Depois de mais de dez anos ausente, foi uma satisfação rever a gama de champagnes Ruinart no mercado brasileiro em meados de 2007. E mais ainda foi ele ter-se sobressaído na degustação com vários de seus congêneres publicada aqui nesta coluna em dezembro do ano passado. Em particular por se tratar do Blanc de Blancs, o que significa ter sido elaborado apenas com chardonnay, uma variedade que costuma dar vinhos com mais acidez, condição pouco favorável numa prova comparativa com outros rótulos mesclados com pinot noir e pinot meunier.
Entenda-se que na elaboração de um champagne, cada uma das variedades, tem, em tese, uma função: a pinot noir é responsável pelo corpo e estrutura, a pinot meunier, pelos aspectos frutados, e a chardonnay pelo frescor. Não por acaso, a maioria dos champagnes calcados exclusivamente em chardonnay aparentam ser mais secos e leves.
Na verdade, chardonnay é o diferencial da Maison Ruinart em relação às demais casas de Champagne. Ainda que cada uma guarde seu estilo, a procedência das uvas fala mais alto do que a proporção com que as variedades entram em sua composição. Assim, nos champagnes em geral, na linha normal, as três castas entram aproximadamente em partes iguais, enquanto nos topos de gama a presença de pinot noir é mais relevante, para dar mais presença à bebida.
A rigor, alcançar altos padrões utilizando apenas chardonnay não é de todo surpreendente, como provam o Clos de Mesnil, da Krug e o Salon, só para citar dois exemplos. A questão, então, é a origem do chardonnay. Se no caso dos dois citados a explicação está no vinhedo único de onde eles procedem, no Ruinart é a arte de compor as uvas, saber utilizá-las, mesclá-las, e jogar com as safras.
Esse dom tem Frédéric Panaïotis., chef de caves da Maison Ruinart. Segundo ele, um champagne datado (fruto de uma única colheita) é um presente da natureza; um não safrado é trabalho do homem. No caso do seu Blanc de Blancs o segredo é juntar uvas de três safras, originadas de quatro zonas distintas: Premiers Crus da Côte des Blancs e da Montaigne de Reims, que aportam aromas refinados; de Sézanne, para a maciez; e do vale do Vesle, para a estrutura.
A casa tem basicamente duas linhas: a Ruinart, composta do R de Ruinart, um brut, o Blanc des Blancs, e um rosé, com 45% de chardonnay complementados com pinot noir; e a Dom Ruinart, que abrange um Blanc de Blanc e um rosé, ambos safrados. Os últimos, a gama mais alta, só são colocados no mercado após um mínimo de oito anos da data da colheita e o caráter da safra é muito bem definido.
Assim, além do Ruinart Blanc de Blancs, começamos com o Dom Ruinart 100% chardonnay - 1998, um ano de final de colheita bem quente, que originou um champagne clássico - um exuberante 1996, e um mais leve 1993. Os rosés foram sublimes, com um elegante 1996, um notável 1990, e um 1988, que apesar dos seus 20 anos mostra-se austero, fruto, como frisou Frédéric Panaïotis, de uma temporada mais fria, com acidez que precisa de mais tempo (ainda) para se integrar.(JL
Veículo: Valor Econômico