Cerveja sem mistério

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Augusto Pio

Recentemente, ela foi até a Bélgica receber o certificado e a medalha de ouro pela Cerveja Bravo Imperial Porter. Ana Paula Lebbos, diretora de Marketing da Cervejaria Backer, participou da concorrida cerimônia, que ocorreu em Bruxelas, durante o Superior Taste Award. A Bravo recebeu duas estrelas de ouro, com pontuação entre 80% e 90% na avaliação realizada pelo júri do International Taste & Quality Institute, organização independente, formada por chefs e sommeliers que se dedicam a avaliar, prestigiar e promover alimentos e bebidas do mundo todo. Entre 1.239 produtos alimentícios inscritos, a Backer foi a única microcervejaria brasileira a faturar o prêmio. Ela foi criada em setembro de 1998 por Ana Paula e os irmãos, Halim Lebbos e Munir Khalil, e comercializa seus produtos em 13 estados brasileiros.


Quando surgiu o interesse pelo ramo de cervejas e como tudo ocorreu?
Meu interesse começou como hobby, assim como com os vinhos. Mas, foi durante uma viagem a Londres, na década de 1990, que minha curiosidade tomou proporções não imaginadas, me tornando uma estudiosa e apreciadora do assunto.

Fale um pouco de sua formação.
Sou sócia-proprietária e diretora de Marketing da Cervejaria Backer. Formei-me em administracão pela Universidade Católica, e em sommelier e beer sommelier pela escola internacional Association de la Sommellerie e pela Associacão Brasileira de Sommelier de São Paulo.

Como nasceu a ideia de montar a Backer?
Na década de 1990, eu era diretora de marketing de um restaurante internacional, no qual um dos sócios era meu marido. Lá, tive a oportunidade de oferecer a cerveja artesanal da casa e de estar muito perto dos clientes. O sucesso de uma cerveja artesanal de Minas foi tão grande que, depois de muito planejamento e pesquisas, resolvemos lançar no mercado quatro estilos de cervejas em garrafa, a Backer pilsen, a Backer pale ale, a Backer brown e a Backer trigo. No restaurante, criamos uma petit store para vendermos kits de cervejas, porta-copos, copos, taças e aventais, entre outros. Foi um sucesso. Assim nasceu a Cervejaria Backer. Busquei o pioneirismo, acreditando que aquela poderia ser a chance da minha vida.

A veia empreendedora foi decisiva para transformar o desejo em realidade?
Sou de família simples, cresci no meio de pessoas batalhadoras e sempre tive bons exemplos de vida. Sou ariana, gosto de fazer, de pôr a mão na massa. Nunca sonhei ter um cargo executivo ou ficar atrás de uma mesa de escritório. Meu espírito de liderança me leva para perto de meus colaboradores, clientes e eventos. Gosto de estar perto do meu cliente, de conversar e saber o que o satisfaz. Para mim, o caminho mais curto para o sucesso de um novo produto é procurar identificar necessidades que não estão sendo satisfeitas e procurar desenvolver produtos e serviços que preencham essa lacuna. Naquela época, eu e meus sócios não tivemos medo de abrir uma empresa que fosse diferenciada, pois não existiam cervejas especiais no Brasil. A maioria dos brasileiros que tomava cerveja só tinha como opção as do estilo lager, das multinacionais. Fomos pioneiros junto com poucas microcervejarias que surgiram na mesma época, quando começamos a fazer história de cervejas especiais no Brasil. Tínhamos um papel em branco e isso foi muito importante para termos força para ultrapassar inúmeras dificuldades que vivemos na época.

O que não pode faltar em um bom profissional?
Um profissional tem que ter objetivos pessoais e profissionais, observar tendências, usar talentos pessoais, ser adepto da educação contínua, buscar equilíbrio entre trabalho, lazer, emoções e valores, ser colaborador, ser líder, tomar decisões, ser comprometido, ético e, acima de tudo, amar o que faz.

