Donos de bar e fabricantes de cerveja estão assistindo a um começo de ano difícil. Para os comerciantes, o endurecimento da Lei Seca ajudou a derrubar o movimento de bares e restaurantes de São Paulo, e em cidades como Belo Horizonte e Rio, em 20% no primeiro bimestre. E nos próximos meses, com a chegada do inverno, os negócios encolhem historicamente, até meados do ano.
Para a indústria, o verão fresco no Sudeste e a desaceleração no consumo contribuíram para uma queda da produção no primeiro trimestre. Além disso, há dez dias, o Imposto de Produto Industrializado (IPI) da bebida está 2% maior, mas a indústria ainda não apresentou novas tabelas de preços.
"Quando vier o aumento de preço eu não vou repassar, não há espaço para isso", diz o dono dos bares Veloso e Armazém Veloso, no bairro da Vila Mariana, em São Paulo, Otávio Canecchio. "O aumento de preço é ruim. Mas tem também os arrastões, a lei seca e o inverno, que afastam os clientes dos bares até julho", diz.
Para o presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes em São Paulo (Abrasel -SP), Joaquim Saraiva de Almeida, o aumento do preço da cerveja traz outro risco. "O estoque [da indústria] está elevado, provocado pela Lei Seca, e se aumentarem os preços não conseguirão baixar os níveis atuais", diz.
No primeiro trimestre deste ano a produção de cerveja somou 3,3 bilhões de litros, segundo dados do Sistema de Controle de Produção de Bebidas (Sicobe), da Receita Federal. Esse volume representou uma queda de 0,6% em relação ao mesmo período do ano passado.
Uma pesquisa realizada com os 600 associados da Abrasel-SP no início de março, apontou para uma queda de 20% nos negócios nos dois primeiros meses do ano, em relação a janeiro e fevereiro de 2012. Essa redução refletiu o endurecimento da Lei Seca, que começou a vigorar em 21 de dezembro último. O impacto nos negócios vale também para os outros Estados do país.
"Acho que o aumento de preço da cerveja vai levar a um aumento de consumo em casa", diz Fabiano Bellucci, sommelier de cervejas do boteco Frangó, instalado num casarão na Freguesia do Ó, há 25 anos. O cardápio do bar exibe 450 rótulos de cervejas, dos quais 25% nacionais. "Acho que o cliente vai continuar bebendo, mas em menor quantidade", diz, o sommelier do Frangó. Para não perder vendas, o Veloso oferece "drinques sem álcool com efeito visual de caipirinha".
O preço maior, os assaltos cada vez mais frequentes a bares e restaurantes e a Lei Seca mais severa devem provocar um aumento dos gastos em bebidas alcoólicas para se consumir em casa de cerca de 10% neste ano, na comparação com 2012, segundo a pesquisa Pyxis Consumo, da Ibope Inteligência. Esse aumento levaria a um total de R$ 6,8 bilhões em vendas de cervejas, vinhos, champanhes e bebidas destiladas em 2013.
Embora o consumo domiciliar de bebidas alcoólicas tenha avançado em 2012 e tenha boas perspectivas para 2013, o mercado cervejeiro, terceiro maior do mundo depois da China e dos Estados Unidos, registrou em 2012 a menor taxa de crescimento dos últimos cinco anos.
Segundo a Associação Paulista de Supermercados (Apas), o preço da cerveja no período acumulado de janeiro a março deste ano mostra queda de 0,32%. Mas, em doze meses até março, registra alta de 11,65%.
O gerente de economia da Apas, Rodrigo Mariano, observou que, historicamente, o segundo semestre carrega mais reajustes de preço enquanto no início do ano, após o Carnaval, os preços baixam. "Considerando que os preços dos grãos devem se estabilizar em 2013, estimamos uma desaceleração do aumento da cerveja no ano para 6%", diz Mariano.
Veículo: Valor Econômico