Cachaça vai à balada com sabores e menos álcool

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O público jovem está no alvo dos produtores de cachaça, que querem disputar o espaço da vodca nas festas. Para isso, os fabricantes apostam na "cachaça light" - com sabor de frutas e menor teor alcoólico, o que faz o consumidor beber mais e por mais tempo.

A estratégia é levar a bebida "para a balada", e não apenas em drinques, como a caipirinha. Mesmo que para isso, a rigor, ela deixe de ser cachaça. O Inmetro (Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia) define que cachaça deve ter teor alcoólico entre 38º e 54º. As fabricantes Santa Dose e Busca Vida oferecem a nova bebida de teor de álcool menor, de 17,5º, com o nome de "pinga com mel e limão". A Ypióca tem uma versão sabor guaraná de 15º.

"Queremos estar no mesmo universo de [vodca] Smirnoff", diz Bruno Siqueira, diretor da Santa Dose, com sede em São Paulo. As vendas do produto que leva o nome da empresa devem fechar o ano com 40% de crescimento sobre 2011. Para atender à expansão da demanda, a companhia está montando uma segunda linha de produção em Jarinu (SP), que deve começar a operar em 60 dias, com foco nos mercados do Sul, Sudeste e Centro-Oeste. A primeira unidade, em Pernambuco, vai concentrar-se em atender o Nordeste e as exportações.

Seus consumidores, segundo Siqueira, têm entre 18 a 35 anos e são mulheres, em sua maioria (85%). "O apelo do [sabor] doce agrada a mulher. Não é machismo, é hábito comprovado", diz ele.

A cachaçaria mineira Seleta não quer ficar de fora desse mercado. A empresa vai lançar, até o Carnaval de 2013, duas linhas de misturas, uma com mel e baru (um fruto do cerrado) e outra com sabor, nas versões limão, maracujá e maçã-verde, além de uma cachaça "branca".

Segundo Ednilson Machado, diretor de marketing da Seleta, a ideia é que a cachaça branca possa competir com a vodca, sendo misturada com energético e sucos. "O mercado de misturas hoje é o que mais cresce", afirma. "Queremos estar na balada, na boate, na festa."

A cachaçaria prevê ampliar as vendas em 20% em volume e 27% em faturamento em 2012, para R$ 23 milhões, diz o diretor-executivo da Seleta, Joelson Lisboa. E também olha para o mercado tradicional. No começo do ano que vem vai lançar uma cachaça premium, mantida em barril de carvalho por sete anos, batizada com o nome do fundador e presidente da empresa, Antonio Rodrigues. Hoje, a companhia possui três marcas - Seleta, Boazinha e Saliboa - voltadas para o consumo em pequenas doses, todas envelhecidas em barril de madeira.

A britânica Diageo, que comprou a cachaçaria Ypióca em maio por R$ 900 milhões, agora estuda ampliar as linhas da bebida com sabores. Maior fabricante de destilados do mundo, a multinacional também é dona da vodca Smirnoff. "A cachaça é uma bebida versátil, que pode ser consumida de diversas formas - seja saborizada, pura, gelada ou como base para drinques, e em várias ocasiões de consumo", disse o diretor de marketing e vendas da Ypióca, Eduardo Bendzius.

Hoje, além da versão sabor guaraná, a marca oferece opções com frutas vermelhas e limão. O público da cachaça com sabores tem, segundo Bendzius, entre 25 e 40 anos e "gosta de consumir drinques rápidos com suco ou refrigerante". A multinacional é dona também da Nêga Fulô, sem sabor.

O aumento da oferta das "cachaças lights" pode ser visto nas gôndolas dos supermercados. Há cinco anos, o Grupo Pão de Açúcar não vendia cachaça com sabor e hoje tem sete versões. Segundo Jorge Pompeu, comprador comercial do grupo, "trata-se de uma categoria recente que vem pegando carona na vodca saborizada".

A Cereser ampliou o portfólio para além da sidra para acompanhar esse movimento: em maio, lançou a 88 Viramel, "cachaça light" também com mel e limão e 17% de graduação alcoólica. O produto "representa a busca por novos consumidores", informa a empresa, "e tem conquistado a preferência de jovens na faixa dos 25 anos". A fabricante, que produz sidra em seis sabores, vai lançar a versão maçã-verde em 2012, e aposta na vodca com limão.

A vodca com sabor é um produto antigo. A francesa Pernod Ricard fabrica a Absolut em 16 versões - oito à venda no Brasil. Segundo a empresa, a de pimentão foi a primeira versão com sabor do mundo, lançada em 1986 (no Brasil, chegou em 1993). Já a Smirnoff, vodca mais vendida no país, tem cinco variações com sabor, além do original.

Apesar do crescimento desse nicho, há marcas que continuam apostando na versão tradicional, como a Espírito de Minas. "Não entraremos nesse mercado de misturas. Reconhecemos que ele é promissor do ponto de vista financeiro e respeitamos quem faz, mas somos uma cachaça já tradicional", diz a diretora de marketing Mariana Mansur. "Não temos a menor intenção de nos desviar dessa linha."

O desenvolvimento das marcas de cachaça ocorre em um momento em que o setor está em alta. O Brasil conquistou este ano o reconhecimento da denominação de origem nos Estados Unidos - agora, só o que é produzido no país sob determinadas regras pode ser considerado cachaça (como champanhe e conhaque, da França, e tequila, do México). Até então, a cachaça era classificada como "rum brasileiro".

A medida fortalece a indústria nacional e deve ajudar a conquistar o reconhecimento em outros países. Além disso, o Brasil está em evidência como sede da Copa do Mundo de 2014 e da Olimpíada de 2016. Os fabricantes esperam que todos esses fatores contribuam para impulsionar as exportações do produto nos próximos anos.



Veículo: Valor Econômico


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