno de 110 mil m2, sendo 20 mil m²de área construída. Conforme requisito do Leed, 41% da área do terreno foi destinada a espaços abertos. O telhado da fábrica é branco e a pavimentação das ruas é clara para reduzir o efeito conhecido como "ilha de calor". Já os telhados dos escritórios administrativos são forrados por gramíneas. Há vagas exclusivas para os funcionários que oferecem carona a colegas.
No caso da SABB Coca-Cola, a certificação verificou neste primeiro momento apenas a construção da unidade em Fazenda Rio Pequeno. Agora, a unidade passará pelo crivo do Green Building Council para a certificação de sua operação e manutenção, que terá validade de cinco anos.
Além de internalizar o conceito sustentável, a Coca-Cola também deverá ter uma economia significativa em seus custos de operação, que compensaria os investimentos para construir a fábrica modelo até 15% mais altos. Cálculos da companhia mostram uma redução de 36% nos gastos em consumo de água e de 23% em energia.
Segundo o Green Building Council, outras vantagens estão no aumento da velocidade de ocupação dos imóveis e na valorização do metro quadrado.
Apesar da largada na frente da Coca-Cola, a certificação é uma tendência que deve ser seguida por concorrentes e representantes de outros segmentos da indústria. Segundo o Valor apurou, a rival Pepsico também está em processo de certificação de uma de suas fábricas na Bahia - até o fechamento desta edição a multinacional não havia respondido aos pedidos de entrevista da reportagem.
Dados de junho deste ano apontam para 61 projetos certificados com o selo Leed no Brasil e outros 556 em certificação. O Brasil é o quarto país do mundo em número de prédios certificados, atrás de EUA, China e Emirados Árabes Unidos.
Veículo: Valor Econômico