A nova regulamentação para fabricar cerveja no Brasil se encaminha para atender as demandas de produtores artesanais e rejeitar pedido dos grandes fabricantes - para aumentar o limite de cereais não maltados, como arroz e milho, na produção de cerveja.
O texto, que será encaminhado a consulta pública, foi fechado ontem na sede da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, em Brasília. Ficou acertada a inclusão de produtos de origem animal, como ovos, leite e mel, além de origem vegetal como frutas, sucos e flores no processo de elaboração da bebida. A demanda era feita por pequenos produtores.
A inclusão desses produtos foi aprovada no texto-base, assim como produtos de origem vegetal e sucos. Além disso, foi aprovado uso de corantes, aromas e envelhecimento da bebida na madeira.
Os grandes fabricantes não conseguiram emplacar sua principal demanda: o aumento de 45% para 50% na quantidade de cereais não maltados - como arroz e milho - usados na produção da cerveja. Arroz e milho são mais baratos que os maltados (como trigo e cevada). A intenção das empresas era reduzir os custos de produção para aumentar as margens, sem precisar reajustar os preços ao consumidor.
Fontes do ministério disseram que é "provável" que as empresas tentem modificar essa regra durante a consulta pública, já que mudanças podem ser feitas nos próximos meses.
Apesar do assunto ser importante para o setor, a reunião de ontem, realizada entre técnicos do Ministério da Agricultura e representantes de indústrias e pequenos fabricantes, atraiu pouca gente. O auditório, com capacidade para mais de 150 pessoas, contava com, no máximo, 30.
O coordenador-geral da Coordenação-Geral de Vinhos e Bebidas do Ministério da Agricultura, Álvaro Viana, disse que o texto irá a consulta pública e existe uma "pressão" dentro do ministério para que o assunto seja aprovado rapidamente.
"O próprio ministro pede para que o assunto seja tratado de maneira ágil para beneficiar o setor", disse Vianna.
Apesar da inclusão das regras gerais no texto, os detalhes do uso das novas técnicas devem "obedecer os respectivos regulamentos técnicos específicos".
Outra regra que vale hoje e deve ser proibida é a classificação das cervejas por cores, ingredientes e nomes. "Atualmente, os fabricantes usam nomes que não passam [informam] nada de relevante", disse o Coordenação-Geral de Vinhos e Bebidas, Marlos Vicenzi.
Contra a vontade de diversos representantes do setor, técnicos do Ministério da Agricultura afirmaram que irão retirar a "exceção de alerta" no rótulo para uso de corante caramelo. A substância é usada para padronizar as cores da cerveja e hoje não precisa ser informada no rótulo, caso seja usada.
Alguns produtores reclamaram, mas os funcionários do ministério afirmaram que "o direito de informação e escolha do consumidor" entre uma cerveja com ou sem corante deve ser respeitado.
Heineken usa limão para enfrentar recuo na Europa
Quando a estagnada economia europeia e consumidores exigentes "deram limões" para a Heineken, terceira maior cervejaria do mundo, a companhia decidiu misturá-los à cerveja.
A empresa lançou este ano em 23 mercados uma linha de bebidas "radler" (literalmente, ciclista, em referência a bebidas para esportistas), uma mistura de soda limonada e cerveja. E espera que a bebida, mais adocicada e menos alcoólica que a cerveja, conquiste o público feminino, bem como os jovens que preferem vinhos ou drinques.
As cervejarias intensificam esforços para encontrar alternativas a seu principal produto em meio a mudanças nas preferências do consumidor. A líder de mercado, Anheuser-Busch InBev, produziu uma variedade de sabor limão para a marca Bud Light, ao passo que a Heineken adicionou tequila à cerveja para criar a Desperados. A Heineken está reduzindo sua dependência em relação à sua marca de mesmo nome, após seis anos de encolhimento do mercado cervejeiro na Europa Ocidental, ao qual é mais exposta do que suas rivais.
"A cerveja está perdendo para outras bebidas", disse Ian Shackleton, analista da Nomura em Londres. "Pode-se dizer que as cervejarias não têm sido tão inovadoras. A questão é: como inovar em 'lager'? São todas muito parecidas".
"Radler" é a pedra angular da estratégia da Heineken para que 6% das vendas anuais venham de novos produtos. No ano passado, a empresa gerou 5,3% das receitas de bebidas lançadas recentemente, ou cerca de € 1 bilhão.
A trajetória da Heineken visando encontrar o próximo grande impacto no setor de cervejas fez a empresa retroceder quase um século. Inventada na Alemanha em 1922 para atender aos desportistas em busca de uma bebida a meio caminho entre cerveja e refrigerante, a "radler" ganhou popularidade em bares e restaurantes no país e na Europa central.
"A Heineken formalizou o que estava sendo preparado por um barman", disse Trevor Stirling, analista da Sanford C Bernstein, referindo-se a uma bebida que contém quantidades aproximadamente iguais de cerveja e refrigerante. "Os consumidores a adoram, de modo que não sei porque alguém não as serve prontas".
Novos produtos como Lime-A-Rita e Platinum, da Anheuser-Busch InBev, que ajudaram a aumentar a participação de mercado da Bud Light nos EUA, mostram que os consumidores estão ansiosos por uma nova abordagem à cerveja. A venda da Desperados, da Heineken, aumentou 15% em 2012, em comparação com 5,3% de crescimento para a marca Heineken.
A Heineken está lançando a "radler" em diversos países - do Reino Unido à República Democrática do Congo. Ela não está sozinha, pois a Carlsberg e a SABMiller também estão colocando bebidas de "limão com cerveja" no mercado.
Veículo: Valor Econômico