Qual o segredo do sucesso da Backer?
O verdadeiro diferencial da Backer é estabelecer novos conceitos, ser uma empresa competitiva, que produz itens de alto valor agregado. E manter preço justo, sempre respeitando a clientela. Interagir com as pessoas de forma pragmática, conseguindo encantar nossos clientes, valorizando e tendo como aliados nossos funcionários.

 

Qual o diferencial dos produtos Backer para os outros?
Cada case de produtos Backer tem seu diferencial, a começar pelas primeiras linhas de produtos. A pale ale, pilsen, brown e trigo são cervejas especiais, cada uma no seu estilo, e com objetivo principal de agradar ao cliente que está começando a conhecer o mundo de cervejas especiais. A Backer pale ale acabou de receber medalha de ouro no concurso internacional South Beer Cup, a Copa das Américas 2013. A cerveja Medieval é uma receita milenar, fabricada dentro das abadias medievais. Sua garrafa é única no mundo e seu ritual de abertura também. A linha 3 Lobos – cervejas do estilo americano, superlupuladas e aromáticas – leva em suas receitas ingredientes nacionais, como capim-limão, rapadura, casca de laranja-da-terra e madeira de umburana. São receitas superpremiadas nacional e internacionalmente. A cerveja Bravo, imperial porter, foi a única artesanal no Brasil a conquistar duas estrelas de ouro no International Taste Award, realizado na Bélgica. No próximo mês, estamos exportando para Orlando, nos Estados Unidos, onde estaremos presentes em 11 estados. E, por fim, a recém-lançada Capitão Senra, uma amber lager (estilo de cerveja), que já levou medalha de prata no South Beer Cup e bronze em concurso nacional de cervejas especiais.

É difícil sobreviver nesse mercado?
O mercado cervejeiro brasileiro mudou muito. Para melhor, em alguns sentidos, e para pior, no sentido da sobrevivência. Há pouco tempo, para montar uma microcervejaria era preciso planejamento e dinheiro. Hoje, já não é só isso. Infelizmente, nossa carga tributária é muito injusta. Dois terços do que gastamos na produção são impostos. Somos cobrados por pauta fiscal, ou seja, o governo estipula o preço sobre o qual incidirão os tributos. Essa não pode ser a realidade do mercado e, ainda, o ICMS em alguns estados chega a alíquotas de 25%. No Brasil, já há registro de mais 300 microcervejarias. Enfrentamos uma concorrência desleal das megacervejarias brasileiras, multinacionais que sufocam o setor com seu poder econômico. E, para piorar, o governo brasileiro liberou as importações de cervejas, algumas de qualidade duvidosa e preços baixos, que vêm de lugares sem tradição cervejeira, como Rússia, Lituânia e Jamaica, entre outros países. Essas cervejas chegam ao mercado apenas para competir com preços, pois, no critério qualidade, as nossas são imensamente superiores. Sou a favor da concorrência, mas ela tem que ser justa para quem fabrica e para quem consome.

O mercado de Belo Horizonte é diferente do de outros?
Antes da globalização, acredito que sim. Mas, hoje, vejo o mercado de BH tão exigente quanto os outros. Nossos clientes estão cada vez mais conhecedores e isso faz com que tenhamos que investir cada vez mais não só em novos produtos, como também em trazer o cliente para conhecer nossa casa, a produção, falar com o mestre cervejeiro, tirar suas dúvidas e realmente conhecer o produto que ele quer comprar e levar para casa.

Você e seus irmão cogitam ampliar o negócio?
Vamos inaugurar, até o fim deste ano, o nosso complexo cervejeiro, uma fábrica modelo na qual nosso cliente poderá interagir, conhecer o processo de fabricação, matérias-primas e, no fim do passeio, experimentar todas as cervejas no nosso pub da fábrica. Com a Belotur, estamos entusiasmados para inaugurar e receber turistas de todo o mundo.



Veículo: Estado de Minas


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