Caracterizadas por seus anúncios instigantes com motos, música pesada e mulheres vestidas com roupas de couro, as bebidas energéticas vêm sendo uma rara fonte de crescimento nos tempos atuais, em que a indústria de refrigerantes tornou-se inimiga pública na luta contra a obesidade.
Compostas por ingredientes exóticos como taurina, ginseng e guaraná, além de quantidades abundantes de cafeína, as bebidas energéticas tornaram-se um mercado com vendas de US$ 9 bilhões nos Estados Unidos em 2011, segundo dados da "Beverage Digest". As vendas, em volume, cresceram 16% na comparação anual, encabeçadas por marcas como Monster, Red Bull e Rockstar.
Recentes acusações de que as bebidas da Monster Energy podem ser responsáveis por cinco mortes renovaram as preocupações quanto a esses produtos nos EUA, desencadeando pedidos por mais fiscalização.
Os investidores também estão receosos, o que levou as ações da Monster a cair quase 30% nos últimos três meses e refreou grandes grupos de bebidas, como a Coca-Cola e a PepsiCo, outrora considerados possíveis compradores dessas empresas.
Críticos dizem que as bebidas energéticas se consideram suplementos alimentares para evitar o mesmo tipo de fiscalização que as empresas de bebidas e alimentos enfrentam da Food and Drug Administration (FDA). Uma lei de 1994 deu aos suplementos alimentares status especial, eximindo-os de aprovações da FDA e exigência de rótulos com informações nutricionais. "É uma vergonha", disse Marion Nestlé, professora de saúde pública e nutrição na New York University. "Para fugir das exigências sobre o nível de cafeína, eles estão comercializando isso como suplemento alimentar."
Preocupações quanto aos suplementos alimentares vêm surgindo ocasionalmente, como aconteceu, mais notavelmente, em 2004, quando a FDA foi obrigada a retirar do mercado pílulas para emagrecer com efedrina, depois que foram relacionadas a ataques cardíacos e derrames. Os energéticos vêm provocando receios similares quanto aos efeitos, especialmente em crianças, decorrentes da mistura de altas quantidades de cafeína com outros estimulantes.
Pesquisadores da faculdade de medicina da John Hopkins University ressaltaram em estudo de 2008 que "há cada vez mais casos de intoxicação com cafeína de bebidas energéticas, e parece provável que os problemas de dependência e abstinência de cafeína também vão aumentar".
Em 2010, a FDA determinou que a cafeína é um aditivo alimentar às bebidas alcoólicas não seguro, o que na prática extinguiu uma categoria que estava se tornando uma bebida popular em festas. Defensores da saúde pública dizem que as bebidas energéticas deveriam ser as próximas, destacando que houve um aumento no movimento no pronto-socorro paralelo ao crescimento de suas vendas.
As bebidas energéticas podem chegar a ter dez vezes mais cafeína do que um refrigerante comum e o dobro do que o café, segundo a FDA. Mas até agora, a agência ainda não encontrou evidências suficientes de que as bebidas energéticas sejam perigosas. A FDA investiga a interação entre a cafeína e outros estimulantes contidos nas bebidas energéticas.
Em carta enviada em agosto para o senador americano Richard Durban, que havia perguntado sobre a segurança desses produtos, a FDA informou que prepara diretrizes sobre como as empresas deveriam diferenciar as bebidas dos "suplementos alimentares líquidos". A FDA também sugeriu que estudará regras adicionais para os suplementos alimentares.
A Monster sustenta que seus produtos são seguros e que contestará as acusações do processo sobre a morte de uma adolescente, cuja família atribui à bebida energética.
Veículo: Valor Econômico