Garrafas falsificadas de uísque, vodca, rum e outros destilados representam um problema cada vez maior para as fabricantes internacionais de bebidas em meio a seus esforços para expandir as vendas na Ásia e Leste Europeu, o que as obriga a entrar em um jogo de gato e rato com os falsificadores.
A questão voltou à tona nas últimas semanas na República Tcheca, onde 30 pessoas morreram após beber uma versão falsificada com metanol de um rum local. Os casos de envenenamento se espalharam pela Polônia e Eslováquia e até agora 50 pessoas foram presas por envolvimento com a bebida.
Executivos da Brown-Forman, Pernod Ricard e Diageo, três das maiores fabricantes mundiais de destilados, sustentam que os governos dos países em desenvolvimento precisam se esforçar mais para coibir os grupos que falsificam seus produtos ou vendem ilicitamente bebidas caseiras.
"Estima-se que um terço do álcool mundial vem do que chamamos de produção ilícita", disse Paul Varga, CEO da Brown-Forman ao "Financial Times".
O governo tcheco proibiu em setembro as vendas domésticas e exportações de bebidas com graduação alcoólica superior a 20%, para depois reintroduzi-las gradualmente desde que as garrafas venham com novos rótulos. Aparentemente, a maior parte das bebidas falsificadas é de garrafas baratas de rum e vodca.
Pavel Caniga, executivo-chefe da fabricante de bebidas Likerka Drak, foi acusado de colocar a saúde pública em risco por envenenamento e pode receber pena de prisão de até oito anos, caso seja julgado culpado. Ele diz que as acusações são "absurdas", segundo a agência de notícias tcheca "CTK", enquanto a empresa sustenta que seus produtos não têm problemas.
A proibição à venda atingiu tanto as exportações como o turismo doméstico - Praga é uma destino popular para festas regadas a álcool nos fins de semanas, especialmente para turistas britânicos.
Bebidas falsificadas são "um grande perigo", disse Pierre Pringuet, executivo-chefe da Pernod Ricard, ao "Financial Times". "É muito importante que falsificadores sejam sentenciados à prisão, porque as multas são ridiculamente baixas em comparação aos benefícios que eles podem conseguir com a falsificação."
Alguns executivos do setor atribuem o problema à taxação cada vez maior, que tornou seus produtos menos acessíveis. Os altos impostos, associados aos elevados níveis de desemprego, criaram um florescente mercado negro de bebidas destiladas.
"Tendemos a ver um aumento desses produtos ilícitos quando os preços sobem, puxados pelos impostos", disse Michael Patten, diretor da Diageo. "Quando há suprimentos alternativos, as pessoas migram para eles, apesar de se exporem a maiores níveis de risco."
Um estudo do Instituto de Assuntos Econômicos estima que os destilados adquiridos no mercado negro custam à Fazenda do Reino Unido cerca de 1,2 bilhão de libras esterlinas ao ano (US$ 1,9 bilhão).
O Centro Internacional de Políticas para as Bebidas Alcoólicas informa que 30% das bebidas alcoólicas consumidas no mundo não têm registro. Segundo David Bolt, diretor da Federação Internacional de Fabricantes de Bebidas Destiladas, as empresas do setor perdem mais de US$ 1 bilhão ao ano com bebidas falsificadas, e os governos enfrentam altos prejuízos em termos de receita fiscal.
"O maior risco está nos mercados emergentes, onde há falsificadores que juntam garrafas vazias e, em alguns casos, as enchem com álcool industrial ou álcool não produzido para consumo humano e as revendem no varejo", disse Bolt. A Rússia e a China tendem a ter os maiores mercados negros, mas as economias deprimidas do Leste Europeu também são fonte cada vez maior de preocupação.
Em reação a isso, as empresas investem em tecnologias de segurança. Varga disse que a Brown-Forman, fabricante do uísque Jack Daniels, usa uma tampa antirreposição para suas garrafas maiores, a fim de impedir que criminosos as preencham com outros tipos de álcool. Além disso, têm sido usados hologramas, lacres e tintas passíveis de ser checados ao longo do processo de distribuição.
"Sempre estamos em busca da próxima ideia mais avançada em termos da manutenção da integridade do produto", disse Varga. "Mas, se há um falsificador motivado, que quer trabalhar com os nossos produtos, isso é um duro desafio para as empresas e o setor."
Veículo: Valor Econômico