A americana Joaima Escandon hoje com32 anos, cresceu ouvindo a avó repetir uma recomendação: “Não esqueça de beber o alimento para o cérebro ” Tratava-se do suco de laranja, desses que se compram prontos 110 supermercado, que a família bebia em todas as refeições.Há três anos, seguindo uma tendência em sen país, tirou o suco pronto do cardápio. Desde 2010, cerca de 200 mil litros de suco de laranja industrializado, deixaram de ser consumidos nos EUA, um dos principais mercados do Brasil.
Suco a menos por lá significa laranja a mais por aqui. De cada cinco copos consumidos no mundo, três saem do Brasil e, principalmente, das três maiores industrias do setor no mundo, que estão instaladas no interior de São Paulo; Ciitraie, Louis Dreyfas Gominodities e a nova empresa que reúne Citrovita e Gitrosuco, Nos últimos seis anos, o Brasil, deixou de exportar o equivalente a 220 milhões de laranjas na forma de suco volume equivalente a quase uma saíra e meia da Florida (EUA), outra região que é referênciana produção mundial de laranja.
Para contornar os prejuízos criados pela mudança de hábito no exterior, os produtores locais se organizam para criar uma empresa que levará às prateleiras dos supermercados brasileiros o : suco tipo exportação."Essa companhia não terá.terras com laranjais ou indústrias com linhas de produção”, diz Ibiapaba Netto, diretor executivo da CitrusBR, entidade do setor que participa SC da formatação do modelo de negócio. “Será um consórcio que reunirá as indústrias e os produtores e a sua tarefa será divulgar a marca, ainda não definida, e gerenciar os prestadores de serviço contratados para embalar e transportar o suco produzido pelos parceiros’ O negócio deve entrar em operação ainda neste ano e a previsão é de que consuma R$ 9,7 bilhões em investimentos até 2020.
Uma das altemativas cogitadas pelo setor é criar o Conselho de Produtores e Exportadores de Suco de Laranja (Gonsecitrus), para que ele assuma essas funções. O Gonsecitrus reunirá a CitrusBrasil, representando as indústrias do setor, e, do lado dos produtores, a Sociedade Rural Brasileira, a Alicitros, que congrega produtores de laranja de Limeira, no interior de São Paulo, e a cooperativa Coca-mar, do Paraná, que conta com produtores de laranja do Norte e Nordeste do Estado. A criação do Gonsecitrus está em análise no Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), orgão que avalia a fusão e criação
de empresas no Brasil para evitar concentração de mercada. Há três razões para o negócio focar na venda do suco tipo exportação, A primeira é aliviar os excedentes de produção que estão se formando por causa da estagnação do consumo global e criar um alternativa de mercado paraum setor,hoje muito dependente das exportações. Em dezembro de 2012, o estoque de suco no Brasil quase bateu em 1,2 milhão de litros - o equivalente a um ano de produção. “Mais do que liberar os estoques, a estratégia vai reduzir a forte dependência que 0 setor tem do mercado externo”, diz Marcos Fava Neves, pesquisador e professor da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade Universidade de São Paulo em. Ribeirão Preto. “Cerca de 90% do faturamento do setor da laranja vêm da exportação não há setor no Brasil tão vulnerável às oscilações do mercado internacional.”
O segundo motivo o suco para exportação é feito com 100% de laranja, um produto quase desconhecido pelos brasileiros. A grande maioria dos sucos vendidos no Brasil sáo néctares sucos diluídos. Algumas marcas chegam a ter 70% de água. Dos 778 milhões de litros de sucos vendidos no Brasil 110 ano passa: do apenas 55 milhões eram naturais e a maioria, de uva. Ao desbravar um nicho, os fabricantes não vão entrar em concorrência direta com seus clientes, as indústrias de bebidas, que detêm as principais marcas de néctares no País. Por fim, a decisão de atuar em um nicho de mercado também reduz o risco do Cade vetar a criação do novo negócio, Como o trio controla a produção, se criasse uma empresa para disputar espaço com os néctares : : dificilmente obteria sinal verde ! para operar.
Para oficializar a criação da nova empresa, o setor aguarda apenas uma pendência: conseguir que o governo dê isenção de impostos para o suco de laranja 100%. Com a desoneração, o produto poderá custar cerca de B$ 4, praticame te a metade do preço atual “O govemo não terá perda de receita, porque a venda desse tipo de suco praticamente não existe”, diz João de Almeida Sampaio Filho, consultor de agronegócio e ex-secretário de agricultura do estado de São Paulo, “Em contrapartida, um número maior de consumidores terá acesso a um produto natural.” O setor apresentou o projeto à secretaria de Finanças do govemo do Estado de São Paulo e ao ministério da Fazenda. Os órgãos ainda não se pronunciaram.
Veículo: O Estado de S. Paulo