Até junho, vendas de vinhos finos caem 3,9%

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A boa notícia para as vinícolas brasileiras é que depois do acordo firmado no fim de 2012 com importadores, distribuidores e supermercados em troca da retirada do pedido de salvaguardas contra os importados, os vinhos finos nacionais voltaram a ganhar, ainda que modestamente, terreno no mercado interno. A má é que justo quando indústria e varejo conseguiram finalmente chegar a um entendimento para encerrar uma briga de vários anos, a desaceleração da economia fez o consumo cair e botou água nos números do setor.

Conforme o Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin), as vendas totais de vinhos finos no país recuaram 3,9% de janeiro a junho em comparação com o mesmo período do ano passado, para 38,383 milhões de litros.

Os importados caíram 4,1%, para 29,620 milhões de litros, enquanto os nacionais tiveram queda pouco mais suave, de 3,1%%, para 8,763 milhões de litros, e conseguiram ampliar levemente sua fatia de mercado de 22,6% para 22,8%, revertendo o comportamento observado no primeiro semestre de 2012.

O problema é que o desempenho dos seis primeiros meses está muito aquém do que seria necessário para o cumprimento da meta prevista no acordo do ano passado, de vender 27 milhões de litros do produto nacional no mercado interno no acumulado de 2013. "Devemos ficar em 23 milhões de litros", diz o diretor executivo do Ibravin, Carlos Paviani.

Ainda assim, o desempenho não será nada desprezível. Se a nova estimativa de Paviani for confirmada, significará um incremento anual de vendas de 22,6%, depois da retração de 4% apurada em 2012 em comparação com o ano anterior. Para os importados, ele projeta uma queda de 5% a 6% no volume total a ser comercializado em 2013 no país, para cerca de 70 milhões de litros.

Conforme o diretor do Ibravin, a esperança é que os números dos vinhos nacionais melhorem no segundo semestre graças ao frio de julho e agosto, ao aumento do consumo no fim do ano e à provável alta dos preços dos importados com a desvalorização do real. O executivo conta ainda com a implantação gradual do acordo que garantiu a retirada do pedido de salvaguardas que havia sido feito pelas vinícolas ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) em 2012.

A negociação incluiu o aumento da oferta dos vinhos nacionais nas redes de supermercados, a realização de eventos de aproximação entre indústria, importadores e varejo (o primeiro ocorreu em Bento Gonçalves em fevereiro) e campanhas promocionais nos pontos de venda.

O acordo foi fechado, além do Ibravin, pela União Brasileira de Vitivinicultura (Uvibra) e pelas associações brasileiras de supermercados (Abras), de bebidas (Abrabe) e de importadores de bebidas (ABBA).

O vice-presidente da Abras, Márcio Milan, informa que o acordo já está sendo implementado pelas associações de supermercados no Rio Grande do Sul, São Paulo, Rio de Janeiro, Santa Catarina, Paraná, Minas Gerais e Pará e será estendido gradualmente para outros Estados.

De acordo com ele, o varejo de autosserviço, formado por 83 mil pontos de venda no país, responde por cerca de 50% das vendas de vinhos finos nacionais e importados no mercado interno.

Nas praças onde o programa de estímulo ao vinho nacional já está mais avançado, o plano é fazer algumas promoções mais "agressivas" de preços ao longo do segundo semestre, com descontos entre 15% e 20%, diz o executivo. Segundo ele, "quatro ou cinco" entre as dez maiores redes de supermercados do país devem alcançar, até o fim do primeiro trimestre de 2014, a participação de 25% dos vinhos nacionais sobre o total das vendas, como previsto no acordo.

No lado dos importados, o vice-presidente da Abras diz que os preços devem sofrer reajustes entre setembro e outubro para compensar pelo menos parcialmente a variação do câmbio dos últimos meses. Até agora a desvalorização do real não teve impacto nos pontos de venda porque os supermercados ainda trabalham com produtos recebidos até maio, mas a partir de agosto as redes terão que iniciar a reposição de estoques já sob uma nova realidade cambial.

O presidente do conselho deliberativo da ABBA, Adilson Carvalhal Júnior, confirma que o câmbio ainda não foi repassado para o preço dos importados. Mesmo assim, ele reconhece que o mercado está mais retraído em função da conjuntura econômica "delicada" e entende que a queda dos importados no primeiro semestre também foi influenciada por antecipações de compras no fim de 2012, quando ainda se discutia a possibilidade da imposição de salvaguardas.

Apesar disso, Carvalhal Júnior afirma estar "otimista" com o futuro do acordo com as vinícolas nacionais. Além de projetar uma alta na venda de vinhos finos brasileiros para 40 milhões de litros em 2016, o plano do setor é aumentar o consumo per capita da bebida (considerando vinhos nacionais e importados, finos e de mesa) de 1,9 litro atualmente para 2,5 litros por ano no mesmo período. "O problema neste momento é o cenário pouco favorável", afirma.

Mas pior do que a conjuntura é a alta carga tributária, acrescenta o executivo. De acordo com ele, até 53% do preço dos vinhos nacionais e importados nos pontos de venda correspondem a impostos e contribuições estaduais e federais, sem contar as dificuldades criadas pelas diferenças de alíquotas e regimes tributários adotados em cada Estado. "Esta agenda está andando muito devagar porque depende dos governos e a situação [das contas públicas] não é favorável", acrescenta Milan, da Associação Brasileira de Supermercados (Abras).


Mais de cem pequenas vinícolas já saíram do mercado

Espremidas entre as grandes indústrias nacionais e os produtos importados na briga por mais espaço no mercado brasileiro, as pequenas vinícolas carregam custos operacionais mais elevados por conta da baixa escala de produção. Segundo o presidente da União Brasileira de Vinícolas Familiares (Uvifam) e diretor da Vallontano, Luís Henrique Zanini, mais de cem pequenas empresas, com produção de até 200 mil litros (perto de 370 mil garrafas) por ano, deixaram de vinificar desde 2009.

A maior parte dessas cem empresas corresponde a produtoras de vinhos comuns, de mesa, mas a lista também inclui ex-engarrafadoras de vinhos finos que sucumbiram ante custos até 40% maiores em relação às grandes empresas, afirma Zanini, que é enólogo.

Uma delas foi a Cordelier, de Bento Gonçalves, que produzia perto de 130 mil garrafas por ano. Pressionada por sucessivos prejuízos, há dois anos a empresa vendeu os ativos industriais para a Union Destillery Maltwhisky do Brasil e as marcas Cordelier para a vinícola Fante e Granja União para a cooperativa vinícola Garibaldi. O ex-presidente da empresa e sócio da Maltwhisky, Lídio Ziero, não quis falar sobre o assunto.

As pequenas vinícolas pedem o enquadramento no Simples Nacional, regime do qual estão fora por produzirem bebidas alcoólicas. E também criticam iniciativas do Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin), como o trabalho pela implantação do selo fiscal, adotado em janeiro de 2012, e a tentativa de impor salvaguardas contra a entrada de produtos estrangeiros.

Um dos maiores problemas do setor é o peso e a complexidade do sistema tributário, com regras diferentes em cada Estado para o ICMS, diz Zanini. Conforme o enólogo Adolfo Lona, que em 2006 deixou de produzir vinho para dedicar-se exclusivamente aos espumantes devido à predominância do produto nacional no mercado interno, o enquadramento no Simples reduziria pela metade a carga tributária, que chega a representar 53% do preço do vinho e 57% do valor dos espumantes no ponto de venda.

Para Eduardo Angheben, diretor da vinícola Angheben, o selo fiscal e a tentativa do Ibravin de impor salvaguardas aos importados, suspensa depois do acordo firmado com importadores e varejo no fim de 2012, engrossam a lista de dificuldades. Segundo ele, a exigência do selo aumentou em até 30% o custo de mão de obra nas pequenas vinícolas porque elas têm que fazer o processo manualmente, enquanto a briga em torno das salvaguardas "queimou a imagem do vinho brasileiro" no mercado.

Para o diretor executivo do Ibravin, Carlos Paviani, porém, o pedido de salvaguardas deu força ao setor na negociação com importadores e varejo para fechar o acordo sobre a implementação do programa de valorização do vinho nacional. Ele também defende o selo fiscal como instrumento de combate ao contrabando, embora cerca de 70% dos importados estejam isentos da obrigação graças a uma liminar obtida pela Associação Brasileira dos Exportadores e Importadores de Bebidas (ABBA).

Conforme Paviani, o Ibravin também negocia com o governo o enquadramento das pequenas vinícolas de vinhos finos no Simples Nacional e já conversou a respeito do assunto com o ministro do Desenvolvimento Agrário, o gaúcho Pepe Vargas.

Para as pequenas produtoras de vinhos comuns, a entidade pretende lançar ainda neste ano, junto com os ministérios do Desenvolvimento Agrário, da Agricultura e do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, um programa de modernização da vitivinicultura no Sul do país, com assistência técnica e linhas de financiamento para modernização industrial e melhoria de parreirais.

Com produto de preço médio, brasileiros tentam aumentar suas exportações

Com quase 80% do mercado brasileiro dominado por rótulos importados, os vinhos finos nacionais buscam alternativas para crescer no exterior. Os números ainda são pequenos, apesar dos nove anos do programa "Wines of Brasil", desenvolvido pelo Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin) e pela Agência Brasileira de Promoção de Exportações (Apex), mas o setor confia que a exposição do país com a Copa do Mundo de 2014 e com a Olimpíada de 2016 no Rio vai turbinar o desempenho daqui para a frente.

"O vinho nacional ainda é novo no exterior e agora temos novas oportunidades de divulgação em festivais de promoção de produtos brasileiros relacionados aos eventos esportivos", diz a gerente do "Wines of Brasil", Andréa Milan. Segundo ela, a desvalorização do real nos últimos meses também facilita o fechamento de novos contratos de exportação, embora o país não dispute mercado no segmento de preços baixos e grandes volumes, que mais se beneficiaria da variação cambial. "Trabalhamos numa faixa intermediária de preços", diz a executiva.

Nos Estados Unidos, a maior parte dos vinhos brasileiros é vendida por US$ 15 a US$ 20, enquanto na Europa a faixa fica entre € 15 e € 20 e na Ásia, entre US$ 40 e US$ 50. Para o produto entrar em segmentos mais caros, considerados "superpremium", ainda é necessário um trabalho de mais longo prazo, afirma Andréa.

Conforme o Ibravin, em 2012 o Brasil exportou 1,1 milhão de litros de vinhos finos por US$ 3,6 milhões. Desse total, 504 mil litros, que renderam US$ 2,4 milhões, foram embarcados pelas 40 vinícolas associadas ao programa desenvolvido com a Apex, incluindo desde pequenas empresas como Lídio Carraro e Don Guerino até grandes como Miolo, Salton e Aurora.

O desempenho do primeiro semestre de 2013 ainda não foi beneficiado pelo câmbio e as vendas externas do setor ficaram relativamente estáveis em comparação com o mesmo período do ano passado. Os embarques cresceram 1,9% em volume, para 519,5 mil litros, mas recuaram 1,1% em faturamento, para US$ 1,65 milhão. Os principais destinos foram Estados Unidos, Paraguai, Colômbia, China e Alemanha.

Do total exportado, o "Wines of Brasil" respondeu por US$ 1,3 milhão, mas a expectativa do programa é que o número alcance mais de US$ 4 milhões no acumulado do ano e cerca de US$ 8 milhões em 2016. Considerando também os embarques de espumantes, Andréa prevê que as vinícolas associadas deverão exportar US$ 5,3 milhões em 2013 e US$ 10 milhões em 2016.

Maior exportadora do setor, a Miolo embarcou cerca de US$ 1 milhão em vinhos finos engarrafados no primeiro semestre, o equivalente a 60% de todo o país. Incluindo vinho a granel e espumantes, as vendas externas da empresa somaram US$ 1,3 milhão de janeiro a junho, valor igual ao apurado em todo o ano passado, diz o gerente de exportações da Miolo, Fabiano Maciel.

Segundo ele, a Miolo entrou com mais força no mercado externo em 2006 e a expansão deste ano deve-se ao aumento da participação em países como Estados Unidos, Japão, Bélgica, Dinamarca e Irlanda do Norte, além da abertura de novos clientes em países como Paraguai, Uruguai e Coreia do Sul.

Em 2012 as exportações responderam por 2% do faturamento da Miolo, que somou R$ 128 milhões, e para este ano a meta é pelo menos dobrar esta participação, adianta Maciel.



Veículo: Valor Econômico


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